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ANTÁRTICA – A REDESCOBERTA

INTRODUÇÃO

  Na última Revista da Armada foi apresen‑
tado um artigo que procurou demonstrar que
os portugueses também tiveram a ver com a
descoberta da Antártica 1.

  Exactamente cem anos depois dos norue‑
gueses terem chegado ao Pólo Sul, importa
reflectir sobre o interesse da Antártica para os
portugueses.

O INTERESSE INICIAL                                   rar e mapear as regiões da Antártica. Tornou‑se  caça às focas. O Mar de Weddell, a leste da
                                                      o primeiro homem a circum-navegar aAntár‑        Península Antártica, foi nomeado em honra
  Em 1773, o capitão James Cook ao cir‑               tica depois de Cook.                             do navegador Inglês James Weddell, que pe‑
cum‑navegar o continente Antártico, sem o                                                              netrou profundamente na sua área gelada,
descobrir, tornou-se o primeiro homem a re‑              Um oficial da Marinha Real, Edward            enquanto navegava pelas Enderbys.
portar ter cruzado o Círculo Polar Antártico.         Bransfield, é creditado pelo Reino Unido
No seu diário de navegação descreveu o frio           como sendo o primeiro a avistar a Antártica.     DO INTERESSE À INVESTIGAÇÃO
paralisante, as fortes tempestades e gelo for‑        Ele viajou para sul na mesma altura em que
midável que encontrou por essas paragens.             Palmer e Bellingshausen se encontravam na          Até ao início do século XX a exploração da
Embora não tenha descoberto terra firme, tal          região. A sua missão, determinada pelo co‑       região era apenas costeira e realizava‑se só no
como aconteceu com os portugueses antes               mandante da Marinha Britânica no Chile, era      VerãoAntártico. O desafio que se passou a co‑
dele, acreditou que havia uma massa de ter‑           semelhante à do comandante Bellingshausen,       locar foi o de viver no continente e explorar o
ra no Pólo Sul. Viria a escrever que «se alguém       ou seja, efectuar um levantamento geográ­fico    seu interior.
tiver coragem e conseguir a sua descoberta, eu atre-  da região e, em especial, averiguar o avista‑
vo-me a declarar que o mundo não lhe vai conferir     mento de uma ilha reportado pelo capitão da        Em 1899, Carsten Borchgrevink, um explo‑
nenhuma vantagem por esse facto».                     marinha mercante William Smith. Bransfield       rador Norueguês, foi o primeiro a desembar‑
                                                      encontrou e nomeou a actual Península da         car sobre a grande Barreira de Gelo liderando
  Na verdade, em breve, na primeira meta‑             Antártica como Terra de Graham, em honra         uma expedição que passou o Inverno na re‑
de do século XIX, encontrar-se-ia um interes‑         de Sir James Graham, que era então o Primei‑     gião da Antártica.
se económico na região. Os grandes veleiros           ro Lorde do Almirantado. Posteriormente, o
de comércio com a China, que atravessavam             Conselho Internacional de Nomes Geográfi‑          Em breve o mundo viria a tomar conheci‑
o Cabo Horn, enfrentavam, com frequência,             cos alterou a designação desta terra para Pe‑    mento de uma corrida dramática, entre a No‑
ventos que os arrastavam para sul. Assim,             nínsula Antártica.                               ruega e o Reino Unido, em direcção ao inte‑
vários comandantes de navios reportaram te‑                                                            rior do continente, especificamente dirigida
rem avistado grandes blocos de gelo cobertos            Desde 1820 até ao final do século houve        ao Pólo Sul. O explorador Norueguês Roald
de focas. Como nessa época as focas do he‑            inúmeras outras expedições de aventureiros       Amundsen ficou famoso por ter ganho a cor‑
misfério norte já tinham sido praticamente ex‑        à procura de fama e, em especial, fortuna. As    rida e ter plantado a bandeira norueguesa
tintas, em pouco tempo se aprontaram frotas           Enderby Lands honram os irmãos Enderby,          no Pólo Sul em 14 de Dezembro de 1911. Ele
para as caçar na região da Antártica.                 que operavam uma empresa baleeira e de           conseguiu voltar para o seu navio, o Fram,

  Foi com o objectivo de caçar focas que, em
1820, o capitão norte-americano Nathaniel
B. Palmer, partiu, de novo, para as Ilhas She‑
tland do Sul. Numa das suas caçadas entrou
por um canal cheio de gelo, onde viria a vis‑
lumbrar, através das brumas, falésias escuras
de terra firme. Depois de uma boa captura na‑
vegou para norte até entrar numa área com
nevoeiro, onde viria a avistar dois navios-de‑
-guerra russos, a corveta Vostok e o navio de
apoio Mirny.

  O capitão Palmer convidou para bordo o co‑
mandante da força, o capitão-de-mar-e-guer‑
ra Fabian von Bellingshausen. O comandante
russo ficou surpreendido ao saber que o capi‑
tão Palmer, no seu navio relativamente peque‑
no, estava a operar naquela área há já quatro
meses. Palmer explicou que na região havia
mais de 30 navios americanos e 40 navios bri‑
tânicos envolvidos na caça de focas e que tinha
avistado o que ele acreditava ser o continente
Antártico. Bellingshausen ficou muito impres‑
sionado com o jovem capitão norte-americano
e viria a marcar na sua carta de navegação a
«Terra de Palmer», que se localiza na Península
Antártica. O futuro almirante Bellingshausen
tinha recebido instruções no sentido de explo‑
26 JANEIRO 2012 • REVISTA DA ARMADA
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