Page 29 - Revista da Armada
P. 29

década de 1990, com o Ano Polar Interna‑ larYear Oslo Science Conference, do Professor propostas de extensão das plataformas conti‑
cional 2007-2008 viu aumentar substancial‑ Doutor Gonçalo Vieira que recebeu o prémio nentais na continuidade das regiões reclama‑
mente o número de investigadores nacionais Nacional Seeds of Science, na categoria Ciên‑ das no sexto continente.
na região, em especial na área das ciências cias da Terra, do Mar e daAtmosfera, pelo seu Os países que já têm estações científicas na
da criosfera e das ciências biológicas. Desde trabalho de estudo da «Permafrost and Peri‑ Antártica e já são membros consultivos (28) do
então, todos os anos há entre 5 a 7 cientistas glacial Processes» e também pela coordenação tratadoespreitamasuaoportunidade(casodo
nacionais a realizarem trabalho de campo na da ciência portuguesa na Antártica durante o Brasil). Os países que não assinaram o Tratado
Antártica. Actualmente, estão identificados AnoPolarInternacional.Damesmaforma,em promovemaideiadequeasuagestãodeveser
11 centros de investigação nacionais a realizar 2011, foi anunciado que o investigador portu‑ feita pelas Nações Unidas como património
ciência nas regiões polares, envolvendo um guês José Xavier, do Instituto do Mar da Uni‑ comum da Humanidade.
total de cerca de 50 investigadores.             versidade de Coimbra e do British Antartic A verdade é que são os interesses que mo‑
Portugal não tem qualquer logística na re‑ Survey foi o grande vencedor do prestigiado vem os Estados e tal como aconteceu no pas‑
gião, beneficiando, até agora, da colaboração prémio «Martha T Muse» de 2011 para a Ci‑ sado, com a caça às focas e às baleias, também
com países com programas antárticos, como é ência e Política na Antártica. O prémio foi en‑ hoje já se vislumbram interesses económicos
o caso, por exemplo, da Argentina, do Brasil, tregue no final de Setembro de 2011, emAber‑ na região. Não será, assim, difícil imaginar
da Bulgária, do Chile, da Espanha, da Rússia, deen, durante a Conferência Mundial sobre muitas movimentações geopolíticas na região.
dos EUA e do Reino Unido.                        Biodiversidade Marinha.                           Os cientistas sabem que há petróleo, carvão,
Entre 30 de Janeiro e 11 de Março de 2009, a Na Marinha também temos oficiais interes‑ diamantes, urânio, ouro e prata sob o man‑
Marinha Portuguesa voltou a enviar um novo sados pela temática. Em Outubro de 2010, o to de neve que pode atingir 2 km. O que tem
oficial à Península Antártica. O convite foi fei‑ comandante Pedro Mata Gaspar apresentou protegido estes recursos tem sido, na verda‑
to pela Marinha do Uruguai e o                                                                                    de, a dificuldade que existe para
oficial escolhido foi a primeiro‑                                                                                 extrair e transportar os recursos
-tenente Guerreiro de Carva‑                                                                                      a um custo razoável, sem dani‑
lho, do Instituto Hidrográfico. A                                                                                 ficar o meio ambiente. Há mui‑
Campanha Antárctica 2008/2009                                                                                     tos outros recursos que também
do Uruguai consistiu em activi‑                                                                                   são cobiçados, nomeadamente
dades científicas no Continente                                                                                   os minúsculos peixes chamados
Branco e operações logísticas a                                                                                   krill que abundam na região e
bordo do navio General Artigas.                                                                                   alimentam, por exemplo, as ba‑
Em 9 de Julho de 2009, o Con‑                                                                                     leias. Como estes são de mais fá‑
selho de Ministros decidiu iniciar                                                                                cil acesso, recentemente, o Japão
o processo de ratificação do Tra‑                                                                                 já anunciou que ia reiniciar a caça
tado da Antártica. Em 9 de No‑                                                                                    à baleia no Antártico no final de
vembro de 2009, no Diário da Re‑      Bandeira Portuguesa içada na Base Antártica Espanhola Gabriel de Castilla,  2011, com um reforço de segu‑
pública é publicada a ratificação     ilha Deception.                                                             rança para conter os movimen‑

do Tratado daAntártica por parte de Portugal o seu livro sobre «As reivindicações territoriais tos dos activistas ambientalistas.
de acordo com a Resolução da Assembleia da na Antárctida».                                         No futuro próximo, é provável que aAntár‑
República e o Decreto do Presidente da Re‑ APrimeira CampanhaAntártica Portugue‑ tica permaneça muito como tem sido nos úl‑
pública. Em 29 de Janeiro de 2010, Portugal sa, organizada pela comunidade científica po‑ timos tempos - um laboratório exclusivo para
deposita o instrumento de ratificação do Tra‑ lar nacional, terá lugar neste Verão Antártico os cientistas e uma meta aventureira para os
tado da Antártica junto do Governo dos Esta‑ (final de Janeiro de 2012). A componente lo‑ turistas atraídos pela beleza, fauna e o mistério
dos Unidos da América, passando a ser parte gística consiste num voo de ida e volta, com da região. Com o aquecimento global é possí‑
do Tratado. A ratificação deu um impulso à 50 lugares, a partir do Chile (Punta Arenas) vel que a Antártica se torne habitada (para os
comunidade científica portuguesa que inves‑ até o aeródromo de Eduardo Frei (na ilha de menos crentes fica a informação de que já exis‑
tiga a região antártica.                         King George, nas Shetlands do Sul). Existe in‑ teumhotelchilenonaPenínsuladaAntártica).
Para ter influência no futuro da região e dos teresse em continuar estas campanhas por via Espero com este artigo ter contribuído para
seus recursos Portugal precisa de passar a ser marítima, porventura será uma oportunidade mostrarquetemosdeestaratentoseparticipar
membro consultivo. Para tal é necessário mos‑ para a Marinha.                                      nos destinos daAntártica. Como vimos, trata‑
trar um interesse científico perene na região,                                                     -se de um desafio muito semelhante ao da ex‑
através de bases científicas ou recorrendo a                                                       ploração do fundo do mar. Inclusivamente, até
estações móveis (navios). Por exemplo, a Es‑     O FUTURO DA ANTÁRTICA                             os principais actores são os mesmos e revelam

panha tem duas bases (laboratórios e estação Apesar do Tratado da Antártica, assinado posturas estratégicas semelhantes às que pro‑
meteorológica e de investigação) na região da em plena Guerra Fria, ser aparentemente de‑ movem em relação ao fundo do mar. Afinal é
Península da Antártica: a estação Juan Carlos mocrático e aberto, na verdade condicionou apenasumaquestãodeestadodaágua(sólido
I, na ilha Livingston, e a estação Gabriel de o acesso e a partilha do continente em função ou líquido). O que aprendermos na Antártica
Castilla, na ilha Deception. A estação Gabriel do desenvolvimento de pesquisas perenes na podemos aplicar na plataforma continental, e
de Castilla tem uma guarnição de quarenta e região, excluindo assim as nações tecnologi‑ vice-versa. Queremos ou não ter poder de de‑
cinco elementos, dos quais 15 são militares. O camente mais atrasadas. A evolução desde os cisão sobre os últimos espaços físicos na Terra
apoio logístico é assegurado, desde 1991, pelo anos sessenta até aos anos noventa permitiu a que ainda ainda não estão divididos («Área»
Navio de Investigação Oceanográfica Hespéri- assinatura do Protocolo de Madrid, em 1998, e Antártica)?
des apoiado pelo Las Palmas, ambos da Arma‑ amarrandoaacçãodospaísespresentesnaAn‑                                                 

da espanhola. As experiências que aí se rea­ tártica ao âmbito científico, definindo regras                       Armando J. Dias Correia
lizam não têm apenas a ver com a avaliação para a acção do homem na região.                                                        CFR

das condições e recursos locais mas também O continente branco é hoje uma região onde                             Notas
com o desenvolvimento de novas tecnologias       a paz tem sido eficazmente preservada. No fu‑                               1 O continente gelado do Sul,
que são aí testadas.                             turo não se sabe o que vai acontecer. Por certo,                            a Antártica, foi baptizado como
                                                 os países que reivindicam direitos de sobera‑     “oposto ao Ártico” (anti + ártico) ou antarktikos. O nome
  Os cientistas nacionais estão a ter muito su‑  nia vão continuar a exercitá-los. Prova disso     Ártico vem do Grego ‘arktos’ - urso, não por causa dos
cesso e a receber muitos prémios. Foi o caso,                                                      ursos do Pólo Norte, mas sim por causa da Ursa Maior,
em Julho de 2010, durante o International Po‑ mesmo é a apresentação às Nações Unidas de a constelação do Norte.

                                                                                                   REVISTA DA ARMADA • JANEIRO 2012 29
   24   25   26   27   28   29   30   31   32   33   34