Page 4 - Revista da Armada
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PONTO AO MEIO DIA

 O ENSINO E A FORMAÇÃO

AJUSTAR À EVOLUÇÃO EXTERNA MANTENDO A QUALIDADE DO SISTEMA

Há seis anos atrás, neste mesmo espa-            ma a partir de 2008 e em 2009 a escolaridade        da como linha de acção estratégica para edificar
          ço da Revista, e a propósito do tema   obrigatória foi estendida para o 12º ano (ensino    uma Marinha equilibrada, em especial ao nível
          em epígrafe, dizia-se que a acredita-  secundário) e os 18 anos de idade;                  da liderança, da formação académica dos qua-
ção1 do Sistema de Formação Profissional da                                                          dros superiores e da qualificação e certificação
Marinha (SFPM), conseguida em 2006, tinha         ► o Centro Naval de Ensino a Distância             técnico-profissional, promovendo um ensino de
sido o corolário de um percurso iniciado em      (CNED) cessou as suas actividades em Julho do       qualidade e reforçando a individualidade dos
2004, do qual se relevavam a criação do Ob-      ano passado, tendo os seus recursos materiais       órgãos de base com essa missão, para dispor de
servatório da Qualidade da Formação (OQF)        sido distribuídos ou afectados a outras unidades    quadros mais bem preparados, elevar os níveis
da Direcção do Serviço de Formação (DSF) e a     orgânicas e os recursos humanos e informacio-       de motivação e influenciar positivamente o re-
promulgação do Manual da Qualidade da For-       nais, nos quais residem os activos intangíveis,     crutamento e a retenção.
mação, peças indispensáveis à reorganização e    sido definitivamente dissipados, com perda to-
à nova forma de funcionamento das Escolas e      tal da capacidade então existente de educação        A visão para o ensino e formação que resul-
Centros de Formação (ECF) da Marinha que se      e formação de adultos, tanto ao nível do ensino     ta deste desiderato é a de que o Sistema de
pretendia implementar, através da execução de    recorrente básico e secundário, como ao nível       Formação da Marinha se constitua como
um plano com vista ao cumprimento integral       do Reconhecimento, Validação e Certificação         elemento determinante e indispensável
do respectivo referencial. Todo o desiderato     de Competências (RVCC)3;                            para desenvolver continuamente militares
decorrente deste processo de mudança está                                                            e marinheiros mais aptos e competentes.
descrito nesse “Ponto ao Meio Dia” de Janeiro     ► o ensino e a formação nas Forças Arma-           Ao nível do SFPM, tal visão tem tradução na
de 2007 (RA404), podendo-se dizer ter sido en-   das inserem-se num dos sectores sobre o qual        capacidade deste sistema para, no âmbito das
tretanto atingido um nível quase pleno de cum-   estão focadas intenções reformistas, externas,      especificidades militares marítimas e navais,
primento desse referencial, fruto de uma acção   de contornos alegadamente racionalizadores,         formar e qualificar, com maior qualidade e
concertada de todas as partes envolvidas, sob o  com expressão conhecida ao nível do ensino          de forma mais eficiente, os recursos humanos
olhar vigilante dos responsáveis pela monitori-  secundário e esperada ao nível do ensino su-        que contribuem directamente para a essência
zação e pela avaliação do SFPM e com o apoio     perior, que vão afectar carreiras e os existentes   da missão da Marinha.
institucional da estrutura superior da Marinha.  equilíbrios estatutários;
 O Sistema está consolidado, a acreditação da                                                         Os objectivos estratégicos que decorrem des-
Marinha como entidade formadora, através da       ► os recursos humanos e financeiros colo-          ta visão podem ser sintetizados em três asser-
DSF e das ECF, mantém-se em vigor ao abrigo      cados à disposição da Marinha seguem, em            ções, envolvendo os paradigmas operacional,
de nova legislação, depois de revalidada em      termos reais, uma lógica de contracção, cuja        estrutural e genético da acção da Marinha:
2009, os instrumentos internos que o supor-      tendência depende em grande medida dos re-
tam foram sendo ajustados e aperfeiçoados e      sultados do programa de assistência financeira       ► concentrar a actividade de ensino e for-
os resultados estão à vista, materializados num  a que o Portugal está presentemente sujeito.        mação nas áreas do conhecimento científico
vasto acervo de competências que têm vindo a                                                         e tecnológico de pendor marítimo e naval
ser conferidas aos nossos sargentos e praças e,   Em segundo lugar, alguns factores:                 que suportam a acção militar e não militar da
em certa medida aos oficiais, e que se revelam    ► o discernimento para reconhecer a impor-         Marinha;
na qualidade militar, naval e técnica do servi-  tância do ensino e formação4 no desempenho
ço prestado a bordo das unidades navais e em     futuro da Marinha;                                   ► desenvolver metodologias de ensino e
terra. O SFPM é parte integrante do Sistema       ►a lucidez para identificar e apostar nas espe-    formação a distância de base tecnológica, in-
de Gestão de Recursos Humanos da Marinha         cificidades militares marítimas e navais ao nível   formacional e comunicacional, que permitam
(SGRHM), dando um contributo relevante para      do ensino e formação;                               fomentar a aprendizagem por iniciativa pró-
a certificação2 deste último segundo a norma      ► a experiência e a sensatez para resistir à       pria e criar mecanismos de gestão de recursos
NP4427:2004, no âmbito do qual também é          tentação de, em ambiente de grande incerteza,       humanos que incentivem tal atitude; e ajustar
regularmente auditado para efeitos de renova-    promover a desregulação do SFPM e outras            o nível de integração das Escolas e Centros de
ção do correspondente certificado.               mudanças abruptas no ensino e formação.             Formação (ECF) da Marinha, tornando mais
 Feita esta pequena incursão ao passado e         Se quanto aos factos, por natureza indesmen-       alargado e abrangente o apoio técnico educa-
identificados os traços evolutivos que condu-    tíveis, pouco haverá a dizer, a não ser constatar   tivo e eliminando excessos de natureza buro-
ziram ao presente, importa, ainda antes de       ou antever as suas consequências, quanto aos        crática associados ao sistema;
apresentar uma visão e um par de objectivos      factores existe a possibilidade de os influenciar,
estratégicos, fazer uma primeira leitura dos     preferentemente através da razão, tendo em           ►garantir a qualificação técnica e certificação
factos e dos factores que podem condicionar      vista alcançar um estado futuro de nível supe-      dos formadores e os recursos materiais (réplicas
o ambiente, a organização e o funcionamento      rior ao actual. É nesta medida que interessa ter    e simuladores) que minimizem as necessidades
do ensino e formação na Marinha nos próxi-       uma visão do que se pretende que o ensino e a       de formação em contexto de trabalho.
mos anos. Em primeiro lugar os factos:           formação na Marinha venham a ser no médio
 ► o referencial do Sistema Nacional de Qua-     e longo prazo. Para tal não poderá perder-se de      Concluída esta parte mais formal, balizada
lificações (SNQ) entrou em processo de refor-    vista o sentido, nem das duas últimas Directivas    pelo enquadramento doutrinal e pelas orienta-
                                                 de Política Naval (DPN), nem das Directivas Sec-    ções em vigor, importa descodificar um pouco
                                                 toriais de Recursos Humanos (DSRH) que delas        esta prédica para que não soe a pura retórica,
                                                 emanaram. Assim, a valorização permanente           identificando as problemáticas reais, os cons-
                                                 dos recursos humanos tem vindo a ser identifica-    trangimentos internos e externos e as possíveis
                                                                                                     oportunidades em tempo e ambiente de gran-
                                                                                                     de incerteza.

4 FEVEREIRO 2013 • REVISTA DA ARMADA
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