Page 5 - Revista da Armada
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No plano da missão da Marinha, importa di- percursos formativos10 e de competências pro- e aperfeiçoado ao longo da última década, que
reccionar o ensino e a formação para as áreas fissionais que suportem, em primeiro lugar, as contribuiu decisivamente para gerar quadros
do conhecimento que, sem esquecer especifi- especificidades marítimas e navais da Marinha. mais bem preparados, para elevar os níveis de
cidades militares, suportam decisivamente as Esta matéria requer naturalmente uma articula- motivação e para influenciar positivamente o
especificidades marítimas e navais. As áreas ção muito estreita com a orientação de carreiras recrutamento e a retenção, e que deve ser pre-
da oceanologia e da hidrografia, da navega- e com as políticas de ingresso, seja no regime servado em toda a sua extensão. Tal constatação
ção e das engenharias e tecnologias navais, de contrato, seja para quadros permanentes. não impede a percepção de que a evolução do
são das mais relevantes a ter em conta, pois ambiente, sobretudo externo, que tem vindo a
constituem a base que sustenta o desígnio da Interessa também assinalar que a garantia da ocorrer nos últimos três anos, exige ajustamentos
Marinha de “contribuir para o uso do mar”. A qualidade inerente a sistemas certificados, como ao nível das modalidades de ensino, da formu-
par destas áreas, perfilam-se outras de idêntica é o caso do SFPM, se faz através de dispositivos lação dos cursos de formação inicial e da ava-
importância, de cariz combatente, ligadas ao informacionalmente densos e muito consumi- liação da qualidade da formação, que tornem o
armamento, aos sensores, às informações e às dores de recursos humanos especializados. As sistema mais robusto, eficiente e eficaz.
operações de pendor naval. Esta realidade tem apreciações algo frequentes de que o sistema é
expressão na Marinha através da identificação “pesado” têm os seus fundamentos e são legíti- R. Rapaz Lérias
das Áreas de Formação Estratégicas (AFE), mas, provindo normalmente daqueles que têm CMG ECN
constantes nalguns normativos internos, cuja funções de execução da formação propriamen-
definição parece requerer revisão à luz dos te dita. Contudo, a base informacional do siste- Notas
factos que enformam o ambiente externo e ma e o exercício da função controlo (avaliação 1Reconhecimento formal por um Organismo de
dos factores que o podem condicionar. e realimentação) são elementos insubstituíveis Acreditação da competência técnica de um agente ou
do processo de garantia da qualidade de siste- organização para exercer uma determinada actividade.
No plano estrutural há vantagem em lembrar, mas que funcionam num ambiente de grande 2Reconhecimento formal por um Organismo de Certifi-
antes de mais, que o Sistema de Formação da mobilidade dos recursos humanos, como é o cação de que uma organização dispõe de um sistema de
Marinha, que engloba naturalmente vários ní- caso. Mas há muitos aspectos do sistema que gestão implementado que cumpre as normas aplicáveis.
veis e várias naturezas de ensino e formação5, podem ser aperfeiçoados, seja através da infor- 3Processo mais conhecido pela modalidade das “No-
apenas encontra esteio de acção coordena- matização de processos repetitivos de recolha e vas Oportunidades”.
dora competente ao nível do Almirante Chefe tratamento de dados, seja através da afectação 4Ensino e formação, entendido como um conjunto de
do Estado-Maior da Armada (CEMA), em cuja de especialistas11 às equipas de avaliação exter- actividades que se destinam a conferir saberes, indepen-
dependência se encontram a Escola Naval (EN) na e de inspecção, para citar apenas dois deles. dentemente da natureza, competências e técnicas e a
e a Superintendência dos Serviços do Pessoal Haverá que ter sempre presente que a certifi- modelar comportamentos e atitudes.
(SSP). Embora o Almirante CEMA disponha de cação e a inerente qualidade do SFPM não 5Níveis secundário e superior e naturezas científica e
um órgão de conselho, designado por Conselho garantem, por si só, a qualidade da formação técnica.
Coordenador do Ensino e da Formação (CCEF) prestada. O que a qualidade do sistema asse- 6Está na dependência do comandante da EN.
da Marinha, presidido pelo Vice-almirante SSP, gura é que a informação que lhe é introduzida 7A reforma eliminou o nível 3 de qualificação e
e no qual têm assento os directores da Marinha chega aos formandos sem perda de qualidade e passou a concentrar no Catálogo Nacional de Quali-
ligados ao ensino e formação, bem como o co- que se transforma em conhecimento adquirido ficações (CNQ) todos os cursos conducentes ao nível
mandante da EN, o tempo tem mostrado quão por estes. O que interessa igualmente assegurar 2 (associado ao 3º ciclo do ensino básico), ao nível 4
difícil se torna harmonizar e coordenar iniciati- é que o objecto da formação tem utilidade e (associado ao ensino secundário) e ao nível 5 de qua-
vas de âmbito transversal que interessam tanto desenvolve as competências visadas. lificação (Cursos de Especialização Tecnológica [CET]
no plano do ensino superior como no plano da – ensino pós-secundário).
formação profissional dos militares da Marinha. Por fim, é no plano genético que se focaliza 8Das escolas e centros de formação da Marinha, ape-
Articular, neste âmbito, a actividade do Centro aquela que, por muitos, é considerada a me- nas a Escola da Autoridade Marítima se mantém fora do
de Investigação Naval (CINAV)6, a acção for- lhor aposta a fazer em períodos de grande in- Sistema, não se lhe aplicando nem o normativo nem
mativa do Instituto Hidrográfico (IH) e o planea- certeza – flexibilizar o ensino e a formação no os procedimentos de garantia da qualidade inerentes à
mento das acções de formação fora da Marinha espaço e no tempo, permitindo que os forman- certificação do ensino e da formação.
em território nacional ou no estrangeiro, é um dos possam fazer a sua aprendizagem mais de 9A Marinha obteve recentemente a confirmação da
desígnio que exige célere determinação. acordo com as suas conveniências, usando autorização de funcionamento na ETNA do Curso de
parte do seu tempo de lazer e longe do am- Formação Pedagógica Inicial de Formadores por parte
No plano operacional do ensino e da forma- biente do serviço. As modalidades de ensino do Instituto do Emprego e Formação Profissional (antigo
ção, há que analisar com atenção as implica- a distância12 de base electrónica (e-learning, curso de formação de formadores), o que lhe permite
ções resultantes do aumento da escolaridade b-learning e m-learning), devidamente adap- conferir, autonomamente, os Certificados de Competên-
mínima para o 12º ano, realidade aplicável já tadas às realidades da Marinha13, requerem, cia Pedagógica (CCP) que vieram substituir os anteriores
em 2014. Por outro lado, importa sublinhar que nesta medida, redobrada atenção, tendo em Certificados de Aptidão Pedagógica (CAP).
a reforma do Sistema Nacional de Qualifica- vista criar nas ECF as competências para gerar 10Os percursos formativos do CNQ assentam em Uni-
ções7, iniciada em 2008, veio retirar valor for- e ministrar e-conteúdos, bem como os meios dades de Formação de Curta Duração (UFCD) de 25
mal à quase totalidade dos cursos de formação materiais que permitam suportar de forma sus- ou de 50 horas, existindo um número significativo de
inicial de sargentos e praças, revogando o nível tentada, eficaz e eficiente esse tipo de ensino. UFCD, chamadas de base ou transversais, comuns a vá-
de qualificação profissional que anteriormente Para além dos ganhos de eficiência ao nível rios percursos formativos, sendo, por isso, capitalizáveis.
conferiam. Neste contexto, e sem perder de vis- da formação dita institucional14, a edificação 11Entenda-se especialista no domínio do objecto da
ta todas as vantagens decorrentes da Marinha desta capacidade terá de ser acompanhada de formação e não no domínio das tecnologias de educa-
continuar a ter um conjunto de ECF8 acredita- mudanças no modo como a Marinha gere, em ção, que já são uma constante nessas equipas.
das e um SFPM certificado a nível nacional9, termos de carreiras e de colocação, os recur- 12O manual de qualidade do SFPM (MESUP 1(A)), re-
urge adaptar a formação inicial de sargentos e sos humanos que, por iniciativa própria e sem centemente alterado, já contempla esta modalidade no
de praças a estas novas realidades, estipulando prejuízo para o serviço, se valorizem através âmbito da abordagem sistémica da formação.
condições de acesso e níveis de qualificação a deste tipo de formação e qualificação. 13A Marinha, através da ETNA e, anteriormente, do
conferir, conjugando a adesão progressiva ao CNED, desenvolve algumas iniciativas piloto nesta mo-
Catálogo Nacional de Qualificações (CNQ) Em resumo, a Marinha está acreditada na área dalidade do ensino-aprendizagem, ao nível das acções
com a concentração no desenvolvimento de do ensino e formação e usufrui hoje de um siste- de formação de muito curta duração, sobretudo na área
ma de formação profissional certificado, criado das TIC.
14Aquela para que os formandos são nomeados por
imperativo da organização.
N.R.
O autor não adota o novo acordo ortográfico.
REVISTA DA ARMADA • FEVEREIRO 2013 5