Page 6 - Revista da Armada

SNMG2

NRP TRIDENTE AO SERVIÇO DE PORTUGAL
Pouco mais de três anos após o seu aumento
ao efetivo na Marinha Portuguesa, o subma- este tipo de missões, o que era imperioso. teresse para a Operação ACTIVE ENDEAVOUR e
rino Tridente partiu da Base Naval de Lisboa Os primeiros dias foram de alguma azáfama, Comando da Força Naval Permanente da Aliança
Atlântica, tanto no ambiente marítimo como em
mas desengane-se quem pense que era no Triden-
para o cumprimento de mais uma missão, desta te! Azáfama na estrutura do COMSUBNATO para pontos de interesse em terra.
vez a sua primeira integração numa força perma- receber, compilar e dar seguimento ao volume de No âmbito desta operação o submarino Tridente
nente da NATO. informação que, na sua patrulha silenciosa, o Tri- conduziu operações no Mediterrâneo Ocidental
Com a missão bem estudada, guarnição trei- dente ia enviando em reports constantes. Os pou- onde, efetuando patrulha discreta de vigilância para
nada e pronta, o NRP Tridente largou silenciosa- cos céticos estavam convencidos e a guarnição controlo do tráfego marítimo, permitiu às instâncias
mente, ao serviço de Portugal, no passado dia 5 entusiasmada. Cumprindo bordada após bordada de controlo operacional da Aliança o permanente
de setembro de forma a integrar o Standing NATO com um brilho nos olhos, sempre em busca de conhecimento do cenário e a caracterização dos
Maritime Group 2 (SNMG2), participando na mais e mais informação… Informação de tudo o padrões de comportamento na área de ação de
Operação ACTIVE ENDEAVOUR sob o controlo que se movia à nossa volta, onde eram classifica- interesse dos países da NATO, onde se focou na
operacional do COMSUBNATO1. dos e verificados visualmente todos os contactos, deteção de navios com comportamentos suspeitos,
A Operação ACTIVE ENDEAVOUR é uma de forma a apurar se haveria algum relacionado seguimento de navios mercantes classificados
operação da NATO no Mar Mediterrâneo – a com atividades ilícitas. como de interesse ligados a atividades ilícitas,
única ao abrigo do artigo 5º do Tratado do deteção de pequenas embarcações ligadas ao
Atlântico Norte – centrada na campanha inter- tráfico de droga e imigração ilegal, deteção de
nacional de combate contra o terrorismo e que navios de guerra de países não-NATO, bem
tem como objetivo a condução de operações como recolha de informação operacional rele-
navais e aéreas, no Mediterrâneo, incidindo na vante na área de operações.
dissuasão, defesa e proteção contra atividades
O Tridente tornava-se assim num elemento
associadas ao terrorismo. chave para a valorização da ação da patrulha, já
Após análise dos procedimentos e feitos alcan- que só a partir de um elemento dissimulado no
çados no ano anterior pelo submarino Arpão, o ambiente é possível atuar nele sem o influenciar.
Tridente procurava elevar a fasquia e colocar a Assim, mais uma vez está testemunhada uma das
arma submarina portuguesa no centro das aten- mais-valias da arma submarina… a possibilida-
ções da NATO. “Ser relevantes” foi o mote e de de efetuar vigilância, recolher e gravar dados,
lema passado à guarnição pelo Comandante do relatando-os para os comandos superiores, sem
navio, CTEN Amaral Henriques. que os visados tenham sequer a ideia que está
Após semanas de intensa preparação para a um meio naval a operar e a recolher informação
nas suas áreas de interesse.
missão, que se misturou com as férias de verão, Terminada que estava a primeira parte da
todos os militares e unidades de apoio tiveram de
“correr” para poderem ter a “sua parte” pronta. missão, a integração na SNMG2, a guarnição,
Alguma ansiedade pairava na guarnição, exausta, estudava com afinco a próxima tarefa
em particular nos elementos mais modernos, a cumprir. A cidade de Cartagena, em festa, es-
para os quais esta seria a sua primeira missão perava o Tridente como que para o saudar pelos
real ao serviço da Arma Submarina, ansiedade resultados obtidos. Coincidentemente, decor-
acentuada pelas tensões vividas nos países do riam as festas anuais da cidade, onde se come-
Norte de África com as muito faladas “prima- moravam os 2.222 anos da Batalha entre carta-
veras árabes”. Mas esta ansiedade foi sempre gineses e romanos. Nada como a comemoração
enquadrada pelos camaradas mais antigos e de uma batalha épica para receber os guerreiros
experientes que despistavam os sentimentos de lusitanos que regressavam do mar.
alguma expectativa com histórias das suas faça- Ainda antes de atracarmos, a guarnição rego-
nhas nos submarinos da classe Albacora, sobre Trinta e quatro homens, aos comandos de uma zijava-se com os primeiros reconhecimentos dos
a participação na Operação SHARP GUARD (no nossos comandos NATO, onde se podiam ler frases
embargo à antiga Jugoslávia no Mar Adriático) e excelente plataforma com um conjunto de senso- do COMSUBNATO como “…your crews ability
do disparo do torpedo para afundamento do N/M res avançados e poderosos, exploravam o navio ao to provide superior intelligence for OAE.” Ou “you
Bandim, que era um perigo à navegação por estar limite das capacidades. Ora procurando avidamen- not only increased MARCOMS operational aware-
a flutuar em meias águas. Foram também abor- te contactos suspeitos e padrões de tráfego na zona, ness today but for future missions to come” ou do
dadas as várias passagens em imersão no Estreito ora efetuando treino próprio na área operacional e HQ MARCOM “Tridente’s recent operations …
de Gibraltar, conhecidas pela sua especificidade, na área de limitação e reação a avarias, pois o ades- were a model to be emulated by future operators”.
cujo último resistente, o saudoso Barracuda, atra- tramento da guarnição para os exigentes padrões O sentimento de dever cumprido, enaltecido pelas
vessara pela derradeira vez na sua última nave- de segurança que garantam a segurança máxima é cativantes mensagens de apreço recebidas dos mais
gação em 2009 e que permitiu a consolidação e sempre essencial quer seja numa missão real quer altos responsáveis operacionais da missão, veio de-
transferência de toda a experiência acumulada ao seja numa qualquer outra navegação. Quando um monstrar o reconhecimento do mote dado pelo
longo de décadas às novas gerações, permitindo submarino entra em imersão nunca é exercício. Comandante do navio – “Ser relevantes”. O brilho
que o Tridente já o tivesse passado por 4 vezes na E, após mais de 300 horas de patrulha à cota pe- nos olhos dos 34 militares submarinistas embarca-
sua curta vida, antes de partir para esta missão. riscópica, cerca de 1300 milhas percorridas, a lista dos era o bastante para perceber a alegria de quem,
O trânsito para a área de operações pautou-se de relatos efetuados amontoava-se. Mais de 1400 ao longo de 12 dias, trocara o Sol e atmosfera de
pelatranquilidadeeaindanãotocaraodespertador, contactos identificados, muitos deles reveladores verão que ficara em Lisboa, por 12 horas diárias de
que dava início à patrulha, e o Tridente já detetava e dos padrões de comportamento da área, um dos trabalho, onde o dia e a noite eram marcados pelo
relatava contactos de interesse. Mais uma vez, pro- objetivos principais da missão. Foram igualmente obstinado acender e apagar de luzes que nos força-
curava a excelência e responder ao comandante relatados todos os comportamentos suspeitos de- vam a iludir o corpo e a mente de que aquelas luzes
no sentido de colocar o navio como referência para tetados assim como os contactos de particular in- artificiaissubstituíamoSolqueteimavaemcontinu-

6 NOVEMBRO 2013 • REVISTA DA ARMADA