Page 7 - Revista da Armada
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ar a percorrer o seu eterno ciclo entre nascimento    preparação em termos de cálculo das condições          parativos para a honrosa receção ao Chefe do
e ocaso. Por nós, apenas visível pelas binoculares    ideais, incluindo tempos, cotas e velocidades de       Estado-Maior-General das Forças Armadas, Gene-
do periscópio e pelo ecrã apelidado de “janela para   passagem, tendo em conta as profundidades das di-      ral PILAV Luís Araújo. A guarnição estava entusias-
o mundo”, pelo espaço reduzido e falta de priva-      versas camadas de água, com densidades diferen-        mada. A presença do General CEMGFA compro-
cidade, característica de quem dedica a sua vida      tes, que causam correntes de intensidade superior,     vava não só o reconhecimento da competência
profissional à Arma Submarina, aquela que garante     que se não forem corretamente calculadas podem         demonstrada pelo navio, mas também o interesse
a terceira dimensão do território nacional.           duplicar o tempo de passagem, e com isso todas         do mais alto nível do Comando Militar Nacional
                                                      as complicações inerentes à redução da autonomia       em conhecer o navio e guarnição que estiveram
 Mas como há séculos atrás se ouvia “terra à vista”,  da bateria do submarino e controlo da qualidade        integrados numa força NATO, em patrulha.
na manhã de 23 de setembro voltávamos a avistar       do ar ambiente. O encontro das águas atlânticas
costa amiga e a expetativa de uns dias de descan-     com as mediterrânicas, apesar de uma superficial        Aperaltado o navio e orgulhosa a guarnição,
so exortavam a guarnição para mais uma faina de       calma, encerram complexas e revoltas camadas su-       embarcava pontualmente ao largo de Portimão a
atracação rigorosa e sem surpresas.                   baquáticas, que com diferentes camadas e sentidos,     bordo do submarino Tridente, o General CEMGFA
                                                      resultam numa camada de turbulência que pode           acompanhado pelo Comandante Naval, VALM
 Cartagena em festa recebeu-nos de braços aber-       “atirar” o navio para o meio da intensa navegação      Monteiro Montenegro. O momento era curto e o
tos. O oficial de ligação, oficial submarinista es-   à superfície ou para os perigosos montes submari-      programa exigente, pelo que não existiram mo-
panhol que já anteriormente navegara na classe        nos que estrangulam as profundezas do Estreito. O      mentos calmos. Num par de horas procurou dar-se
Tridente, que prontamente se voluntariou para         rigoroso conhecimento da posição do navio, utili-      uma imagem rigorosa das capacidades do subma-
receber os camaradas submarinistas portugueses,       zando os complexos métodos da navegação iner-          rino exploradas à exaustão pela sua guarnição que,
complementou toda a componente logística pre-         cial e da navegação por sondas, assim como o total     procurando cumprir o lema dado pelo Coman-
parada e passava as primeiras impressões do que       e completo controlo da plataforma, faz com que a       dante, se esforçava por tornar uma vez mais rele-
seria a estadia em Cartagena.                         passagem do Estreito em imersão seja um esforço
                                                      conjunto e coordenado da vertente operacional e          vante a sua participação na missão que findava,
 As excelentes relações que caracterizam as           técnica do navio.                                        demonstrando a capacidade, conhecimentos e
duas Armas Submarinas, Espanhola e Portugue-                                                                   vontade para desempenhar missões futuras.
sa, cimentadas pelos vastos anos de cooperação         As águas mediterrânicas ficavam no passado de-
desde o início de operação dos submarinos da          pois de se ter atravessado o Estreito em imersão pro-      E foi efetivamente relevante a presença do Ge-
classe Albacora nos meados dos anos 60 do             funda, e sem demora novamente se preparavam os           neral CEMGFA no Tridente porque horas após o
século passado, foram mais uma vez estendi-           exercícios de interação com a Marinha Espanhola,         final da visita, ainda se trocavam palavras e ideias
das e reavivadas nos cumprimentos prestados           onde participaram as fragatas ESPS Santa Maria,          dos momentos vividos a bordo e particularmen-
pelo Comandante Amaral Henriques ao VALM              ESPS Canarias e uma aeronave de patrulha maríti-         te das palavras proferidas à guarnição, as quais
Zumalacárregui, Comandante da Base Naval              ma – P3M. Marcados pela excelente oportunidade           demonstraram grande apreço pelos resultados
de Cartagena e pelo Capitan-de-navio Sierra           de treino conjunto entre marinhas amigas, as sé-         obtidos no decorrer da participação na Opera-
Mendez, COMSUBMAR2 e Comandante da                    ries ficaram marcadas pela azáfama de terem sido         ção ACTIVE ENDEAVOUR e pela especificida-
Esquadrilha de submarinos da Armada Espa-             realizadas com intenso tráfego de navegação mer-         de da condição de submarinista. Foi sem dúvida
nhola. Ambos reforçaram a importância das             cante, onde, apesar das dificuldades, foi mais uma       uma honra inesquecível que ficará nas memó-
relações bilaterais que sempre existiram entre        excelente oportunidade de treino para a guarnição,       rias desta missão e da guarnição, especialmente
a comunidade submarinista ibérica. De forma           conjugando a componente operacional com a de             quando o General CEMGFA concebeu a honra
a dar continuidade às convicções expressadas          segurança e classificação de alvos.                      de colocar o distintivo do submarino no peito,
pelas entidades oficiais foi dada a bordo do Tri-                                                              tornando-se assim em mais um valioso elemento
dente uma receção à comunidade submarinista            Trocadas as impressões pós-exercício, o saldo foi       da comunidade submarinista portuguesa.
espanhola onde foi demonstrado aos nuestros           assegurado como positivo por todos os intervenientes.
hermanos a característica Nacional de bem re-                                                                    Mesmo depois de 29 dias de uma missão
ceber, em qualquer parte do Mundo, na qual             Já a caminho de Portimão, ultimavam-se os pre-          cheia de atividade, faltava ainda a participação
maravilhados pelas qualidades técnicas e capa-                                                                 no Exercício SEA BORDER no âmbito da inicia-
cidades operacionais do nosso navio, estavam                                                                   tiva (cooperação de segurança) 5+5, e que se
também comprazidos ao degustarem as iguarias                                                                   realizou ao largo do Algarve. Aqui foram testadas
preparadas pela equipa da taifa de bordo. Um                                                                   e melhoradas as formas de colaboração e coor-
momento sem dúvida memorável de convívio                                                                       denação entre unidades militares aeronavais dos
entre irmãos do submundo marinho.                                                                              países participantes, Portugal, Espanha e Tunísia.

 E se outrora os Romanos perderam a batalha                                                                      Após a última tarefa desta grande missão, ape-
contra Cartagineses, mais de 2000 anos depois,                                                                 nas algumas horas separavam os militares do
os Portugueses equilibraram a “batalha” com uma                                                                Tridente de suas casas. Sem cessar na atenção,
conquista pacífica das gentes locais… na largada                                                             pairava no ar o sentimento de regresso. As famílias
do Tridente, algumas lágrimas ficaram no porto,                                                              ainda desconheciam o sucesso da missão, mas essa
mas após o merecido descanso estava em boa                                                                   é mais uma condição do submarinista onde o silên-
hora de nova travessia do Estreito de Gibraltar a                                                            cio e a distância são mais umas das contingências
caminho de Lisboa.                                                                                           inerentes e bem conhecidas por quem abraçou a
                                                                                                             missão de servir a Marinha e o País numa arma cuja
 Na viagem de regresso a Portugal embarcou um                                                                discrição a torna tão temível e respeitada.
oficial submarinista espanhol, em virtude da Mari-                                                            A expressão “Silenciosamente ao serviço de Por-
nha Espanhola estar no processo de aquisição dos                                                             tugal” carrega com ela muito do que é ser subma-
novos submarinos da classe S80. O embarque teve                                                              rinista e de como este sente a sua missão… com
como objetivo a passagem de informação, não                                                                  “zelo, aptidão e honradez”.
sensível, relativa às capacidades que um submari-
no moderno apresenta, reforçando a cooperação e                                                                           Colaboração do COMANDO DO
amizade que une há várias décadas as duas Mari-                                                                                              NRP TRIDENTE
nhas e as duas Esquadrilhas de Submarinos ibéricas.
                                                                                                             Notas:
 A passagem do Estreito de Gibraltar em imersão                                                              1COMSUBNATO – Comando Operacional de subma-
é um momento de particular solenidade no seio da                                                             rinos NATO, no Atlântico, Mar Mediterrâneo e Índico.
comunidade submarinista. Não só pelo simbolismo                                                              2 COMSUBMAR – Comando Operacional de subma-
que lhe está associado, mas principal e maioritaria-                                                         rinos espanhol.
mente pela sua grande complexidade técnica de
execução. A passagem do Estreito carece de uma                                                                 REVISTA DA ARMADA • NOVEMBRO 2013 7
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