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REVISTA DA ARMADA | 481
Discurso do Chefe do As presentes dificuldades financeiras têm tido
Estado-Maior da Armada impacto não só na qualidade das nossas vidas
enquanto cidadãos portugueses que somos,
Foto 1SAR FZ Horta Pereira mas também na qualidade dos resultados da
nossa ação profissional que pretendemos de ex-
A presença de Vossas Excelências nesta ceri- te Sousa Leitão, ilustre Chefe do Estado-Maior celência, mas que a escassez de recursos muitas
mónia em que inicio funções como Chefe do Es- da Armada, com quem tive a honra de servir vezes não permite alcançar. Mas nós, que esta-
tado-Maior da Armada e Autoridade Marítima como seu Ajudante e que, desde então, passou mos habituados às dificuldades que muitas ve-
Nacional é um gesto de simpatia e de solidarie- a constituir uma referência para mim, como zes se nos apresentam no mar, sabemos que só
dade que muito me sensibiliza e agradeço. homem, como militar e como Comandante. com uma guarnição unida, coesa, disciplinada e
determinada em ultrapassar as dificuldades, po-
Senhor Almirante Saldanha Lopes, começo Gostaria ainda de expressar o meu agradeci- demos levar o navio para águas safas.
por lhe dirigir um especial agradecimento pela mento à minha família e amigos aqui presentes,
sua presença nesta cerimónia que, como bem em especial à minha mulher que me acompa- Sabemos que a tormenta ainda vai durar al-
sabe, é carregada de simbolismo para mim e nhou e apoiou ao longo de toda a minha carreira gum tempo e que este comandante e a sua guar-
para a Marinha. O meu muito obrigado Senhor e que sem esse apoio e compreensão, certamen- nição irão continuar a pugnar para continuar a
Almirante pela sua presença pelo que ela repre- te não teria chegado a este momento. singrar nestas águas tormentosas com realismo
senta nos domínios institucional e pessoal, mas e com segurança, minimizando as avarias que
principalmente o meu reconhecimento pela for- Finalmente, agradeço e saúdo todos os que nos impeçam de, quando o vento voltar a soprar
ma como, com grande camaradagem e amiza- quiseram honrar-me com a sua presença, fa- bonançoso, retomarmos o nosso já secular cami-
de, neste curto espaço de tempo, procurou de zendo questão de estarem nesta cerimónia da nho. Estou certo que assim será e que tal como os
forma cuidada passar-me o testemunho. minha apresentação à Marinha. Quero, tam- nossos antepassados, que em vários momentos
bém, expressar um pensamento especial para da nossa história foram capazes de enfrentar e
Senhor Almirante Carvalho Abreu, Vice-Chefe aqueles que se encontram ausentes em missão superar as tormentas, saindo delas com força e
do Estado-Maior da Armada e nos últimos dias na linha da frente. esperança renovada, também nós o faremos.
Chefe do Estado-Maior da Armada interino,
uma palavra de muito apreço por, neste período Ao assumir o cargo de Chefe do Estado-Maior Não tenho dúvidas que para o sucesso é ne-
de indefinição e nas circunstâncias que bem co- da Armada, e de Autoridade Marítima Nacio- cessário unidade de esforço, determinação, per-
nhecemos ter tomado o leme da nossa Marinha nal, quero partilhar convosco dois sentimentos. severança e espírito de serviço. Os homens e as
e, por se continuar a disponibilizar para assegu- A enorme honra que sinto por ter sido escolhido mulheres, que servem na Marinha, forjam a sua
rar o cargo de Vice-CEMA, até à posse do futuro para tão relevante cargo e a enorme respon- têmpera no mar, que nos ensina a ser humildes
incumbente. A sua disponibilidade e espírito de sabilidade que sinto por, nos próximos anos, e a saber esperar aguentando o mar revolto, até
serviço, pondo o interesse da Marinha bem aci- comandar a nossa Marinha e, principalmente, surgir a oportunidade de guinar, aumentar a ve-
ma do pessoal, representa para todos nós um por liderar os homens e as mulheres que no dia- locidade e voltar ao rumo pretendido.
grande exemplo. Bem-haja Senhor Almirante. -a-dia cumprem Portugal no Mar.
É este o sinal de esperança que vos quero
Aos Senhores Almirantes ex-Chefes do Esta- Militares, Militarizados e Civis da Marinha, transmitir: “depois da tempestade, vem a bo-
do-Maior da Armada o meu sentido reconhe- Sendo esta a primeira vez que me dirijo à Ma- nança”. Temos de saber esperar, continuando a
cimento pela presença de Vossas Excelências rinha, importa indicar as linhas mestras do meu pensar o futuro da Marinha no respeito pelos
pelo importante apoio pessoal que traduz, mas mandato para, nas circunstâncias atuais, e em princípios que nos regem, preservando a nossa
também e principalmente pelo sinal de conti- completa sintonia, procurarmos continuar a coesão e alimentando os valores que nos são
nuidade do comando da Marinha. dignificar esta instituição a que nos orgulha- próprios, como Marinheiros e como militares: a
mos de pertencer. lealdade, a honra, a coragem, o espírito de ser-
À Senhora Dona Maria Alexandra Leitão, ex- Portugal vive momentos de extrema dificul- viço e a disciplina.
presso o meu agradecimento muito sentido dade, consubstanciados no cumprimento de
por, com a sua presença, manifestar a sua so- um exigente programa de ajustamento eco- Mas, a Marinha não é só constituída pelos que
lidariedade muito amiga e por nos lembrar o nómico e financeiro, ao qual a Marinha não é, a servem atualmente no ativo. A Marinha tem
seu Excelentíssimo marido, o Senhor Almiran- nem quer ser alheia. um património e uma história feita por todos os
que no passado a serviram, de modo a que hoje
nos orgulhamos do que ela representa. Por esse
facto, e porque nós militares não deixamos um
camarada para trás, estarei atento aos que nos
precederam ao serviço da Marinha.
Vivemos num mundo em acelerada transfor-
mação, pelo que as instituições, e no presente
caso a Marinha, para continuar a ser relevante,
cumprindo a sua missão de garantir a Portugal
o uso do mar, tem de se adaptar às novas cir-
cunstâncias, como aliás foi sempre acontecen-
do ao longo da sua história e, designadamente,
nos últimos anos.
Por força das circunstâncias, restruturar é
hoje em Portugal uma palavra recorrente, mas
restruturar não deve ser entendido como “sim-
plesmente mudar”, de forma avulsa, baseada
em preconceitos, só porque está na moda.
Restruturar deve ser sim consequência de um
processo consubstanciado em estudos, que de-
correm de trabalhos de análise do presente e
prospetiva do futuro, mantendo os valores que
6 JANEIRO 2014