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REVISTA DA ARMADA | 481

nos regem, mas com um desígnio bem defini-         A renovação dos meios navais, que se iniciou        Entretanto, os processos evoluíram e as ativi-
do, no tempo e na ambição.                        nos anos 90 com o armamento das fragatas da         dades relacionadas com o mar sofisticaram-se,
                                                  classe Vasco Gama e das LFR classe Argos, foi       assim como as estruturas organizativas dos es-
 Foi desse modo que a Marinha se veio prepa-      continuada ao longo da primeira década deste        tados. Portugal não foi alheio a esta evolução e,
rando com muito estudo e reflexão, no sentido     século com a entrada ao serviço dos dois subma-     nesse sentido, a legislação aplicável a este domí-
de apoiar as alterações organizacionais e de      rinos edasduas fragatas classeBartolomeuDias.       nio de atividades foi também evoluindo.
processos que possam gerar efetivas sinergias     Contudo, a renovação sofreu um grave revés
e eliminar o supérfluo, mantendo a essência       quando, pelas vicissitudes conhecidas dos ENVC,      Nesta conformidade foram publicados dois De-
daquilo que nos caracteriza como instituição de   do programa para a construção de 8 NPO, 6 LFC       cretos-Lei, o 43 e o 44 de Março de 2002, procu-
serviço público.                                  e um Navio Polivalente Logístico que deveriam       rando enquadrar a atividade não militar da Ma-
                                                  ter sido entregues até fim de 2012, apenas foi au-  rinha com a Constituição da República. Foi então
 Pretendo, assim, levar a cabo uma restrutu-      mentado ao efetivo da Marinha o segundo NPO         criado o cargo de Autoridade Marítima Nacional
ração que terá como referência as orientações     há alguns dias. Esta situação criou uma enorme      que se insere na estrutura do Sistema da Auto-
superiores, plasmadas na resolução “Defesa        perturbação no planeamento demanutenção da          ridade Marítima que inclui todas as entidades
2020”, cuja implementação se encontra em cur-     esquadra ao obrigar a reinvestir em navios com      com responsabilidades de autoridade marítima.
so, que se baseará nos estudos conduzidos pelo    mais de 40 anos de intensa atividade operacio-      Recentemente, sentindo a necessidade de clarifi-
Estado-Maior da Armada, com o envolvimento        nal, sem quaisquer garantias que se venha a ob-     car e aperfeiçoar a legislação anterior, em 31 de
de todos os setores da Marinha e em articulação   ter retorno do investimento efetuado. Este é um     Outubro de 2012, o Governo fez publicar o De-
com as demais entidades do universo da Defesa     problema sério com que nos confrontamos mas,        creto-Lei nº 235. No preâmbulo deste diploma é
Nacional e numa perspetiva de abertura com        estou certo que perseguindo uma linha de ação       referido e cito “Importa, por isso, reconhecer que
a sociedade. Neste processo, serei determina-     consequente, conseguiremos corrigir esta situa-     actualmente a Marinha representa uma moldu-
do mas prudente, procurando sempre discernir      ção, afastando-nos do olho do furacão.              ra institucional com legitimidades heterogéneas
entre o que é a natural resistência à mudança                                                         e capacidades multifuncionais, onde se identifi-
daquilo que representa uma argumentação per-       Mas para além da recuperação do programa           ca uma componente de acção militar que consti-
tinente. Nada será intocável mas também nada      de substituição das corvetas e dos patrulhas,       tui o ramo naval das Forças Armadas, histórica e
será mudado só porque fica bem mudar.             importa igualmente investir na modernização         conceptualmente designado de Armada, e uma
                                                  dos meios que atingiram a meia-vida, designa-       componente de acção não militar, fora do pro-
 Neste sentido, pretendo fazer incidir a minha    damente, as fragatas, através de programas          pósito imediato e do âmbito próprio das Forças
atenção na estrutura orgânica cujo edifício e     que permitam ultrapassar a obsolescência lo-        Armadas, que constitui uma outra estrutura do
articulação são fundamentais para um eficien-     gística de alguns sistemas vitais e a moderni-      Ministério da Defesa Nacional, designada Auto-
te funcionamento de toda a Marinha, tendo         zação de outros, para que aquelas mantenham         ridade Marítima Nacional.
em consideração as futuras disponibilidades de    a respetiva capacidade combatente e inerente
pessoal. Pretendo também reavaliar as diversas    relevância. Este será, também, um assunto que        De facto, actualmente, ambas as componen-
carreiras de militares, no sentido de procurar a  merecerá a minha melhor atenção.                    tes, militar e não militar, não se confundem,
maior flexibilidade possível na gestão das car-                                                       sem prejuízo de se articularem sinergicamente
reiras e no provimento dos cargos, bem como,       Por outro lado, tendo presente que as marinhas     numa lógica funcional de alinhamento e com-
procurar a constante adaptação para que a for-    não se improvisam, é forçoso que façamos uma        plementaridade entre capacidades e compe-
mação ministrada na Marinha, a todos os níveis,   prospetiva daquilo que pretendemos que seja a       tências, no exercício do emprego operacional
seja efetivamente relevante e eficiente.          composição da esquadra no futuro e, nesse sen-      no mar”, fim de citação.
                                                  tido, serão aprofundados os estudos já iniciados
 A outra área que será revisitada no sentido de   com o projeto designado “Marinha a 20 anos”.         Assegurar o melhor desempenho destas duas
se conseguir mais eficiência é a que se relacio-                                                      componentes da nossa Marinha, garantindo a
na com o apoio às unidades navais, designada-      Portugal, por muito que se possa querer mu-        melhor articulação na ação, assegurando que
mente, nas estruturas da logística do material e  dar, a geografia não muda e por isso será sem-      não haverá estruturas ou meios redundantes,
do apoio direto aos navios.                       pre um país marítimo, com uma longa e presti-       antes velando por uma utilização sinérgica dos
                                                  giosa história de feitos valorosos no mar, o que    meios, será tarefa do Chefe do Estado-Maior da
 Os novos navios, cada vez mais automatiza-       faz de nós um povo de marinheiros, pelo menos       Armada e Autoridade Marítima Nacional. Será
dos, permitem reduzir significativamente as       na alma. A importância do mar para a econo-         um dos meus principais desígnios.
guarnições, mas introduzem outras necessida-      mia portuguesa, parece por demais evidente,
des e novas formas de os operar e explorar.       e poderá, e deverá, ser mais preponderante, o        Minhas Senhoras e meus Senhores,
                                                  que exige vontade para apostar no mar, e nas         Como já antes aludi, vivemos tempos de
 Senhores Almirantes, minhas Senhoras e meus      atividades com ele relacionadas.                    grande exigência no emprego dos parcos re-
Senhores,                                                                                             cursos e de incertezas e perplexidades, quer no
                                                   Mas não nos podemos esquecer que, a imple-         plano pessoal quer no profissional.
 A continuada exiguidade de recursos finan-       mentação da estratégia nacional para o mar,          Nessa medida, procurarei promover uma
ceiros para afetar à operação e manutenção da     recentemente aprovada, e um consequente au-         gestão que recorrendo às modernas tecnolo-
esquadra tem conduzido a uma preocupante          mento dos interesses naquela área vai, necessa-     gias e práticas de apoio à gestão já instaladas
falta de atividade dos navios, em especial dos    riamente, implicar uma maior exigência no que       na Marinha, promova a maior interação possí-
navios combatentes, com funestas consequên-       respeita ao exercício da autoridade do Estado no    vel entre todos os setores funcionais.
cias para o adestramento da esquadra. Nesse       mar, para que seja assegurado um ambiente de         Exercerei um comando de proximidade por-
sentido, desenvolverei todos os esforços para     segurança, e o respeito pela legislação vigente.    que os tempos o exigem e porque esse sempre
minimizar este problema, designadamente,                                                              foi o meu estilo de comandar.
procurando a rápida adjudicação do forneci-        Desde há muito, o Estado atribuiu de forma          Marinheiros,
mento de um novo simulador de ação tática.        continuada à Marinha não só uma missão de            Vou mandar apitar à faina, a missão que te-
Mas, a continuada carência de recursos finan-     natureza militar, consubstanciada na defesa de      mos para cumprir é difícil e rodeada de incerte-
ceiros tem também obstado a que os navios         Portugal e dos seus interesses no mar, como         zas, mas coesos e determinados, estou seguro
tenham uma regular manutenção, o que tem          também, baseado nas competências e capaci-          que levaremos a Marinha a bom porto.
criado um crescente défice naquela importan-      dades nela residentes, um conjunto de tarefas        “A Pátria honrae que a Pátria vos contempla”
te área, que já atinge quase toda a esquadra      de natureza não militar, como era o caso do         Viva a Marinha, Viva Portugal.
e que importa acautelar para que não se tor-      socorro a náufragos, da farolagem e da fiscali-
ne irreversível, sobretudo em navios que ainda    zação e repressão dos ilícitos no mar.
têm muitos anos para serem operados e onde
foram investidos recursos muito avultados.

                                                                                                      JANEIRO 2014 7
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