Page 29 - Revista da Armada
P. 29

VIGIA DA HISTÓRIA 		                                               REVISTA DA ARMADA | 484

                                                                             62

IR POR LÃ E...

Afrase, que constitui o início de um provérbio conhecido, ocor-      O último episódio ocorreu por volta de 1586, quando o navio
    reu-me aquando da leitura de três episódios sucedidos com a    de que era mestre e piloto Marcos Vidal regressava da Terra Nova
pirataria no mar, nos finais dos séculos XVI e XVIII.              e foi apresado por corsários ingleses.

  O navio Boa União, de que era mestre Pedro José Correia Via-       Na sequência desta acção o piloto conseguiu libertar o navio,
na, com carga de escravos seguia viagem de Cabinda para o Rio      apresando, por sua vez, os corsários.
de Janeiro quando foi interceptado por duas fragatas que, içan-
do inicialmente bandeira americana,(1) se veio a descobrir serem     Por esta acção recebeu, em 1586, uma tença concedida pelo
inglesas, a Niger e a Laurel, e que apresaram o navio negreiro.    Rei D. Filipe I.

  Instalada a bordo uma guarnição de presa, constituída por 1                                                                                 Com. E. Gomes
Tenente, 2 Guardas-Marinhas e 10 marinheiros, foi o navio man-
dado dirigir-se para a Serra Leoa.                                 N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico

  Dois dias após o apresamento, o mestre, com a ajuda dos tri-     Notas
pulantes, conseguiu subjugar os ingleses, recuperar o comando      1 O uso de bandeiras de nacionalidade diferente foi, ao longo do tempo, uma constante.
do navio e retomar a sua viagem.                                   Sem contar com as bandeiras de “conveniência” actuais, são conhecidos casos de navios
                                                                   americanos arvorando bandeiras portuguesas e espanholas, navios asiáticos arvorando
  Por esta acção foi o citado mestre promovido a 1º Tenente da     bandeiras inglesa e holandesa e navios portugueses arvorando bandeira espanhola.
Armada Real.                                                       Fontes
                                                                   Quadros Navais
  O outro episódio ocorreu igualmente com um navio negreiro,       Pesca do Bacalhau na Época das Descobertas
a corveta Rainha, de que era mestre José Domingues e que, se-
guindo viagem de Moçambique para o Rio de Janeiro, foi apre-
sada pelo corsário francês L’Embuscade, que mandou a presa
para a Ilha de França enquanto, com os prisioneiros embarcados,
prosseguiu no corso, apresando mais três embarcações e incen-
diando uma outra.

  Durante o regresso do corsário, com os despojos do corso, para
a Ilha de França, conseguiu o mestre José Domingues, com ajuda
dos seus tripulantes, atacar os franceses matando doze e ferindo
muitos outros, ficando no fim com o comando do navio corsário,
que levou para Moçambique.

ESTÓRIAS	

O ANJINHO “MOÇO DE FRETES”

Já foi há mais de quatro décadas que a história real que vos       um pouco pesadote. Quando me aprestava para entregar a en-
  vou narrar se passou. Numa das minhas idas para Moçambi-         comenda, qual não foi o meu espanto ao olhar para o lado e ver
que, a fim de cumprir uma comissão de serviço numa unidade         ao pé de mim a minha colega de cadeira, pedindo-me desculpa
aí estacionada, a viagem foi efetuada a bordo do Príncipe Per-     mas que tinha resolvido desembarcar por se encontrar já mais
feito (paquete da Marinha Mercante). Após ter chegado a Lou-       bem disposta. Normalíssima a sua já boa disposição, pois tinha
renço Marques, já tinha bilhete para continuar até à Beira, e daí  arranjado um descarregador anjinho.
ligação assegurada por avião da “DETA” até Porto Amélia.
                                                                                                                                    Celestino Batista Velez
  Nessa viagem de avião (meio de transporte que nunca dese-                                                                                     1TEN OT REF
jei) passámos primeiro por Quelimane, depois por Nampula com
mudança de avião e, por último, Porto Amélia. Mas da Beira até
Nampula, coube-me ir ao lado de uma irmã de caridade, vesti-
da com o seu hábito branco. Como também eu ia fardado com
o uniforme de verão, parecíamos dois anjinhos. Quando o avião
levantou voo, não deixei de pensar (para comigo) que lá iam dois
anjinhos a caminho do céu. Houve entre ambos uma conversa
de circunstância e, mais tarde, um pedido formulado pela irmã,
solicitando-me o favor de transportar para a gare em Quelimane
um volume (com livros) de que ela era portadora, e que seria
para entregar a uma irmã da mesma congregação, que estava à
sua espera. Ela encontrava-se mal disposta pelo que me pedia
esse favor, pois não tencionava desembarcar naquele período
em que o avião estava em trânsito naquele aeroporto. Pronti-
fiquei-me e lá agarrei no dito volume que, por sinal, ainda era

                                                                   ABRIL 2014 29
   24   25   26   27   28   29   30   31   32   33   34