Page 31 - Revista da Armada
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SAÚDE PARA TODOS                                                                              REVISTA DA ARMADA | 484

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CANCRO ORAL

Cancro é uma doença caraterizada pela multiplicação descontrolada de um conjunto de células, que cresce e se divide sem respeitar os limites
normais, invadindo e destruindo os tecidos adjacentes, podendo inclusive disseminar-se para lugares distantes no corpo, através de um proces-
so chamado metastização. Pode ser causado por fatores externos, como é o caso do tabaco, álcool, dieta rica em gorduras, radiações, produtos
químicos ou organismos infeciosos – fatores que podemos eliminar – ou por fatores internos, como alterações genéticas, imunológicas ou hor-
monais – fatores que não podemos modificar.
O cancro é a segunda causa de morte em Portugal, logo a seguir às doenças cardiovasculares. Mata cerca de 25 mil portugueses por ano, cerca
de 68 pessoas por dia! E os números têm vindo a aumentar nos últimos anos, em pessoas cada vez mais jovens.
Um dos cancros com maior taxa de mortalidade é o cancro oral. Estima-se que cerca de 6 em cada 10 doentes de cancro oral morram nos 5 anos
após a data do seu diagnóstico. O insucesso parece estar ligado ao facto de grande parte dos casos não serem diagnosticados atempadamente.
Para combater este flagelo a Direção-Geral de Saúde implementou no dia 1 de março de 2014 o Programa de Rastreio do Cancro Oral, em que
cada utente do Serviço Nacional de Saúde passou a ter direito a dois cheques dentista por ano para diagnóstico de cancro oral e a outros dois
para biopsia. Este alargamento do Programa Nacional de Promoção de Saúde Oral conta com o apoio dos médicos de família que emitirão in-
formaticamente um cheque-diagnóstico perante utentes de elevado risco ou com suspeita clínica de lesões na boca potencialmente malignas.
Os militares no ativo, com os exames anuais obrigatórios – que incluem observação por Dentista ou Estomatologista – são submetidos a este
rastreio, mas é muito importante que toda a população esteja alertada para este flagelo e que procure regularmente observação por um espe-
cialista em saúde oral.

DEFINIÇÃO                                       SINTOMAS                                      PREVENÇÃO
   O cancro oral é o conjunto de tumores          Os cancros da cavidade oral podem ma-         Como medida preventiva é fundamen-

malignos que afectam qualquer tecido da         nifestar-se como uma mancha, geralmente       tal abdicar dos hábitos tabágicos e alcoó-
cavidade oral (lábios, língua, pavimento        branca ou avermelhada, uma massa endu-        licos, usar preservativo em todo o tipo
da boca, gengivas, palato e mucosa jugal).      recida ou uma úlcera persistente que não      de relações sexuais, ter uma dieta saudá-
A localização mais frequente é no pavi-         cicatriza após 3 semanas. A maioria das le-   vel, evitar qualquer traumatismo crónico
mento da boca (mucosa abaixo da língua)         sões são assintomáticas na sua fase inicial,  da mucosa de revestimento da cavidade
e no bordo lateral da língua.                   tornando-se progressivamente dolorosas.       oral, manter excelentes hábitos de higie-
INCIDÊNCIA                                      Numa fase mais avançada pode surgir di-       ne orais e frequentar regularmente uma
                                                ficuldade em engolir, alterações da sensi-    consulta com especialista de saúde oral.
  O cancro oral é responsável pela morte        bilidade e motricidade da língua, hemorra-
de 500 pessoas por ano em Portugal, regis-      gias orais, mau hálito, mobilidade dentária                                        Ana Cristina Pratas
tando-se cerca de 1000 novos casos anuais.      e gânglios linfáticos cervicais aumentados.                                                    1TEN MN
                                                DIAGNÓSTICO
  É mais frequente em homens com idade                                                              Existem mais de 200 subtipos dife-
superior a 45 anos, com hábitos tabágicos e        Na presença de lesão suspeita na cavi-        rentes do vírus HPV, contudo apenas
alcoólicos. A incidência em jovens tem au-      dade oral deve ser sempre realizada uma          alguns são considerados de alto risco
mentado, talvez pela mudança dos hábitos        biopsia para diagnóstico anatomopatoló-          para o desenvolvimento de cancro. Os
sexuais, nomeadamente maior número de           gico. Mais de 90% destes cancros são car-        subtipos 16 e 18 do vírus estão asso-
parceiros sexuais. O vírus papiloma huma-       cinomas afectando o epitélio da mucosa           ciados ao cancro colo útero e cancro
no (HPV) tem transmissão sexual e está as-      oral. Os restantes correspondem a formas         oral.
sociado com o desenvolvimento de alguns         mais raras de tumores e incluem os linfo-
cancros, nomeadamente do colo do úte-           mas, sarcomas, melanomas, etc.                      A vacina que previne alguns dos
ro, vulva, pénis, ânus e cavidade oral. A as-                                                    subtipos do HPV já existe no mercado
sociação deste vírus ao cancro oral ainda é       Também é importante realizar exames            e inclui os subtipos 16 e 18. Esta vaci-
pouco conhecida pela população em geral         para excluir invasão ou disseminação do          na está incluída no plano nacional de
apesar da sua grande divulgação nos meios       tumor: TAC/RMN da face, pescoço, tórax,          vacinação obrigatória para raparigas
de comunicação social, em junho de 2013,        abdómen e pélvis, bem como uma endos-            de 13 anos de idade.
aquando a revelação do ator norte-america-      copia digestiva alta (em 25% dos casos de
no Michael Douglas de que a prática de sexo     cancro oral existe um segundo cancro pri-
oral desprotegido tinha estado na origem do     mário do tubo digestivo).
cancro da língua que lhe foi diagnosticado.     TRATAMENTO
FATORES DE RISCO
● Hábitos tabágicos;                              O tratamento passa quase sempre pela
● Hábitos alcoólicos;                           cirurgia, com excisão da lesão com margens
● Má higiene oral;                              de segurança. Pode haver necessidade de
● Traumas de repetição (e.g.: mordedura         associar radioterapia e/ou quimioterapia.
constante da mucosa oral, próteses den-         PROGNÓSTICO
tárias mal adaptadas, arestas cortantes
em dentes cariados, piercings);                   O índice de mortalidade do cancro oral
●Uso frequente de elixir/colutório com álcool;  é elevado. Se diagnosticado nos estádios
● Dieta pobre em legumes e frutas;              iniciais a sobrevivência ao fim de 5 anos
● Radiação solar;                               pode atingir os 90%. No entanto, se diag-
● Agentes biológicos (e.g.: HPV, Candida        nosticado tardiamente apenas aproxima-
albicans, Treponema pallidum).                  damente 10% dos doentes, sobrevive 5
                                                anos após o diagnóstico. A chave para o
                                                tratamento é um diagnóstico atempado!

                                                                                              ABRIL 2014 31
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