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REVISTA DA ARMADA | 484

NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA						                                                     31

A Revista da Armada
e o Revolucionário Abraço

Para servir-vos, braço às armas feito,
Para cantar-vos mente às Musas dada
Lusíadas, excerto da penúltima estrofe…

  Na minha presente situação, fora efe-    do formal aperto de mão, o Sr. Almiran-    Foi então, que me ocorreu, como
tivamente da Marinha, existo, na minha     te cumprimentou determinado médico       naqueloutra bíblia, os Lusíadas que se
própria memória. Persisto teimosamen-      com um «revolucionário» abraço.          reproduzem acima. De algum modo ser-
te num lugar diferente, com referências                                             vir a Marinha é também cantá-la, escre-
distintas, cheiros e cores estranhos.        O cumprimento, sentia-se na alma,      ver sobre ela… Contar episódios como
Ouço línguas diferentes. Vozes longín-     agradou ao visado de muitos modos.       este, que nos distinguem, como dife-
quas lembram-me de mim próprio. O          Em primeiro lugar, a distinção concedi-  rentes. As histórias da botica vão conti-
convés que durante décadas pisei, fene-    da – perante tal audiência – valeu, na   nuar… serão diferentes, mas continua-
ce, agora longínquo – como nos aconte-     mente do cumprimentado, tanto como       rão a versar a Marinha… mesmo que
ce depois de um longo embarque, em         uma medalha… Por outro lado, e mais      seja a Marinha, simbólica, que muitos
que a firmeza do chão da terra não faz     importante, marcou publicamente a        trazem no coração…
sentido, nas nossas mentes incrédu-        proximidade que a Marinha permite,
las. Neste lugar de onde me encontro,      mesmo no estrito respeito da hierar-                                                            Doc
aguarda-se a esperança de uma costa        quia… Foi um dia muito feliz para todos
salvadora, que se afigura tardia…          os médicos-navais presentes…

  Neste sentir, revolto, considerei não
contribuir mais para a Revista da Arma-
da (RA). Além do mais, corria o risco de
cansar os leitores, sendo que todos os
temas que me ocorriam eram demasia-
do reais, sanguíneos, como se alguém
descrevesse uma experiência cirúrgi-
ca, com requintados pormenores, que
como sabe bem o atual responsável
pela RA, são impublicáveis…

  Fiquei, por momentos, perdido na
borrasca. Na verdade, nunca soube e
nunca saberei escrever de fora para
dentro, à medida do lugar, do posto, ou
da situação… Não, eu sempre escrevi de
dentro da fora, de uma forma súbita e
espontânea. Este manejo desadequado
da escrita, que surpreendentemente se
tem mantido na RA, pode trazer dissa-
bores ao autor, mas trouxe-lhe também
muitos amigos…

  No meio destes sentimentos aconte-
ceu uma visita de Oficiais Generais ao
Hospital das Forças Armadas. No cor-
redor de uma Enfermaria, lá chegaram
eles: o General Chefe de Estado-Maior das
Forças Armadas, o General Diretor do Hos-
pital e o Almirante Chefe de Estado-Maior
da Armada. Percorreram as camas, era Na-
tal… Quando cumprimentaram os médi-
cos aconteceu o inesperado… Em vez

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