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REVISTA DA ARMADA | 489 67
VIGIA DA HISTÓRIA
ENFRAQUECENDO O INIMIGO
O conde de Linhares, enquanto Vice-Rei, Escrevia ele que os navios daquelas na-
pelo menos aparentemente ter-se-á aper- ções levavam para a Índia muito pouca
cebido da importância fundamental que, gente, em parte porque não tinham gran-
para a manutenção do Estado da Índia, ti- de capacidade de os alimentar e, por outro
nham as armadas. lado, porque parte dessa gente morria por
causa do clima.
As grandes carências em pessoal neces-
sário para guarnecer os navios, quer por- Constituía pois, segundo o Vice-Rei,
que o pessoal que vinha do Reino, ou de- ”grande Razão de Estado", para lhes dimi-
sertava, ou ingressava nas diversas ordens nuir o poder saberem os soldados e ma-
religiosas ou, como era bem frequente, se rinheiros que, entre os portugueses, se
tratava de gente que nunca havia andado lhes faria bom tratamento em caso de de-
anteriormente no mar, levaram-no a adop- serção. A prática que vinha seguindo tinha
tar várias medidas que, nem sempre com- ainda a vantagem de semear a desconfian-
preendidas ou totalmente aceites, procu- ça, entre as nações estrangeiras, sobre a fi-
ravam minorar o problema. delidade dos seus soldados e marinheiros,
levando-as a receá-los tanto quanto aos
As queixas contra a falta de pessoal pre- portugueses.
parado para servir nas armadas são, ao
longo do seu governo, uma constante, le- No que se referia aos aspectos da reli-
vando até que, por vezes, pusesse em cau- gião, afirmava o Vice-Rei não haver qual-
sa as ordens reais, como se extrai da carta, quer risco na utilização destes estrangei-
escrita para o Rei em 1632, na qual o ques- ros, com diferentes leis e fé, e no que di-
tiona nos seguintes termos: zia respeito a possíveis traições, sendo ele
experiente na guerra, sabia prevenir-se em
“Como hei-de eu fazer Senhor, armada todas as circunstâncias, e tanto assim era
se V. Mag. não me manda gente para ela”. que todos os ingleses e holandeses que
A situação era de tal forma preocupante haviam fugido das suas naus e se tinham
que o terá levado a adoptar uma medida refugiado em Goa, enquanto ele recolhe-
de carácter excepcional, medida essa que ra informações e avisos importantíssimos,
comunica ao Rei, em carta datada de 13 nada lhes fora passado que o pudesse pre-
de Novembro de 1634, na qual refere que, judicar.
com a ajuda dos padres jesuítas “fizera ma-
rinheiros” em Bardês e na ilha de Goa “por Remata a carta afirmando que, no en-
forma a solucionar a grande preocupação tanto, “obedecerá às ordens de Sua Majes-
que tinha em fretar gente para guarnecer tade que serão cumpridas na íntegra".
as armadas“.
Com. E. Gomes
Dado que os problemas de pessoal para
as armadas continuavam existentes, não N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
podendo assim manter um poder naval
adequado, procurou aquele Vice-Rei o en- Fonte
fraquecimento dos principais opositores Livro das Monções nº 15 in Bole m da Filmoteca Ultrama-
na Índia, os ingleses, os holandeses e os rina Portuguesa nº 8.
franceses, e para isso adoptou um procedi-
mento cujo conhecimento resulta de uma
carta escrita pelo Rei, em 1633, na qual
manifestava a sua estranheza e preocupa-
ção pelo facto do Vice-Rei dar abrigo e em-
prego aos holandeses, franceses e ingleses
que desertavam das respectivas armadas,
não só pelo receio de eventuais traições,
como pelo receio da influência negativa
que poderiam ter relativamente aos assun-
tos da fé . Fonte
A resposta do Vice-Rei, datada de 13 de
Novembro de 1664, mas que o Rei só iria
receber na segunda metade do ano seguin-
te, refere os motivos que o haviam levado
a ter tal procedimento.
26 OUTUBRO 2014