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REVISTA DA ARMADA | 492 70
VIGIA DA HISTÓRIA
SI NON É VERO
Durante o séc. XVIII, o tráfego do Brasil Declararam ainda aqueles capitães que,
para a costa de África, todo ele dedicado após serem assaltados, eram forçados a
ao tráfico de escravos, assumiu um volume trocar as mercadorias que levavam para o
de algum modo significativo. tráfico, muito em especial o tabaco, que
era a mercadoria mais apetecida para o
Tal como sucedia nos restantes territó- efeito, por outras sem grande aceitação.
rios sob domínio dos portugueses, durante
grande parte desse século, o comércio do Dado que as cidades onde efectuavam
Brasil esteve sujeito a grandes restrições de o tráfico eram as mesmas que eram fre-
natureza proteccionista visando, em espe- quentadas pelos navios estrangeiros, não
cial, o comércio de mercadorias estrangei- conseguiam dar saída a essas mercado-
ras, restrições essas cuja violação acarreta- rias que lhes haviam trocado, pelo que se
va a aplicação de pesadas penas. viam forçados a tomar uma de duas op-
ções, ou deitar todas essas mercadorias
Dado que muitos dos navios envolvidos ao mar, acarretando, por isso, um pre-
naquele tráfico começaram a surgir, no juízo total ou procurar minimizar os pre-
Brasil, transportando mercadorias proibi- juízos transportando-as para o Brasil e aí
das, o assunto, pela sua gravidade e con- as vendendo, sendo esta última solução
sequências, foi objecto, por parte do Go- aquela por que, naturalmente, optavam
verno, de uma investigação tendente à para evitar o total descalabro da sua acti-
identificação das causas e à adopção das vidade e, consequentemente, dos eleva-
medidas necessárias à sua correcção. dos prejuízos sobre a economia da Baía
e, por extensão, do Reino.
Em 30 de Março de 1767, o Governa-
dor da Baía comunicava para a Corte o Não foi possível conhecer qual a decisão
resultado das investigações que efectua- tomada quanto a este assunto cuja defesa,
ra sobre o assunto, após ter ouvido dois mesmo se não correspondesse à verdade,
capitães, Francisco António Etré e José estava, no mínimo, solidamente construída.
Francisco de Azevedo, em cujos navios
haviam sido encontradas mercadorias Com. E. Gomes
proibidas, aquando da sua chegada da
Mina, com escravos. N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfico.
Fonte
As declarações daqueles capitães, que Documentos do Arquivo da Marinha e Ultramar in Anais
haviam sido concordantes, referiam que, da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Tomo 32.
por causa das correntes, para chegar à
Mina, tinham de alcançar a latitude do
Cabo das Palmas e daí irem descaindo até
à altura do Castelo da Mina, lugar onde,
com muita frequência, se encontravam
navios ingleses e holandeses, igualmente
envolvidos no tráfico de escravos, que os
assaltavam sem que os navios portugue-
ses tivessem possibilidades de se defender
pois as suas guarnições eram constituídas,
quando muito, por 30 homens, na sua qua-
se totalidade escravos ou negros forros, o
seu armamento era de umas poucas espin-
gardas e outras tantas catanas e no que se
refere à artilharia do navio eram poucos os
canhões, sendo os seus calibres mais ade-
quados para efectuar salvas do que pro-
priamente para combater, enquanto os na-
vios estrangeiros seguiam equipados com
mais armamento e artilharia, e eram guar-
necidos por gente mais motivada.
28 JANEIRO 2015