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Stratεgia

FUNÇÕES DO PODER MARÍTIMO

Um dos aspetos mais interessantes de boa parte das estraté-            Gostaria de destacar três aspetos: a inclusão da novíssima função
     gias marítimas é a identificação de um conjunto de funções,     de acesso em todos os domínios; a manutenção da segurança ma-
que sistematizam os principais contributos do poder marítimo         rítima no núcleo do poder marítimo norte-americano; e a exclusão
para a segurança, o bem-estar e a prosperidade das nações.           da função de assistência humanitária e resposta a catástrofes como
                                                                     função autónoma.
   A primeira importante conceptualização deste género, na era
moderna, deve-se ao Almirante Stansfield Turner que, em 1974,          Começo pela função de acesso em todos os domínios, que é
identificou as quatro funções (Turner chamou-lhes missões) da        uma das principais novidades desta estratégia marítima. Já se deu
US Navy: controlo do mar, projeção de força, presença naval e        conta nestas páginas (em maio de 2014), da preocupação suscita-
dissuasão estratégica. De então para cá, este elenco foi sendo atu-  da nos EUA com a adoção, por parte de alguns países (incluindo
alizado, nomeadamente em 1986, 1992, 1994, 2007 e 2015, con-         a China e a Rússia), de modalidades de ação destinadas a evitar
forme ilustrado pela tabela que acompanha este artigo. Como se       ou a atrasar o acesso a determinadas áreas de operações. Entre
pode ver, as únicas duas funções que estiveram sempre presentes      os analistas americanos, convencionou-se designar essas moda-
foram o controlo do mar e a projeção de força, normalmente as        lidades de ação por Anti-access/Area Denial (Anti-acesso/Nega-
duas funções nucleares do poder marítimo de qualquer nação.          ção de Área), referindo-as habitualmente pelo acrónimo A2/AD.
                                                                     A elevada prioridade concedida pelos EUA à capacidade de pro-
   Focando, agora, a atenção na mais recente estratégia marítima     jetar poder em áreas onde o acesso é contestado justifica que se
americana (“A Cooperative Strategy for 21st Century Seapower         tenha consagrado uma nova função de acesso em todos os domí-
– Forward, Engaged, Ready”, que aqui foi apresentada no mês          nios. Segundo o documento, o “acesso em todos os domínios é a
passado), as funções do poder marítimo aí elencadas são:             capacidade para projetar a força militar em áreas contestadas, com
                                                                     liberdade de ação suficiente para poder operar efetivamente”.
   • Acesso em todos os domínios
   • Dissuasão                                                         De acordo com o Diretor da Divisão de Estratégia e Política Naval
   • Controlo do mar                                                 da US Navy, Almirante William McQuilkin, esta nova função visa or-
   • Projeção de força                                               ganizar, treinar e equipar as forças americanas para manter a liberda-
   • Segurança marítima

4 FEVEREIRO 2016
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