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REVISTA DA ARMADA | 504

  A vinda das fragatas da classe Vasco da Gama, há 25 anos, per-   be o treino, em especial, do comandante do navio.
mitiu criar uma capacidade de adaptação e inovação na Marinha        Durante o treino é feito o alinhamento de incidentes na “Bata-
perante um mundo em mudança. O “centro de gravidade” dessa
capacidade de adaptação e inovação constitui hoje a atual cul-     lha Interna” com a “Batalha Externa”, permitindo emular o caos,
tura e estrutura de treino operacional existente na Marinha. E     a fricção, o stresse, intrínsecos ao combate, para despoletar nos
para ela foram decisivas as participações das fragatas no treino   processos de comando e controlo as inerentes dificuldades, dúvi-
operacional no Flag Officer Sea Training (FOST), no Reino Unido.   das, desafios, dilemas, com que as equipas se irão defrontar. Com
                                                                   o treino no FOST, aprendemos a conhecer os nossos limites e tes-
  Por conseguinte, na segunda metade do ciclo de vida das Vasco    tamo-los continuamente na procura de melhoria e progresso, a
da Gama, o treino operacional continuará a ser o aspeto crítico    gerir o cansaço, o tempo, as expetativas, a motivar para ganhar,
para manter uma “mentalidade combatente”, “visando conferir        a respeitar a equipa, cada elemento da equipa e a nós próprios.
competências e capacidade para atuar em situações de risco e in-
certeza típicas do combate armado”, como é referido no EMFAR a       Após terem cumprido as seis semanas intensas e desafiantes
propósito do ensino e formação.                                    do POST, cada um dos elementos da guarnição reconhece de
                                                                   forma evidente a diferença do “nosso navio”, antes e depois do
  No período de 20 de abril a 4 junho de 2015, o NRP Vasco da      treino no FOST. Na verdade, o que apreendemos é que o “nosso
Gama voltou a participar, agora pela 7ª vez, no treino do FOST,    navio” não é apenas um “navio”, mas O NOSSO NAVIO, e não há
constituindo a 23ª participação nacional no Portuguese Opera-      outro de que gostemos mais. O aspeto decisivo que se apreende
tional Sea Training (POST). O programa de treino operacional       no FOST é que o “nosso navio” é um navio de guerra, is a war-
no FOST é sempre uma experiência única e marcante para uma         ship, como disse o Captain South, do FOST. Dispõe de capacidade
guarnição e, em especial, para o seu comandante. Esta partici-     combatente para assegurar tarefas de defesa militar. Que é, aliás,
pação no POST foi a primeira para cerca de 60% da guarnição e,     a missão primeira da nossa Marinha.
por essa razão, a expetativa era imensa. Logo ao início do trei-
no o Commander Mobile Sea Training referiu-me: the train is for      O treino é, pois, um momento para consolidar a compreensão
you, for your people. Por isso, o POST é um ponto de partida para  e sentido dos deveres militares, porque o “nosso navio” é um
poder ser capaz e estar pronto, treinando em todo o espetro de     navio de guerra e em última instância teremos que ser e estar
ameaças e riscos, para o combate de alta intensidade no seio de    preparados para o que menos se quer e espera. Be prepared for
uma força naval.                                                   the unwanted and unexpected. Várias vezes ouvi esta expressão
                                                                   durante o POST. É isso que o País também espera da nossa Ma-
  O objetivo primeiro do treino é atingir e manter os padrões de   rinha. Contando com as fragatas da classe Vasco da Gama, tal
prontidão estabelecidos para o navio. Significa manter as capaci-  como nos últimos 25 anos.
dades combatentes do navio, significa melhorar o desempenho
individual e das equipas de forma a incrementar a eficiência ope-                                                                           Neves Rodrigues
racional do navio, quer isoladamente, quer integrado em força                                                                                               CFR
naval. É esse o centro de gravidade na perspetiva de quem rece-
                                                                                                                Comandante do NRP VASCO DA GAMA

8 FEVEREIRO 2016
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