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ESTÓRIAS
25 ANOS DA CLASSE "VASCO DA GAMA"
Escrever sobre este tema, por ter sido o
primeiro comandante do NRP Álvares
Cabral (F 331) (o segundo da Classe), pode
ser de diversas formas! Escolhi aquela que,
não sendo a rotineira, me dizia algo!!
Começo por salientar o facto, que julgo
inédito, de o primeiro navio em que pres-
tei serviço, como Cadete, Guarda-Mari-
nha e Segundo-Tenente, ter sido o NRP
Álvares Cabral (F 336).
Isto queria dizer algo…?
Preâmbulo
Durante o comando do navio, houve,
em meu entender, “bons” e “maus” mo-
mentos. Escolhi falar sobre aqueles que
considerei mais “relevantes”; certamente
serão novidade para alguns que eventual-
mente leiam estas linhas, mas desculpem-
-me, apeteceu-me assim fazer!!!
Bom Momento... velocidade do outro navio após a saída da eclusa, e pelo vento
que se fazia sentir na nossa amura de estibordo, começou-se a
A cerimónia de entrega do NRP Álvares Cabral teve lugar em descair para bombordo com aproximação do trânsito de saída
24 de Maio de 1991 nos estaleiros da HDW em Kiel. do outro, tornando a situação algo complicada, pese embora as
máquinas “tentassem” inverter ligeiramente o caimento.
A guarnição foi chegando a Kiel, tendo os últimos elementos
feito a sua apresentação três dias antes da cerimónia. Cerca de O piloto, ao verificar tal aproximação, ia gritando “POWER”,
dez dias antes, o navio fora atracado ao cais onde iriam decorrer ”POWER”!!! Eu, naturalmente na ponte, também comecei a ficar
os eventos relacionados com a entrega. “preocupado” e fui aumentando a potência do motor (turbina)
de bombordo para que o nosso navio rodasse para estibordo. O
Não existia qualquer “ordem de operações” para o evento em nosso navio começou a rodar mas continuando a descair, embora
apreço!!! Conhecia-se, no geral, o que tinha sido efectuado em no meu entender afastando-se da situação de eventual “contac-
outras entregas, nomeadamente com o NRP Vasco da Gama. to” com o outro.
Durante os mencionados “dez dias”, ensaiou-se e treinou-se os O certo é que o piloto não entendeu a situação do mesmo
diferentes passos do evento. Para “maior brilho da cerimónia”, modo e “atirou-se que nem uma bala” ao comando da turbina de
eu e os oficiais disponíveis decidimos propor superiormente duas bombordo, metendo-o no máximo.
“singelas” particularidades no evento:
— O embandeiramento do navio em arco; O nosso navio rodou para estibordo como uma “bala” e aproou
— Uma curta alocução do comandante à sua guarnição. à margem do canal! A minha reacção foi, rapidamente, mandar
“bombordo leme” e reduzir a potência da turbina. O navio pas-
Foi autorizado e assim executado!!!! sou a escassos metros da margem do canal!!!
O dia estava magnífico e a cerimónia decorreu, no meu enten-
der, de forma condigna! Com o “sangue a ferver”, chamei tudo o que sabia ao piloto, mes-
mo na ponte; insultei-o por ter pessoalmente tocado nos comandos,
Mau Momento... enfim... mostrei todo o desagrado que me veio à cabeça!!!
Ao atravessar o canal de Kiel, em determinada eclusa, fomos Após este incidente, e a baixa velocidade, aproximámo-nos da
obrigados a aguardar atracados na margem de estibordo (direi- eclusa e ocupámos a posição de espera sem qualquer problema.
ta), dado que a passagem se encontrava ocupada pela manobra
de outro navio. Jaime Montalvão
CALM
Assim que liberta, largou-se do ponto de atracação e iniciou-
-se a aproximação à entrada da eclusa. Por estima incorrecta da
26 AGOSTO 2016