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REVISTA DA ARMADA | 511
SAÚDE PARA TODOS 38
GRIPE
A gripe é uma doença facilmente contagiosa que se deve à infeção das vias respiratórias pelo vírus Influenza. Apesar de ser uma doença
distinta da constipação (rinofaringite), com gravidade menor, muitas pessoas ainda as confundem. A gripe tem um elevado custo económi-
co para a sociedade, não só pela perda de produtividade laboral, mas também pelas despesas com os tratamentos e medidas preventivas.
Introdução e terceiro dias da doença sejam os
A gripe é uma doença aguda das vias aéreas, dias de maior risco de contágio.
sazonal (em Portugal ocorre geralmente entre
novembro e março), causada pela infeção com Diagnóstico
o vírus Influenza. Estes vírus têm a particulari- O diagnóstico é clínico, através
dade de sofrerem alterações frequentes na sua dos sintomas e sinais. É importan-
superfície, devido a mutações genéticas, tor- te saber diferenciar gripe de cons-
nando o nosso organismo incapaz de manter tipação, que é menos grave. Uma
a imunidade para esta doença a longo prazo. constipação é uma doença das vias
Daí que anualmente a vacina contra este vírus aéreas superiores, causada por
tenha de ser alterada. A OMS credenciou 112 mais de 200 tipos de vírus diferen-
centros nacionais de monitorização da gripe, tes. Raramente causa febre alta ou
espalhados por todo o mundo, cuja função é dores musculares/articulares. Na constipação Prevenção
captar os vírus circulantes na população em de- predominam os sintomas respiratórios, que A probabilidade de contágio diminui evitan-
terminado momento e estudá-los. Assim, as va- surgem de forma gradual: obstrução nasal, dor do contactar com pessoas infetadas com gripe
cinas que são produzidas anualmente refletem de garganta, tosse produtiva e espirros. e lavando frequentemente as mãos. Também
os vírus em circulação naquele período recente. a pessoa doente deve evitar transmitir a gri-
Tratamento pe: tentar isolar-se até à recuperação, tossir/
Manifestações Clínicas Sempre que possível, tentar contactar tele- /espirrar protegendo sempre a boca com o
No adulto manifesta-se de forma súbita 1-2 fonicamente o seu médico/enfermeiro antes antebraço (e não com as mãos!), usar lenços
dias após o contágio: febre alta, mal-estar geral, de ir ao serviço de saúde. Em alternativa, con- de papel descartáveis e, após os usar, deitá-los
fadiga acentuada, dores musculares, articulares tactar a linha SAÚDE 24 (808 24 24 24) e seguir imediatamente no lixo e lavar frequentemente
e de cabeça. Também podem estar presentes: as instruções dos profissionais que o atende- as mãos com água e sabonete.
tosse seca, congestão nasal, secreções nasais, ir- rem. Esta atitude preventiva é crucial para a Portugal dispõe de vacinas contra a gripe.
ritação ocular e dores de garganta. Nas crianças sua proteção, mas também das outras pessoas A vacina não contém vírus vivos pelo que não
as manifestações mais comuns são a febre e a que estão nas salas de espera dos serviços de pode provocar a doença (contudo, as pesso-
prostração, contudo os sintomas gastrointesti- saúde. Em casa, o tratamento passa por medi- as vacinadas podem contrair outras infeções
nais (náuseas, vómitos, diarreia) e respiratórios das gerais: repouso, beber muita água, evitar respiratórias virais). A vacina atua levando o
(laringite, bronquiolite) também são frequentes. o consumo de álcool e tabaco, analgésicos e sistema imunitário a reagir da mesma forma
antipiréticos se temperatura axilar >38 C (ex: como se estivesse infetado, produzindo anti-
Ο
Transmissão paracetamol 1g de 8/8h). Se houver congestão corpos contra o vírus (neste processo podem
Ocorre maioritariamente através da inalação nasal, além da aplicação de soro fisiológico existir alguns sintomas leves semelhantes aos
de secreções das vias respiratórias que uma podem ser usados sprays descongestionantes da gripe, de curta duração). Assim, em caso
pessoa infetada liberta ao falar, espirrar ou tos- nasais e comprimidos anti-histamínicos. Os an- de infeção, a gravidade dos sintomas e o risco
sir. Também pode haver contágio através das tibióticos não devem ser tomados numa gripe de complicações com hospitalizações/morte é
mãos já que se estas tocarem em superfícies pois eles atuam sobre infeções bacterianas, muito menor. A vacina deve ser administrada
contaminadas com secreções respiratórias de não sobre infeções virais, que é o caso da gri- todos os anos, preferencialmente até novem-
uma pessoa infetada podem levar o vírus dire- pe! Pode haver necessidade de fazer medica- bro, à população de risco acima dos 6 meses
tamente para a boca, nariz e olhos. Uma pes- ção antiviral. Devem ser adotados hábitos de de idade, particularmente aos portadores de
soa contaminada com o vírus da gripe torna-se prevenção, de forma a não contagiar as pesso- doenças crónicas (destaco os doentes pulmo-
contagiosa para outra pessoa no dia anterior ao as que convivem consigo. nares, cardíacos, hepáticos ou renais, diabéti-
aparecimento dos primeiros sintomas e perma- A recuperação total habitualmente ocorre ao cos, transplantados, pessoas com infeção VIH
nece contagiosa por mais 5-6 dias (adultos) ou fim de uma semana. Nos idosos e nos doentes ou cancro) e aos idosos residentes em institui-
até 10-15 dias (crianças e imunodeprimidos). crónicos a recuperação pode ser mais longa e o ções.
Quanto mais alta for a febre, maior é a quanti- risco de complicações ser maior: pneumonia e
dade de vírus libertada nas secreções, portanto descompensação da doença de base (ex: asma, Ana Cristina Pratas
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mais contagiosa é a pessoa. Daí que o segundo diabetes, doença cardíaca, pulmonar ou renal). www.facebook.com/participanosaudeparatodos
30 SETEMBRO/OUTUBRO 2016