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REVISTA DA ARMADA | 511
ESTÓRIAS 25
UM HOMEM PEQUENINO
ois anos depois da Coroação de Isa-
Dbel II do Reino Unido (2 de Junho de
1953), em que o “Bartolomeu Dias” es-
teve presente nessas festividades e a sua
guarnição convidada para outras tantas,
eis que se apresta para mais uma viagem,
agora presidencial e protagonizada pelo
General Craveiro Lopes.
20 de Outubro de 1955. Atracados
na Gare Marítima de Alcântara que está
cheia de curiosos e a sua varanda apinha-
da, vestida com bandeiras inglesas e por-
tuguesas, intercaladas.
Já a bordo, dois convidados para esta
viagem. Figuras bem conhecidas como o
conceituado jornalista Maurício de Olivei-
ra, ex-director do diário “A Capital”, o fun-
dador da “Revista da Marinha”, que cobria
Guerra, Mercante e Pescas e assim muito
ligado às coisas do mar, e o não menos
conhecido Perdigão Queiroga, cineasta e
fotógrafo de reconhecido mérito, realizador de “ O Fado. História Entretanto, a guarnição aproveitava a estada para conhecer a
de uma Cantadeira”, com Amália Rodrigues, e que tinha a parti- Trafalgar Square onde, no cimo de uma enorme coluna, se impõe
cularidade de tratar toda a gente por tu. Digo-o por experiência o grande almirante Nelson; o Hyde Park; o impressionante Mu-
própria, que muito me honrou, e também grato pelo que me en- seu Madame Tussauds, o das máscaras de cera; a visita guiada
sinou. à Torre de Londres, onde foi possível admirar a Coroa Real e as
Então, sim. Com o cerimonial habitual (Hino Nacional, salvas jóias nela incrustadas (cada uma delas com a sua história), tudo
pelas “hotchkiss” e uma esquadrilha de bimotores da Força Aé- muito bem protegido; e, já cá em baixo, no terreiro, o local onde
rea passando sobre nós, atroando os ares), entra a bordo o nos- se decepavam as cabeças (dos que não mereciam a honra de ser
so Presidente, General Craveiro Lopes, logo seguido de Dª Berta enforcados); o sempre espectacular “render da guarda” no já ci-
Craveiro Lopes que vem acompanhada por Dª Maria Amélia Pitta tado Palácio (exercício que muito se tenta imitar por cá, mas sem
e Cunha, esposa do Ministro dos Negócios Estrangeiros Paulo sucesso), e umas andanças, sem destino, no “underground”, que
Cunha. nos (éramos quatro) deixou felicíssimos. Por último, a visita do
Toca à faina e… chegados ao sinuoso Tamisa, meteu-se pilo- nosso Presidente e Dª Berta Craveiro Lopes ao City Hall, onde
to que, na ponte alta do navio, cumprimenta, efusivamente, o chegaram num “landau” aberto, puxado por dois cavalos brancos
Comandante Sarmento Rodrigues, um outro oficial superior (do e com cocheiro de libré. Aguardava-os uma guarda de honra, um
qual perdi o nome) e o tenente Raposo, oficial de quarto. Depois, pelotão militar ao qual o General Craveiro Lopes passou demo-
a “Tower Bridge”, que levantou as duas passarelas basculantes rada, solene, revista e, de seguida, a visita ao edifício, que tinha
para o “Bartolomeu Dias” passar, e logo a atracação perto da Tor- içada a bandeira portuguesa.
re de Londres. Entram a bordo altas figuras como Lord Mountbat- E desta visita presidencial a uma nação que tem em Portugal
ten, muitas senhoras, altos postos da Marinha Inglesa e o nosso o seu mais velho aliado, pelo representante dum povo que lhes
embaixador em Londres, Pedro Theotónio Pereira. A recebê-los, ensinou, pela cortesia de Catarina de Bragança, a beber chá, vem
o nosso Comandante Sarmento Rodrigues, o Imediato, CFR Pinto a notícia, lida num jornal londrino, referindo-se ao nosso Presi-
Bastos Carreira, e a presença do jornalista Maurício de Oliveira. dente como “um homem pequenino”.
Após demorados e cerimoniosos cumprimentos, o desembarque Fim da visita e regresso ao mar… de que já tinha saudades.
do nosso presidente, de Dª Berta Craveiro Lopes e demais comi-
tiva. Segundo informações que nos chegaram, o casal presiden- Teodoro Ferreira
cial ficará alojado no Palácio de Buckingham, em Westminster. 1TEN SG REF
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