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REVISTA DA ARMADA | 515
SESSÃO SOLENE
AS CORVETAS DOS ANOS 70
No passado dia 3 de novembro realizou-se na Escola Naval (EN) a nholas da classe “Descubierta” e as corvetas argentinas da classe
sessão solene dedicada às Corvetas das Classes João Coutinho e “MEKO 140”.
Baptista de Andrade, presidida pelo Almirante CEMA/AMN, estan-
do presentes na mesa o CALM Rogério d´Oliveira, o Comandante Concluiu afirmando que a excelência do projeto é um testemu-
da EN, COM Henriques Gomes, o CALM ECN Balcão Reis, o CMG nho vivo do muito que a Marinha e o País devem a esses navios e
Ribeiro Zilhão, o CMG Geraldes Freire e o CMG Beça Gil. ao seu projetista, o CALM Rogério d´Oliveira.
Após abertura da sessão pelo ALM CEMA/AMN, que evocou as Seguidamente usou da palavra o CMG Sérgio Zilhão, que apre-
corvetas dos anos 70 como um projeto genuinamente português, sentou o seu testemunho como comandante da João Coutinho, em
a apresentação dos oradores esteve a cargo do CMG Beça Gil, que missão em Moçambique de NOV 70 a DEZ 72. Referiu que o navio
salientou o facto de a sessão ter lugar na casa de formação dos fu- rendeu a fragata Pacheco Pereira, tendo recebido as missões de ro-
turos oficiais da Armada, constituindo uma oportunidade para re- tina atribuídas às fragatas: missão de patrulha, a sul, com base na
cordar o sucesso do projeto e lembrar todos os oficiais, sargentos cidade da Beira, e de soberania e salvaguarda do livre acesso dos
e praças que guarneceram e guarnecem os navios que, há mais de navios mercantes, justificada pelo bloqueio naval imposto pela In-
quatro décadas, vêm prestando valiosos serviços à Marinha e ao glaterra àquele porto; e missão de patrulha, a norte, com base em
País. Porto Amélia, em que, para além da fiscalização da costa, o navio
apoiava as operações de fuzileiros. Quanto às características do na-
O primeiro orador, CALM ECN Balcão Reis, apresentou a comu- vio, salientou a manobrabilidade, a polivalência, o comportamento
nicação subordinada ao tema Corveta anos 70. Um projecto ge- excelente com mau mar, tendo o calado “quanto basta” para per-
nuinamente português. Começou por referir que o CALM Rogério mitir a entrada em muitos locais e a velocidade, que possibilitou um
d´Oliveira, quando em março de 1965 assumiu a chefia do projeto ritmo elevado de missões, das quais destacou as mais relevantes
das corvetas, considerou necessária uma redefinição do navio a realizadas. Terminou fazendo referência à cerimónia do fim de vida
construir, o que levou à revisão dos requisitos iniciais e à produção ativa do navio, realizada em agosto de 2014, que fora uma iniciativa
do documento que ficou conhecido por “PREÂMBULO, Projecto que não só honrou quem a determinou, como prestigiou aqueles
Preliminar” das corvetas, apresentado em fevereiro de 1966, preci- que no navio tinham servido.
samente há cinquenta anos. Em abril de 1968 foi contratada a cons-
trução de dois navios na Blohm+Voss e outros dois na Bazan, e em A última intervenção esteve a cargo do CMG Geraldes Freire, que
julho, por adicional ao contrato, mais dois navios, um em cada esta- falou da sua experiência como comandante da corveta Baptista de
leiro. Foram criadas Delegações da Direção de Construções Navais Andrade, no período de 1976/77.
em Hamburgo e Cartagena e uma sub-delegação em Cádis.
Fez referência ao armamento e equipamento do navio, com es-
Relativamente ao projeto, disse que os navios foram concebidos pecial relevância para os seus sensores. Lembrou que o navio fora
com generosas margens em relação ao peso, estabilidade, potência indigitado para render a Afonso Cerqueira, em Timor, pelo que en-
elétrica, áreas e volumes, o que veio a permitir a substituição de trou num período de exercícios, para treino da guarnição e teste de
equipamentos e montagem de novas armas. O armamento escolhi- todo o equipamento e armamento. Desde logo as performances do
do para a primeira série seguiu uma exigente e espartana definição. navio foram largamente evidenciadas, tanto pela sua excelente ma-
Os alojamentos e o conforto da guarnição apresentavam um impor- nobrabilidade como pela fiabilidade dos seus equipamentos tendo,
tante avanço em relação às fragatas da classe Almirante Pereira da em todos os exercícios, o seu comportamento sido bastante acima
Silva e ombreavam, não obstante a diferença de dimensões, com as da média. Como a missão inicial foi cancelada, o navio passou a de-
fragatas da classe Comandante João Belo. A instalação propulsora sempenhar as suas missões habituais de patrulha oceânica da ZEE,
deveria ser robusta e de fácil condução e manutenção, pelo que se serviço SAR e fiscalização das pescas. Cumpriu também diversas co-
apontou para motores diesel de baixa velocidade de rotação e aco- missões no Arquipélago dos Açores onde, para além das suas mis-
plamento direto. Neste ponto, como em tantos outros, houve que sões habituais, apoiou as populações, principalmente em períodos
optar e fazer compromissos, como é atributo do projetista. Deste de mau tempo. Terminou referindo o embarque de uma delegação
equilíbrio e do bom senso resultou a virtude do projeto. da marinha da Colômbia, que ficou muito bem impressionada com
o excelente comportamento do navio, principalmente com a sua
No projeto foram aplicados conceitos que eram, para a época, capacidade de manobra em espaços restritos.
inovadores. A grande inovação foi o desenho da própria corveta,
inspiradora de outros vários projetos, como são as corvetas espa- Colaboração do CMG BEÇA GIL
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