Page 29 - Revista da Armada
P. 29
REVISTA DA ARMADA | 517
RECORDANDO
IRMÃOS DE ARMAS
ão sei se sempre foi assim ou sequer se ainda hoje o é, mas o que Para além do local, a falta da claque habitual (como era dia de aulas
Nsei é que quando era cadete da Escola Naval a rivalidade com a não houve dispensa) constituiu mais um fator de constrangimento.
Academia Militar assumia, na área desportiva, aquela em que mais Foi para esse jogo que entrei pela primeira, e até hoje única, vez na
contactos existiam, uma rivalidade com características, por vezes, de Academia Militar e confesso que, tal como os restantes membros da
alguma violência. equipa, me senti intimidado pela “ multidão “ de cadetes do Exército,
Sempre que ocorria uma qualquer competição entre as duas esco- habituais opositores, entre os quais se viam muitos dos 1º e 2º ano, si-
las militares era certo e sabido que ocorriam várias coisas, desde as nal de que tinha havido convocação extraordinária, na Amadora, para
numerosas claques, que chegavam a incluir professores de cada uma aquela ocasião, julgo ter tido, na altura, uma noção aproximada do
delas, que não cessavam de mutuamente se invectivar, até à excessiva que sentiriam os condenados às feras no coliseu de Roma.
virilidade, não raro raiando a violência entre os participantes e, nuns Cedo, no entanto, foi a situação clarificada pelo cadete seccionista
casos, não só. da Academia que nos explicou que, igualmente revoltados com o que
Um dos jogos em que tal foi notório ocorreu num torneio de rugby nos haviam feito no campeonato, os cadetes do Exército haviam deci-
de 7 em que o jogo entre as duas equipas terminou em empate, em- dido apoiar a equipa da Marinha como se fosse a sua.
pate não pontual, mas sim no número de cadetes que tiveram de rece- Posso garantir que, passados os instantes iniciais, foi com grande
ber tratamento hospitalar, ao que julgo lembrar-me 5 em cada equipa. espanto e posterior satisfação que sentimos o apoio constante duran-
Na sequência de um processo que então foi considerado muito pou- te todo o jogo sentindo-nos como se estivéssemos a jogar em casa.
co claro a equipa de andebol da Escola Naval viu-se preterida relativa- Apesar da agradável sensação, e do convite para ali celebrarmos,
mente a uma outra, quando em igualdade pontual no campeonato, logo que terminou o jogo, ganho por nós com um golo do Garoupa
para representar Lisboa no campeonato nacional universitário. na última jogada, seguimos de imediato para a Escola Naval porque,
Imagine-se pois qual o estado de espírito dos jogadores da E. Na- como referiu um dos camaradas mais modernos:
val quando tomaram conhecimento que o jogo decisivo entre as duas “É melhor irmo-nos já embora antes que isto lhes passe”.
equipas em igualdade pontual iria ocorrer no ginásio da Academia Mi-
litar, em Gomes Freire. Cmdt. E. Gomes
LIVROS
"ENGENHARIA E ARQUITETURA NAVAL"
No passado dia 7 de Dezembro foi lançado térias são, sempre que possível, consideradas
na Ordem dos Engenheiros o manual “Enge- nas óticas de construção, manutenção e repa-
nharia e Arquitetura Naval”, da autoria do CFR ração naval.
ECN REF Óscar Napoleão F. Mota. É uma edi- A conjugação do rigor teórico com os aspe-
ção do autor, com a parceria da LISNAVE e o tos práticos, será a sua imagem de marca.
apoio da Associação das Indústrias Navais. Dos comentários já publicados podemos sa-
O manual é um tanto original na organi- lientar (em transcrição parcial):
zação visando, como consta na contracapa, O do Almirante ECN Rogério de Oliveira – “A
torná-lo interessante não só para estudantes, impressão que me deixou é que se trata de
mas sobretudo para técnicos com responsa- uma obra notável pela sua dimensão, rigor e
bilidade em atividades de engenharia naval: sentido prático, focando com maior ou menor
engenheiros sobretudo, mas também oficiais profundidade todas as áreas do conhecimento O Engº Óscar Mota concluiu a licenciatura de
de marinha, desenhadores e diversos espe- relativo à construção naval, lato sensu”. Marinha da Escola Naval em 1952 e o curso de
cialistas, que trabalhem em estaleiros navais O do Presidente da Escola Superior Náutica engenharia naval e mecânica na Universidade de
(construção, manutenção e reparação), em Infante D. Henrique, Engº Luís Baptista – “Esta Génova em 1960, deixando pelo meio alguns anos
de navegação no Oriente. Trabalhou na Inspeção
gabinetes de projeto, ou sejam prestadores de obra é extremamente completa sobre os di- de Construção Naval (organismo antecessor da
serviços técnicos da área naval. versos assuntos da engenharia e arquitetura Direção de Navios) e foi diretor técnico do Arsenal
Embora com ênfase na arquitetura naval naval, constituindo um auxiliar precioso para do Alfeite, tendo passado à reserva em 1975. Foi
em sentido restrito, a engenharia naval foi estudantes de cursos de arquitetura naval, en- depois diretor técnico, diretor de produção e
administrador dos Estaleiros Navais de Viana do
considerada no seu sentido mais amplo, isto genharia de máquinas marítimas da ENIDH e Castelo, administrador da Lisnave, presidente da
é: hidrostática, resistência estrutural, hidrodi- de outros cursos de engenharia.” Setenave e presidente executivo da Sorefame.
nâmica, mecânica e eletrotecnia (capítulo de O livro pode ser adquirido na Ordem dos É sócio honorário da Associação das Indústrias
Navais e membro emérito da Academia de Marinha
certo modo original neste tipo de manuais), Engenheiros, na Associação das Indústrias Na- e da American Society of Naval Engineers.
regulamentação e iniciação ao projeto. As ma- vais, ou através do site http://www.ain.pt.
ABRIL 2017 29