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REVISTA DA ARMADA | 517

          RECORDANDO


          IRMÃOS DE ARMAS




             ão sei se sempre foi assim ou sequer se ainda hoje o é, mas o que   Para além do local, a falta da claque habitual (como era dia de aulas
         Nsei é que quando era cadete da Escola Naval a rivalidade com a   não houve dispensa) constituiu mais um fator de constrangimento.
          Academia Militar assumia, na área desportiva, aquela em que mais   Foi para esse jogo que entrei pela primeira, e até hoje única, vez na
          contactos existiam, uma rivalidade com características, por vezes, de   Academia Militar e confesso que, tal como os restantes membros da
          alguma violência.                                   equipa, me senti intimidado pela “ multidão “ de cadetes do Exército,
           Sempre que ocorria uma qualquer competição entre as duas esco-  habituais opositores, entre os quais se viam muitos dos 1º e 2º ano, si-
          las militares era certo e sabido que ocorriam várias coisas, desde as   nal de que tinha havido convocação extraordinária, na Amadora,  para
          numerosas claques, que chegavam a incluir professores de cada uma   aquela ocasião, julgo ter tido, na altura, uma noção aproximada do
          delas, que não cessavam de mutuamente se invectivar, até à excessiva   que sentiriam os condenados às feras no coliseu de Roma.
          virilidade, não raro raiando a violência entre os participantes e, nuns   Cedo, no entanto, foi a situação clarificada pelo cadete seccionista
          casos, não só.                                      da Academia que nos explicou que, igualmente revoltados com o que
           Um dos jogos em que tal foi notório ocorreu num torneio de rugby   nos haviam feito no campeonato, os cadetes do Exército haviam deci-
          de 7 em que o jogo entre as duas equipas terminou em empate, em-  dido apoiar a equipa da Marinha como se fosse a sua.
          pate não pontual, mas sim no número de cadetes que tiveram de rece-  Posso garantir que, passados os instantes iniciais, foi com grande
          ber tratamento hospitalar, ao que julgo lembrar-me 5 em cada equipa.  espanto e posterior satisfação que sentimos o apoio constante duran-
           Na sequência de um processo que então foi considerado muito pou-  te todo o jogo sentindo-nos como se estivéssemos a jogar em casa.
          co claro a equipa de andebol da Escola Naval viu-se preterida relativa-  Apesar da agradável sensação, e do convite para ali celebrarmos,
          mente a uma outra, quando em igualdade pontual no campeonato,   logo que terminou o jogo, ganho por nós com um golo do Garoupa
          para representar Lisboa no campeonato nacional universitário.  na última jogada, seguimos de imediato para a Escola Naval porque,
           Imagine-se pois qual o estado de espírito dos jogadores da E. Na-  como referiu um dos camaradas mais modernos:
          val quando tomaram conhecimento que o jogo decisivo entre as duas   “É melhor irmo-nos já embora antes que isto lhes passe”.
          equipas em igualdade pontual iria ocorrer no ginásio da Academia Mi-
          litar, em Gomes Freire.                                                                    Cmdt. E. Gomes


          LIVROS


          "ENGENHARIA E ARQUITETURA NAVAL"


           No passado dia 7 de Dezembro foi lançado   térias são, sempre que possível, consideradas
          na Ordem dos Engenheiros o manual “Enge-  nas óticas de construção, manutenção e repa-
          nharia e Arquitetura Naval”, da autoria do CFR   ração naval.
          ECN REF Óscar Napoleão F. Mota. É uma edi-  A conjugação do rigor teórico com os aspe-
          ção do autor, com a parceria da LISNAVE e o   tos práticos, será a sua imagem de marca.
          apoio da Associação das Indústrias Navais.  Dos comentários já publicados podemos sa-
           O  manual  é  um  tanto  original  na  organi-  lientar (em transcrição parcial):
          zação  visando,  como  consta  na  contracapa,   O do Almirante ECN Rogério de Oliveira – “A
          torná-lo interessante não só para estudantes,   impressão que me deixou é que se trata de
          mas sobretudo para técnicos com responsa-  uma obra notável pela sua dimensão, rigor e
          bilidade  em  atividades  de  engenharia  naval:   sentido prático, focando com maior ou menor
          engenheiros sobretudo, mas também oficiais   profundidade todas as áreas do conhecimento   O  Engº  Óscar  Mota  concluiu  a  licenciatura  de
          de  marinha,  desenhadores  e  diversos  espe-  relativo à construção naval, lato sensu”.  Marinha  da  Escola  Naval  em  1952  e  o  curso  de
          cialistas, que trabalhem em estaleiros navais   O do Presidente da Escola Superior Náutica   engenharia naval e mecânica na Universidade de
          (construção,  manutenção  e  reparação),  em   Infante D. Henrique, Engº Luís Baptista – “Esta   Génova em 1960, deixando pelo meio alguns anos
                                                                                 de navegação no Oriente. Trabalhou na Inspeção
          gabinetes de projeto, ou sejam prestadores de   obra é extremamente completa sobre os di-  de  Construção  Naval  (organismo  antecessor  da
          serviços técnicos da área naval.   versos assuntos da engenharia e arquitetura   Direção de Navios) e foi diretor técnico do Arsenal
           Embora  com  ênfase  na  arquitetura  naval   naval, constituindo um auxiliar precioso para   do Alfeite, tendo passado à reserva em 1975. Foi
          em  sentido  restrito,  a  engenharia  naval  foi   estudantes de cursos de arquitetura naval, en-  depois  diretor  técnico,  diretor  de  produção  e
                                                                                 administrador  dos  Estaleiros  Navais  de  Viana  do
          considerada no seu sentido mais amplo, isto   genharia de máquinas marítimas da ENIDH e   Castelo,  administrador  da  Lisnave,  presidente  da
          é: hidrostática, resistência estrutural, hidrodi-  de outros cursos de engenharia.”  Setenave  e  presidente  executivo  da  Sorefame.
          nâmica, mecânica e eletrotecnia (capítulo de   O livro pode ser adquirido na Ordem dos   É  sócio  honorário  da  Associação  das  Indústrias
                                                                                 Navais e membro emérito da Academia de Marinha
          certo modo original neste tipo de manuais),   Engenheiros, na Associação das Indústrias Na-  e da American Society of Naval Engineers.
          regulamentação e iniciação ao projeto. As ma-  vais, ou através do site http://www.ain.pt.



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