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REVISTA DA ARMADA | 518
Stratεgia 31
O valor económico do mar
INTRODUÇÃO
o longo dos tempos, o mar tem desem-
Apenhado um papel central no desenvolvi-
mento da humanidade, primeiro como fonte
de alimentos, posteriormente como meio de
transporte de pessoas e bens e, mais recen-
temente, como fornecedor de recursos de
maior valor, sobretudo energéticos. Estimativas
conservadoras da OCDE indicam que as ativi-
dades económicas ligadas ao mar foram res-
ponsáveis, em 2010, por 1,5 biliões de dólares
(1 500 000 000 000 dólares), correspondendo
aproximadamente a 2,5% do Valor Acrescen-
tado Bruto da economia mundial. Além disso,
a economia do mar gerou cerca de 31 milhões
de empregos diretos e a tempo inteiro, a que se
somam bastantes mais indiretos e/ou a tempo
parcial.
O propósito deste texto é detalhar um pou-
co melhor o valor económico do mar, incidindo
esta análise (necessariamente sucinta) nos usos mais tradicio- TRANSPORTE MARÍTIMO
nais, nomeadamente o aproveitamento dos recursos piscícolas,
o transporte marítimo e a exploração dos recursos energéticos. O transporte marítimo tem tido, a nível mundial, um crescimen-
to muito forte, apesar da crise económico-financeira de 2008, que
RECURSOS PISCÍCOLAS até provocou uma contração pontual no setor em 2009.
Esta tendência deve-se a dois fatores principais: o seu baixo
De acordo com os dados mais recentes da Food and Agricultu- custo comparativo e o incremento do comércio internacional,
re Organization (FAO), da ONU, a pesca e a aquacultura produzi- decorrente do processo de globalização. De acordo com a base
ram, em 2014, 167,2 milhões de toneladas de pescado em todo de dados Equasis, da Comissão Europeia, o número de navios
o mundo, o valor mais elevado desde que há registos. Além disso, mercantes existentes em todo o mundo, em 2015, ascendia a
o peixe forneceu cerca de 17% das proteínas animais consumidas 87 233, incluindo, entre outros, navios de carga, porta-conten-
em todo o mundo. tores, navios Ro-Ro (Roll on/Roll off), graneleiros, navios-tanque
As perspetivas futuras – embora não sejam extraordinárias, e navios de passageiros. A estes navios corresponde uma ca-
devido à diminuição dos stocks pesqueiros (31,4% das espécies pacidade de carga de 1210 milhões de toneladas. Essa frota de
são objeto de sobre-pesca e 58,1% encontram-se plenamente navios mercantes transporta cerca de 10 mil milhões de tonela-
exploradas) – apontam para um crescimento sustentado, em das, a cada ano, correspondentes a cerca de 90% do comércio
virtude do aumento da apetência pelo consumo de pescado, mundial, incluindo quase 2/3 do petróleo extraído em todo o
fruto da consciência dos seus benefícios para a saúde humana. mundo.
Nesta ótica, estima-se que a produção total dos segmentos da Entretanto, três novidades tenderão a alterar alguns dos para-
pesca e da aquacultura cresça a uma taxa de 1,5% ao ano até digmas atuais do transporte marítimo, contribuindo ainda mais
2025. Este crescimento vai-se dever sobretudo à aquacultura, para o reforço da sua importância:
cuja produção de pescado para consumo humano ultrapassou, • O novo Canal do Suez, inaugurado em agosto de 2015, que veio
pela primeira vez, em 2014 a pesca. Com efeito, a piscicultura permitir a passagem de navios em direções opostas, ao mesmo
tem aumentado significativamente e – após um período, entre tempo;
os anos ’70 e o início do século, em que cresceu a quase 10% ao • O alargamento do Canal do Panamá, concluído em 2016 e que
ano – ainda apresenta perspetivas de crescimento de cerca de vem permitir o aumento do número de trânsitos pelo canal e a
3% ao ano, até 2025. passagem de navios de maiores dimensões; e
4 MAIO 2017