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REVISTA DA ARMADA | 518
já correspondem a cerca de 30% da produção mundial desses
hidrocarbonetos, sendo que a OCDE aponta para que a produ-
ção de combustíveis fósseis offshore cresça, em média, cerca de
3,5% ao ano, até 2030 – um crescimento muito alavancado no
facto de os espaços marítimos albergarem cerca de 37% das re-
servas petrolíferas estimadas, das quais cerca de 1/3 em águas
profundas. Naturalmente, a aposta nas explorações ao largo da
costa tem variado em função do preço do petróleo e do gás, au-
mentando quando os respetivos preços sobem, pois isso torna
rentáveis poços a maiores profundidades. De qualquer maneira,
os analistas consideram que a maior parte das explorações de
petróleo offshore serão rentáveis se o preço do petróleo andar
na ordem dos 80 dólares por barril.
Energia eólica
Valor da economia do mar (dados de 2010)
• A perspetiva de abertura da “passagem do noroeste” (rota ma- Os espaços marítimos têm surgido, ultimamente, como uma
rítima que liga o Atlântico e o Pacífico através do oceano Ártico). alternativa bastante atraente para as energias renováveis, no-
Esta passagem só tem sido transitável no Verão, mas a diminui- meadamente para a energia do vento. Quando se iniciou o in-
ção dos gelos polares, devido ao aquecimento global, vai torná- vestimento na energia eólica offshore (em 1991, na costa da ilha
-la utilizável anualmente por períodos cada vez mais alargados, dinamarquesa de Lolland), as turbinas eram sempre instaladas a
possibilitando uma redução de 2700 a 5000 milhas na passagem pouca profundidade, empregando-se modelos muito semelhan-
do Atlântico para o Pacífico e vice-versa. tes aos instalados em terra. Todavia, progressivamente, foi-se
Esses fatores, associados à expansão económica previsível, aumentando a profundidade de instalação dos parques eólicos,
apontam para um crescimento do transporte marítimo de 4,1% graças à evolução da tecnologia das fundações submarinas e ao
ao ano entre 2017 e 2019, 4% ao ano de 2020 a 2029, e 3,3% desenvolvimento de turbinas de vento flutuantes.
entre 2030 e 2040. Isso contribuiu para que os custos por unidade de energia eóli-
ca produzida no mar e em terra se aproximassem bastante, pois
RECURSOS ENERGÉTICOS as mais elevadas despesas de investimento e de exploração nos
parques offshore são compensadas pela economia de escala pos-
O aumento das necessidades mundiais de energia tem levado sibilitada pela maior dimensão desses empreendimentos e pela
a procurar no mar, quer novas jazidas de combustíveis fósseis, circunstância de o vento soprar sobre os oceanos com mais for-
quer novas formas de energia. Algumas delas ainda se encon- ça e mais consistência do que em terra. Isso faz com que todas
tram em fases de desenvolvimento muito iniciais e distantes de as projeções apontem para um crescimento muito significativo
uma exploração rentável. Face ao exposto, apenas se abordarão, da energia eólica offshore, assistindo-se, nos últimos anos, à
neste artigo, os combustíveis fósseis (petróleo e gás natural) e a expansão desta indústria das zonas costeiras para regiões cada
energia eólica. vez mais afastadas da costa, onde há mais espaço disponível e
menos concorrência em termos de usos do mar. Por tudo isso,
Combustíveis fósseis a exploração eólica offshore foi a indústria que mais cresceu
na Europa desde 2007, havendo ainda ótimas perspetivas de
No que respeita aos combustíveis fósseis, a progressiva exaus- crescimento. Com efeito, projeções do final de 2014 apontavam
tão das reservas existentes em terra tem contribuído para o para um crescimento deste setor de atividade de 28% ao ano, a
incremento da sua prospeção e exploração nos espaços maríti- nível mundial, até 2020.
mos. Nessa linha, o petróleo e o gás natural extraídos do mar
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Naturalmente, a avaliação do valor económico do mar não se
deve cingir aos usos atuais, devendo incluir o imenso valor da sua
utilização vindoura. Neste âmbito, importa referir que o estudo
da OCDE mencionado no início deste artigo antecipa que o peso
da economia do mar possa mais do que duplicar até 2030, pas-
sando a corresponder a 3 biliões de dólares (3 000 000 000 000
dólares) e gerando cerca de 40 milhões de empregos diretos e
a tempo inteiro. Para isso contribuirão algumas utilizações que
ainda estão embrionárias mas que perspetivam elevada rentabi-
lidade. São essas utilizações que abordarei no artigo da próxima
edição, dedicado aos novos usos do mar.
Sardinha Monteiro
Valor da economia do mar (projeção para 2030) CMG
MAIO 2017 5