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REVISTA DA ARMADA | 521
NOVAS HISTÓRIAS DA BOTICA 62
A ÚLTIMA FOLHA NA ÁRVORE
Sou a última folha desta árvore deverá ser pela sua eterna boa disposição que ainda está entre
O vento, o frio e a neve levaram as outras nós, após tantos anos, e com uma mente tão viva…
Mas ainda me não conseguiram fazer cair Ora, certo dia, um médico civil, conhecedor do Sistema de Saúde
Sou a última folha na árvore Militar, espantava-se na minha presença pelo facto de, apesar das
Já vi muitas Primaveras dificuldades estruturais, o Hospital continuar a ter a preferência
Sequei no Estio de muitos militares. Este facto, que tem sido fonte de análise,
Mas ainda sei quem sou por entidades militares e civis, só pode ser explicado pela forte
Sou a última folha desta árvore ligação que os ex-militares guardam à Instituição Militar
como um todo e à memória da assistência médica que lhes
Poema adaptado de autor incerto
foi prestada ao longo de uma vida, pelas estruturas mili-
tares de saúde. Ora, grande parte dos que insistente-
ntrou lenta e vagarosamente, mente teimam em confiar são, precisamente, os mais
Epois a idade já não é para pres- antigos – verdadeiramente as últimas folhas ainda na
sas, sempre apoiado numa ben- árvore da sua geração…
gala decorada com motivos exó- Se tivermos em conta que a velhice pode trazer
ticos de temática asiática. A visão amarguras, mas as alternativas são bem menos agra-
traiu-o e passou por mim, sem me dáveis, chegaremos à conclusão, simples e lógica,
reconhecer, no átrio da entrada de que a velhice é algo desejável. Neste sentido, eu
principal do Hospital das Forças gostaria de acreditar, com especial orgulho nestes
Armadas (HFAR), cumprimentando tempos conturbados, que se estes verdadeiros cava-
o Sr. Comandante que ali estava…. lheiros nos dão a honra de os seguirmos na doença,
Enquanto o vi entrar calculei mental- apesar das múltiplas alternativas que agora existem, há
mente a sua idade, deveria ter 96, ou mesmo uma forte mensagem a retirar… A mensagem de que vale
mais anos… Foi meu doente, durante muito a pena continuar… Nos dias de maiores dificuldades penso
tempo, na Cardiologia do velho Hospital da Marinha… nesta verdade e acredito que esta “fé”, por eles demonstrada, é
Lancei-lhe um provocador: importante e que, sim, vale a pena lutar…
– Então é assim que se cumprimentam os amigos? A história, dizem alguns intelectuais, faz-se todos os
Foi então que sorriu, estou certo que reconheceu a voz, e de dias. Eu e, acredito profundamente, muitos outros
forma séria retorquiu: militares fizemos e fazemos a nossa própria história.
– Olha, é o meu amigo Dr. Cobre! Na verdade, quando marinheiros com quase um século de navega-
– Ó Sr. Sargento, não me troque o nome – retorqui a sorrir – já me ções, no mar e na vida, nos procuram pelo seu próprio pé, só pode-
está a despromover, na qualidade do metal. Diga antes Dr. Prata, ou remos pensar que vale a pena sorrir… Fica aqui um abraço apertado
mesmo Ouro – Sorriu, então, por sua vez, com prazer. para este grande marinheiro e amigo…
Chegou a filha que o acompanhava. Acompanhei-os à sala de O nosso mundo precisa de pessoas da sua estirpe e eu, um escri-
espera. Vinha fazer análises. Tinha tido uns problemas na vista tor sem jeito, cheio de laivos salgados pelo mar e pela vida, preciso
entre as cataratas e o glaucoma, mas mantinha, disso tive a certeza, certamente de amigos assim… Espero que este gentil marinheiro
a mente arguta e divertida, pela qual sempre fora reconhecido. continue, assim, agarrado à sua árvore, por mais tempo ainda…
Despedimo-nos e, no calor daquele encontro, surgiu-me na alma
o poema acima de autor anónimo. Este marinheiro, já deve ser das Doc
“últimas folhas, daquela árvore antiga”. Ocorreu-me, também, que (Dr. Cobre para os amigos…)
NOTÍCIAS
CPOG VISITA A CAPITANIA DE VRSA
No passado dia 8 de junho, os auditores que se encontram a fre-
quentar o Curso de Promoção a Oficial General 2016-2017 visitaram
a Capitania do Porto de Vila Real de Santo António, no âmbito do
programa de visitas do curso. Nesse contexto, assistiram a uma apre-
sentação sobre a missão e atividades do Comando da Zona Marítima
do Sul e do Departamento Marítimo do Sul, levada a cabo pelo CMG
Cortes Lopes, e a uma outra apresentação alusiva às competências do
Capitão de Porto, conduzida pelo CTEN Fernandes da Palma. A visita
culminou com uma subida do rio Guadiana até Alcoutim.
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