Page 2 - Revista da Armada
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O BALÃO



       DO ARSENAL





         Quando o conhecimento rigoroso das horas se                      Para que esta verifi cação pudesse ser feita com fre-
        tornou fundamental para a navegação, passaram os                 quência, estabeleceram-se sinais horários, que todos
        navios a ser dotados de um cronómetro de grande                  conhecemos nas suas versões modernas e que há uns
        precisão, guardado em condições de resguardo que                 anos eram transmiƟ dos por estações internacionais,
        salvaguardassem o seu funcionamento. Todos os                    via rádio. Mas, mesmo antes das telecomunicações, já
        dias se lhe dava corda, mas nunca se acertava, para              esses sinais eram emiƟ dos nos portos, através de sinais
        garanƟ r a sua marcha regular. Verifi cava-se apenas              visuais controlados pelos observatórios astronómicos.
        o seu erro, tomando nota sobre a forma como se                    No porto de Lisboa funcionou um sinal desses, con-
        adiantava ou atrasava.                                           trolado pelo Observatório Real de Marinha, desde
                                                                         1858, que era visível no rio Tejo, em frente ao Arsenal
                                                                         de Marinha e à velha Escola Naval. ConsisƟ a esse sinal
                                                                         horário num balão que corria ao longo de um mas-
                                                                         tro verƟ cal: todos os dias, ao meio- dia e quarenta e
                                                                         cinco minutos, o balão era içado até meio mastro; de
                                                                         seguida, ao meio-dia e cinquenta e cinco, subia até ao
                                                                         tope, arriando de uma só vez, à uma da tarde.
                                                                          O balão rapidamente se tornou numa atracção da
                                                                         baixa lisboeta, visível à distância e servindo de refe-
                                                                         rência para que toda a gente acertasse os seus reló-
                                                                         gios. Os lisboetas passaram a chamar-lhe Balão do
                                                                         Arsenal e por esse nome fi caria conhecido, enquanto
                                                                         funcionou, até ao dia 31 de Dezembro de 1915. Dei-
                                                                         xava de ser úƟ l aos navios e às pessoas.
                                                                          Mas o encanto deste ritual do balão ganhara a sim-
                                                                         paƟ a dos lisboetas, como sinal que era da presença da
                                                                         nossa Marinha, entre a cidade e o rio. E, há uns anos,
                                                                         o  Comandante Estácio dos Reis – estudioso da Histó-  Foto 1SAR ETC Silva Parracho
                                                                         ria da NáuƟ ca e da Ciência – recordou a sua existência
                                                                         e propôs que a Marinha voltasse a marcar as horas na
                                                                         frente do Tejo, recuperando o velho Balão do Arsenal.
                                                                          Assim aconteceu, no passado dia 5 de Fevereiro,
                                                                         inaugurado pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da
                                                                         Armada, com a presença de umas dezenas de convida-
                                                                         dos e a curiosidade dos transeuntes. Ali fi cará, de novo,
                                                                         subindo a meio mastro, às 12h45, conƟ nuando até ao
                                                                         tope, às 12h55, e arriando de uma só vez, às 13h00
                                                                         exactas. Na cerimónia de inauguração foi proferida
                                                                         uma alocução, explicando o funcionamento e o signifi -
                                                                         cado do balão, encerrando com um pequeno concerto
                                                                         da Banda da Armada, que terminou mesmo à hora em
                                                                         que arriava o renascido Balão do Arsenal.

                                                                                                    J. Semedo de Matos
                                                                                                             CFR FZ
                                                                         N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfi co
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