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REVISTA DA ARMADA | 527
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A utilidade estratégica dos helicópteros
orgânicos da Marinha
Aviação Naval, design ação genérica da vida humana no mar. Esta refl exão ser- aos helicópteros orgânicos atuar contra
A da componente aeronaval na Mari- virá, ainda, de mote para um conjunto de alvos de sub-superİ cie e de superİ cie,
nha, foi criada em 28 de setembro de arƟ gos alusivos a essas efemérides, que a impondo um grau de incerteza e de risco,
1917 e contribuiu de forma signifi caƟ va Esquadrilha de Helicópteros promoverá, que pode inibir eventuais adversários
para a expansão e o desenvolvimento na Revista da Armada, durante este ano. militares e infratores não militares de agir
da aeronáuƟ ca em Portugal, tal como é contra os interesses nacionais. Por estes
bem demonstrado pela travessia aérea moƟ vos, os helicópteros orgânicos navais
do AtlânƟ co Sul, realizada em 1922 pelo DISSUASÃO assumem-se como verdadeiros mulƟ pli-
Almirante Gago CouƟ nho e pelo Coman- RelaƟ vamente à dissuasão, importa cadores de capacidade dos navios-mãe
dante Sacadura Cabral. começar por recordar que um País como e, de forma mais abrangente, das forças
Em 1952, a criação da Força Aérea Por- Portugal, com uma natureza marcada- navais. A capacidade dissuasora dos heli-
tuguesa implicou a absorção da Avia- mente maríƟ ma, cujo território é um cópteros orgânicos navais é de tal modo
ção Naval, que acabou por ser exƟ nta autênƟ co arquipélago circundado pelo importante e reconhecida a nível interna-
em 1958. Apesar de tudo, fruto do con- oceano AtlânƟ co, não pode dispensar cional que, na atualidade, nenhuma Mari-
Ɵ nuado empenhamento de navios da forças navais robustas e modernas, como nha com capacidade oceânica credível os
Marinha Portuguesa em forças navais uma componente essencial do seu sis- dispensa.
permanentes da NATO e no contexto tema dissuasor. Nesta óƟ ca, os helicóp- Esta capacidade foi demonstrada pelos
dos cenários operacionais da guerra fria, teros orgânicos potenciam as capacida- Lynx Mk 95 da Marinha Portuguesa, por
foi reconhecida a necessidade de dispor des dos meios navais de superİ cie, na exemplo, na dissuasão de potenciais
de meios aéreos orgânicos embarcados. dissuasão de ações que comprometam a infratores ao bloqueio imposto à anƟ ga
Assim, três décadas e meia após a exƟ n- independência nacional e a integridade Jugoslávia (no quadro da operação SHARP
ção da Aviação Naval, a Marinha voltou territorial, bem como a soberania do GUARD, 1995-96) e na dissuasão de aƟ -
a ganhar asas, com a aƟ vação da Esqua- Estado Português no vasto mare nostrum. vidades de proliferação de armamento
drilha de Helicópteros (em 2 de junho de Essa capacidade de dissuasão proporcio- no Mar Mediterrâneo (no âmbito da
1993) e a chegada dos helicópteros Lynx nada pelos helicópteros orgânicos está Operação ACTIVE ENDEAVOUR, desde
Mk95 (em 24 de setembro de 1993) – efe- relacionada com a extensão dos sensores 2001, recentemente rebaƟ zada como SEA
mérides de que se comemora, este ano, o e dos sistemas de armas para lá da área GUARDIAN).
25º aniversário. de infl uência direta dos navios, levando
JusƟ fi ca-se, deste modo, uma refl exão as ações próprias e os seus efeitos para
sobre a uƟ lidade estratégica dos helicóp- além do horizonte. Tal capacidade de DEFESA MILITAR
teros orgânicos navais para a segurança e dissuasão está, ainda, intrinsecamente No que respeita à defesa militar, o papel
a defesa nacional, designadamente para associada aos seus atributos específi cos, dos helicópteros orgânicos está invaria-
a dissuasão, a defesa militar, o apoio à como a exploração da terceira dimensão velmente ligado aos seus atributos, que
políƟ ca externa, a segurança maríƟ ma, a (alƟ tude), a surpresa, a velocidade e a lhes permitem contribuir para as tarefas
assistência humanitária e a salvaguarda versaƟ lidade. Estes atributos permitem atribuíveis ao navio-mãe ou à força naval.
4 MARÇO 2018