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REVISTA DA ARMADA | 529






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          DOTMLPI-I


          OS ELEMENTOS FUNCIONAIS DE UMA CAPACIDADE


            urante a guerra fria, o planeamento
         Destratégico de defesa era feito em fun-
          ção das ameaças que, então, eram relaƟ va-
          mente bem conhecidas e concretas.
           Com o fi m da guerra fria, essa metodolo-
          gia de planeamento  fi cou desajustada ao
          ambiente geoestratégico, tendo surgido o
          conceito do planeamento por capacidades,
          que apontava para a edifi cação de capacida-
          des militares, que poderiam ser empregues
          perante um leque alargado e diversifi cado
          de ameaças. Ou seja, perante a imprevisi-
          bilidade das ameaças futuras, apontava-se
          para a edifi cação de capacidades militares
          de largo espectro, capazes de as contrariar.
           Inicialmente, o conceito de capacidade
          estava muito ligado à componente mate-
          rial, ou seja entendia-se por capacidade o   Exercício de Limitação de Avarias a bordo de fragata portuguesa. O conceito DOTMLPI-I preconiza um
          conjunto de equipamentos militares que a   entendimento lato do treino, aí incluindo  formação, treino individual, treino coleƟ vo e exercícios.
          consubstanciavam. Fragatas anƟ gas  eram
          subsƟ tuídas por fragatas novas, helicópte-  ao acrónimo DOTMLPF (Doctrine, Organiza-  Não obstante, foi o acrónimo norte-ame-
          ros velhos eram subsƟ tuídos por helicópte-  Ɵ on, Training, Materiel, Leadership, Person-  ricano que vingou, tendo sido rapidamente
          ros mais modernos e por aí fora, prestando   nel e FaciliƟ es), correspondente, em língua   adotado por outras nações. A NATO, nos
          pouca atenção a outros aspetos.   portuguesa, a DOTMLPI.             seus esforços de transformação das capaci-
           Contudo, aos poucos, foi-se percebendo   Com este conceito, o desenvolvimento de   dades militares aliadas, também adotou o
          que essa era uma perspeƟ va redutora e   capacidades evoluiu, portanto, para uma   conceito, mas acrescentou-lhe mais um ele-
          foram-se associando ao conceito de capa-  abordagem mais abrangente. Embora a   mento: a interoperabilidade, daqui resul-
          cidade outros elementos funcionais, como   introdução de material mais moderno con-  tando a variante DOTMLPF-I (ou DOTMLPI-I,
          por exemplo: o pessoal (capaz de manter e   Ɵ nue a funcionar como o grande catalisa-  em língua portuguesa). Com efeito, um dos
          de operar os meios ou equipamentos neces-  dor das maiores transformações organiza-  maiores desafi os da NATO é conseguir que as
          sários à prossecução de objeƟ vos militares,   cionais, há uma maior perceção de que a   capacidades militares dos 29 aliados possam
          bem como de tomar as decisões mais ade-  introdução de novos meios ou equipamen-  ser empregues em conjunto e de forma sinér-
          quadas em função do ambiente envolvente);   tos tem que ser acompanhada de desenvol-  gica, o que implica interoperabilidade. E a
          a doutrina (para regular a uƟ lização opera-  vimentos paralelos, ao nível dos outros ele-  interoperabilidade não cai do céu, requer pla-
          cional dos meios ou equipamentos aƟ nen-  mentos funcionais, com um natural enfoque   neamento cuidado e muita atenção e esforço,
          tes); e o treino (para potenciar a completa   no pessoal e em tudo aquilo que a ele res-  desde a fase inicial do desenvolvimento de
          exploração operacional dos meios ou equi-  peita, de forma mais direta (como doutrina,   qualquer capacidade. Na realidade, a intero-
          pamentos em causa).               organização, treino e liderança).  perabilidade é um elemento funcional que
           Foi neste quadro que, há cerca de década   Neste mundo dos conceitos, a Grã-Breta-  deve presidir a todos os outros, i.e., deve cor-
          e meia atrás, o Departamento de Defesa   nha respondeu com uma variante da versão   responder a um atributo de todos os outros
          dos EUA desenvolveu o conceito DOTMLPF,   americana, que inclui treino, equipamento,   elementos de uma capacidade.
          no âmbito de um processo designado como   pessoal, doutrina, organização, infraestru-  Embora esses elementos funcionais sejam,
          Joint CapabiliƟ es  IntegraƟ on  Development   turas e logísƟ ca, cujas iniciais em inglês dão   no essencial, autoexplicaƟ vos,  jusƟ fi ca-se
          System. Assim, foi entendido que cada capa-  origem a um acrónimo eventualmente um   uma breve descrição de cada um deles:
          cidade militar deveria envolver a doutrina, a   pouco mais fácil de pronunciar: TEPIDOIL   • Doutrina consiste no conjunto de princí-
          organização, o treino, o material, a liderança,   (Training,  Equipment,  Personnel,  Informa-  pios fundamentais e de procedimentos que
          o pessoal e as infraestruturas – elementos   Ɵ on, Doctrine, OrganizaƟ on, Infrastructures   orientam as ações das forças e unidades
          cujas iniciais em língua inglesa deram origem   e LogisƟ cs).        militares, na condução das suas operações.


          4   MAIO 2018
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