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REVISTA DA ARMADA | 557


              SAÚDE PARA TODOS                                                                                  81



              NASCIMENTO




              O nascimento é um momento mágico. Nos humanos, é onde culmina a gravidez e se dá início à vida de uma pessoa na sociedade.
              É o momento em que o feto sai do útero materno como resultado de um processo chamado parto. Ao longo dos séculos os cuidados
              de saúde durante o trabalho de parto foram mudando e sabe-se atualmente que são os cuidados hospitalares que mais segurança
              trazem à mãe e ao bebé, sendo Portugal um dos países do mundo com menor taxa de mortalidade e morbilidade materna e infanƟ l.

                 gravidez ocorre após a fecundação de um óvulo por um   ger o bebé de infeções ao longo da gravidez, e é expulso quando
              A  espermatozoide. Habitualmente esse encontro ocorre nas   o colo do útero começa a dilatar, saindo sob a forma de secreção
              trompas e resulta num zigoto – a primeira célula do novo ser. O   vaginal transparente, rosada ou misturada com sangue), a sen-
              zigoto vai-se dividindo em novas células e descendo até ao útero,   sação de que a barriga está mais para baixo, que “caiu” (ao pre-
              onde se vai fi xar cerca de uma semana depois, num processo cha-  parar-se para passar no canal do parto, o feto desce e pressiona
              mado nidação. Quando a nidação é bem-sucedida inicia-se a ges-  o púbis; este “encaixe” pode ocorrer semanas ou dias antes do
              tação do embrião. Nos dias seguintes há formação das estruturas   parto) e o rompimento da bolsa (as membranas cheias de líquido
              embrionárias (placenta, cordão umbilical e saco amnióƟ co) e o   que envolvem o feto habitualmente rompem-se antes do início
              embrião vai-se diferenciando numa precisão admirável para que   do trabalho de parto e o líquido amnióƟ co fl ui para fora através
              todos os órgãos e funções do futuro bebé se desenvolvam como   da vagina; caso a gravidez seja de termo e não se inicie o trabalho
              esperado. Após 8 semanas da fecundação (10 semanas após a   de parto nas 24 h seguintes, o parto tem de ser induzido por risco
              úlƟ ma menstruação da mulher – que é como se con-               de infeção do bebé, da mulher ou de ambos).
              tabilizam as semanas da gravidez) o embrião                          A grávida deve dirigir-se ao hospital para
              passa a chamar-se feto e adquire a aparên-                             ser avaliada por uma equipa obstétrica
              cia humana, apesar de medir menos de                                     perante contrações muito dolorosas
              5 cm. A parƟ r deste momento, pas-                                         e com intervalos inferiores a 10
              sará o tempo a crescer e a amadu-                                           minutos, rompimento da bolsa,
              recer os seus órgãos.                                                        perda de sangue vaginal abun-
               O feto é considerado de termo                                               dante ou se houver redução
              após as 37 semanas de gravidez                                             DR  clara dos movimentos do bebé
              e, habitualmente, o trabalho de                                              (menos de 10x/dia).
              parto ocorre entre a semana                                                   Em relação ao trabalho de
              38 e a 42, de forma espontâ-                                                 parto, este dura em média 13
              nea ou induzida. O trabalho de                                              horas e divide-se em três fases. A
              parto, segundo o Professor Doutor                                          primeira fase começa com as contra-
              Ginecologista-Obstetra Luís Mendes                                       ções uterinas regulares e termina com
              Graça, é defi nido como “o conjunto de                                  a dilatação completa do colo do útero, ou
              fenómenos fi siológicos que, uma vez pos-                            seja, quando este aƟ nge os 10 cm  de  dila-
              tos em marcha, conduzem à dilatação do colo                     tação, criando condições para que o feto atra-
              uterino, à progressão do feto através do canal de parto   vesse a vagina. A segunda fase corresponde ao período
              e à sua expulsão para o exterior” – o momento do nascimento!  expulsivo (nascimento do bebé). A terceira fase decorre desde a
               Ao longo do terceiro trimestre da gravidez a mulher já sente   expulsão fetal até à expulsão da placenta e das membranas fetais
              habitualmente contrações uterinas, que por vezes até estão pre-  (dequitadura).
              sentes desde o fi nal do primeiro trimestre, mas de forma muito   Quando não é viável um parto por via vaginal, este decorre por
              discreta. Apesar de causarem alguma apreensão na grávida,   cesariana.
              essas contrações são inocentes, não provocam mal ao feto e não   O bebé após o parto passa a ser chamado de recém-nascido e
              se relacionam com o início do trabalho de parto. Chamam-se   a mulher de puérpera.
              contrações de Braxton-Hicks e são consideradas uma forma do   Muitas vezes os futuros pais fi zeram um plano do parto, com
              útero “treinar” para o momento do parto. Elas não são contra-  as suas expetaƟ vas em relação ao mesmo. Gostaria de deixar
              ções expulsivas e, portanto, não implicam risco de parto prema-  claro que não se podem focar demasiado no mesmo, pois o
              turo. Caracterizam-se por serem habitualmente indolores, surgi-  mais importante é a saúde da mulher e do bebé e não existe
              rem poucas vezes por dia e de forma imprevisível, terem curta   ninguém melhor para avaliar a progressão do trabalho de parto
              duração e melhorarem com a mudança de posição.      que a equipa de saúde obstétrica num hospital. E no trabalho de
               Quando o momento do parto está a chegar existem sinais para   parto tudo é muito dinâmico e muda rapidamente. São as deci-
              os quais a grávida deve estar alerta. O sinal que geralmente   sões rápidas dos profi ssionais de saúde experientes que trazem,
              indica o momento do parto é surgirem contrações dolorosas   em quase 100% dos casos, um desfecho feliz. Obviamente que se
              (semelhantes a cólicas menstruais ou dores nas costas) que se   conseguir fazer cumprir o plano do parto, melhor!
              vão tornando progressivamente mais longas, fortes e próximas.
              No entanto, existem outros sinais que alertam a sua aproxima-                             Ana CrisƟ na Pratas
              ção, tais como a perda do rolhão mucoso (substância espessa                                     CTEN MN
              que parece um tampão, entre o útero e a vagina, que visa prote-            www.facebook.com/parƟ cipanosaudeparatodos


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