Page 32 - Revista da Armada
P. 32
REVISTA DA ARMADA | 557
SAÚDE PARA TODOS 81
NASCIMENTO
O nascimento é um momento mágico. Nos humanos, é onde culmina a gravidez e se dá início à vida de uma pessoa na sociedade.
É o momento em que o feto sai do útero materno como resultado de um processo chamado parto. Ao longo dos séculos os cuidados
de saúde durante o trabalho de parto foram mudando e sabe-se atualmente que são os cuidados hospitalares que mais segurança
trazem à mãe e ao bebé, sendo Portugal um dos países do mundo com menor taxa de mortalidade e morbilidade materna e infanƟ l.
gravidez ocorre após a fecundação de um óvulo por um ger o bebé de infeções ao longo da gravidez, e é expulso quando
A espermatozoide. Habitualmente esse encontro ocorre nas o colo do útero começa a dilatar, saindo sob a forma de secreção
trompas e resulta num zigoto – a primeira célula do novo ser. O vaginal transparente, rosada ou misturada com sangue), a sen-
zigoto vai-se dividindo em novas células e descendo até ao útero, sação de que a barriga está mais para baixo, que “caiu” (ao pre-
onde se vai fi xar cerca de uma semana depois, num processo cha- parar-se para passar no canal do parto, o feto desce e pressiona
mado nidação. Quando a nidação é bem-sucedida inicia-se a ges- o púbis; este “encaixe” pode ocorrer semanas ou dias antes do
tação do embrião. Nos dias seguintes há formação das estruturas parto) e o rompimento da bolsa (as membranas cheias de líquido
embrionárias (placenta, cordão umbilical e saco amnióƟ co) e o que envolvem o feto habitualmente rompem-se antes do início
embrião vai-se diferenciando numa precisão admirável para que do trabalho de parto e o líquido amnióƟ co fl ui para fora através
todos os órgãos e funções do futuro bebé se desenvolvam como da vagina; caso a gravidez seja de termo e não se inicie o trabalho
esperado. Após 8 semanas da fecundação (10 semanas após a de parto nas 24 h seguintes, o parto tem de ser induzido por risco
úlƟ ma menstruação da mulher – que é como se con- de infeção do bebé, da mulher ou de ambos).
tabilizam as semanas da gravidez) o embrião A grávida deve dirigir-se ao hospital para
passa a chamar-se feto e adquire a aparên- ser avaliada por uma equipa obstétrica
cia humana, apesar de medir menos de perante contrações muito dolorosas
5 cm. A parƟ r deste momento, pas- e com intervalos inferiores a 10
sará o tempo a crescer e a amadu- minutos, rompimento da bolsa,
recer os seus órgãos. perda de sangue vaginal abun-
O feto é considerado de termo dante ou se houver redução
após as 37 semanas de gravidez DR clara dos movimentos do bebé
e, habitualmente, o trabalho de (menos de 10x/dia).
parto ocorre entre a semana Em relação ao trabalho de
38 e a 42, de forma espontâ- parto, este dura em média 13
nea ou induzida. O trabalho de horas e divide-se em três fases. A
parto, segundo o Professor Doutor primeira fase começa com as contra-
Ginecologista-Obstetra Luís Mendes ções uterinas regulares e termina com
Graça, é defi nido como “o conjunto de a dilatação completa do colo do útero, ou
fenómenos fi siológicos que, uma vez pos- seja, quando este aƟ nge os 10 cm de dila-
tos em marcha, conduzem à dilatação do colo tação, criando condições para que o feto atra-
uterino, à progressão do feto através do canal de parto vesse a vagina. A segunda fase corresponde ao período
e à sua expulsão para o exterior” – o momento do nascimento! expulsivo (nascimento do bebé). A terceira fase decorre desde a
Ao longo do terceiro trimestre da gravidez a mulher já sente expulsão fetal até à expulsão da placenta e das membranas fetais
habitualmente contrações uterinas, que por vezes até estão pre- (dequitadura).
sentes desde o fi nal do primeiro trimestre, mas de forma muito Quando não é viável um parto por via vaginal, este decorre por
discreta. Apesar de causarem alguma apreensão na grávida, cesariana.
essas contrações são inocentes, não provocam mal ao feto e não O bebé após o parto passa a ser chamado de recém-nascido e
se relacionam com o início do trabalho de parto. Chamam-se a mulher de puérpera.
contrações de Braxton-Hicks e são consideradas uma forma do Muitas vezes os futuros pais fi zeram um plano do parto, com
útero “treinar” para o momento do parto. Elas não são contra- as suas expetaƟ vas em relação ao mesmo. Gostaria de deixar
ções expulsivas e, portanto, não implicam risco de parto prema- claro que não se podem focar demasiado no mesmo, pois o
turo. Caracterizam-se por serem habitualmente indolores, surgi- mais importante é a saúde da mulher e do bebé e não existe
rem poucas vezes por dia e de forma imprevisível, terem curta ninguém melhor para avaliar a progressão do trabalho de parto
duração e melhorarem com a mudança de posição. que a equipa de saúde obstétrica num hospital. E no trabalho de
Quando o momento do parto está a chegar existem sinais para parto tudo é muito dinâmico e muda rapidamente. São as deci-
os quais a grávida deve estar alerta. O sinal que geralmente sões rápidas dos profi ssionais de saúde experientes que trazem,
indica o momento do parto é surgirem contrações dolorosas em quase 100% dos casos, um desfecho feliz. Obviamente que se
(semelhantes a cólicas menstruais ou dores nas costas) que se conseguir fazer cumprir o plano do parto, melhor!
vão tornando progressivamente mais longas, fortes e próximas.
No entanto, existem outros sinais que alertam a sua aproxima- Ana CrisƟ na Pratas
ção, tais como a perda do rolhão mucoso (substância espessa CTEN MN
que parece um tampão, entre o útero e a vagina, que visa prote- www.facebook.com/parƟ cipanosaudeparatodos
32 DEZEMBRO 2020