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REVISTA DA ARMADA | 556
VIGIA DA HISTÓRIA 122
A FUGA
á decorria, há algum tempo, o ano de 1641 quando um
Jnavio português, saído da Baía, entrou em Buenos Aires
levando a noơ cia da revolução em Portugal e a consequente
restauração do Reino em Dezembro de 1640.
Como acontece, aliás com alguma frequência, as repre-
sálias do sucedido, não podendo ser aplicadas aos directa-
mente envolvidos, recaíram sobre os mensageiros . Na ver-
1
dade, o governador espanhol de Buenos Aires, D. Pedro de
Roxas e Azevedo, perante tal noơ cia, imediatamente conde-
nou à morte o capitão do navio e o piloto que, pouco depois
foram enforcados.
Os restantes tripulantes, que foram levados para terra,
temendo por igual desƟ no desde logo resolveram, entre si,
que assim que se proporcionasse a ocasião intentariam fugir.
Essa ocasião surgiu no domingo de Pentecostes quando,
conforme mais tarde relataram diversas testemunhas, toda
a população parƟ cipava na celebração das cerimónias reli-
giosas, altura essa em que os 5 ou 6 tripulantes embarcaram
numa canoa e se fi zeram ao mar, simulando serem pescado-
res que seguiam para a faina da pesca. Tendo passado para o
seu navio conseguiram fazer-se ao mar, isto apesar da oposi-
ção da arƟ lharia da fortaleza que sobre eles abriu fogo, tendo
conseguido ao fi m de alguns dias de viagem entrar no Rio de
Janeiro onde, ao ser sabido o ocorrido, foram recebidos com
grandes manifestações de admiração e apreço.
A fuga dos portugueses e do seu navio, por tão inesperada
e inexplicável, fez surgir em Buenos Aires, algum tempo
depois, já entretanto falecido o Governador, a ideia de que
este teria sido conivente com a fuga porque, eventualmente,
teria interesses económicos na carga do navio.
Em 1643, perante o avolumar das suspeitas, a viúva do
Governador exigiu que fosse efectuada uma devassa ao com-
portamento do marido por forma a ilibar totalmente a sua
memória.
Foi exactamente através das declarações das testemunhas
desse auto, que ilibou o procedimento do Governador, que
foi possível conhecer este episódio.
Cmdt. E. Gomes
Fonte: Arquivo Geral das Índias Escribania 8923
Notas
1 Diga-se que, na circunstância, o procedimento dos tripulantes, ao darem a conhe-
cer a revolução portuguesa, não terá sido muito cauteloso, para não dizer mesmo
que terá sido pouco inteligente.
N.R. O autor não adota o novo acordo ortográfi co
30 NOVEMBRO 2020
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