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REVISTA DA ARMADA | 559
Na apresentação ao Comandante do navio, fi cou combinado o alguns momentos a sós) e ao facto de quase sempre não se poder
papel do 1TEN Morgado como representante português nos atos sair de bordo, ia provocando efeitos nefastos de forma gradual. Isso
protocolares, o seu acompanhamento pelos vários Serviços do navio era patente nos momentos mais sensíveis como fainas, trabalhos de
e nos quartos à ponte. É de destacar que, em todos os atos protoco- manutenção; muitas conversas levavam a discussões sobre todo o
lares, a Armada Espanhola através do Comandante do navio ou do Ɵ po de problemas e não problemas.
seu próprio Almirante Chefe de Estado-Maior da Armada (CEMA), Ciente desses constrangimentos, a Armada Espanhola conseguiu
referiram sempre a presença de Portugal nesses atos, assim como o que a guarnição fosse autorizada a visitar locais “Covid-free”. Cada
papel de Portugal na pessoa de Fernão de Magalhães, cujos conhe- elemento pôde assim dispor de cerca de 6 horas livres para pisar
cimentos náuƟ cos tornaram possível a realização de uma expedição Puerto Harris e a ilha Quiriquina no Chile, e a ilha de San Lourenzo no
daquela dimensão. Peru. O resultado foi visível na moral da guarnição, sobretudo a nível
Mais de 2 meses embarcado permiƟ ram a familiarização com a das praças, cujas cobertas albergam em média cerca de 21 militares.
organização de bordo e constatar o estado de conservação do navio. Durante o período em que o 1TEN Morgado esteve embarcado,
Quanto a este úlƟ mo aspeto, era notória a necessidade de manuten- o JSE atracou em Punta Arenas e Talcahuano no Chile, El Callao no
ção que um navio desta natureza sempre precisa; apesar de ter sido Peru e Guayaquil no Equador. O navio fundeou ainda em San Julian
intervencionado antes do início da viagem, subsisƟ am vários proble- na ArgenƟ na, Fortescue e Puerto Harris no Chile. Passou-se ainda
mas no aparelho, no casco, nos geradores e em diversos equipamen- junto ao glaciar Pio XI.
tos de bordo. Quanto à guarnição, parte dela eram militares recen-
temente admiƟ dos na Armada Espanhola, tendo o navio efetuado CERIMONIAL MARÍTIMO E PROTOCOLO
treino antes de iniciar a viagem por forma a miƟ gar esse problema.
Na ponte, o 1TEN Morgado foi acompanhando todos os ofi ciais Quanto aos eventos levados a cabo no âmbito da comemoração
que realizavam quartos, assisƟ ndo aos seus procedimentos e com- do V Centenário da Viagem de Circum-Navegação de Fernão de
parando com a doutrina nacional. As maiores diferenças residem na Magalhães, o primeiro decorreu com o navio fundeado em San
organização do navio nas várias condições e nos procedimentos rea- Julian; tratou-se duma homenagem aos marinheiros mortos na
lizados em fainas e manobras; em termos de navegação, também expedição de Magalhães.
alguns procedimentos são diferentes. Em Punta Arenas e Guayaquil, com o navio atracado, os eventos
Se, ao início, a presença dum “intruso” acompanhando o desen- decorreram em terra, nomeadamente no cais, com a guarnição
rolar dos serviços de bordo foi algo de estranho para a guarnição, formada à borda. Fundeado em Fortescue, o navio recebeu a visita
rapidamente o “Magalhães” passou a ser encarada como mais um dos ALM CEMA de Espanha e do Chile; o 1TEN Morgado parƟ cipou
dos seus elementos consƟ tuintes. Durante o embarque, o tenente no jantar protocolar e, no dia seguinte, na missa a bordo da fragata
Morgado acompanhou e parƟ cipou em aƟ vidades como exercícios chilena Almirante Williams; comemorou-se então a primeira missa
de defesa própria do navio, limitação de avarias, operações de mer- católica dada naquele local.
gulho e revisão da formação dos Guarda-marinhas. Ao longo da navegação, o JSE cruzou-se com vários navios das Mari-
nhas dos países por onde passou, tendo inclusive navegado em com-
EMBARQUE E NAVEGAÇÃO II panhia de alguns, nomeadamente do navio-escola chileno Esme-
ralda e do navio-escola peruano Unión. Com todos, realizaram-se os
Na passagem do Estreito de Magalhães, um dos locais mais emble- devidos cumprimentos defi nidos no cerimonial maríƟ mo espanhol,
máƟ cos e desafi antes para qualquer marinheiro, o único português praƟ camente igual ao português em termos de honras a navegar.
a bordo auxiliou o navio no controlo da sua posição. Houve, ainda,
oportunidade de trocar ideias com os pilotos que embarcavam, BALANÇO FINAL
nomeadamente os pilotos da Armada Chilena que acompanharam
o navio pelos canais chilenos. Apesar de não ter sido possível acompanhar o embarque e a for-
Esta integração na vida de bordo permiƟ u ainda atestar o real mação dos Guarda-marinhas espanhóis, que só embarcaram em
estado – moƟ vação e disciplina – da guarnição. Apesar de exisƟ r Guayaquil, a missão foi uma experiência única. Não só foi possível
um trato mais próximo a nível informal entre os militares, com- representar o país em numerosos eventos comemoraƟ vos da pri-
parando com a nossa Marinha, a nível profi ssional a deferência e meira circum-navegação da Humanidade, como houve lugar a uma
a disciplina são mais rígidas. Já a nível moƟ vacional e psicológico, troca de conhecimentos, momentos e amizades. Épico!
se uma navegação de longa duração já pode provocar transtornos,
nomeadamente a nível pessoal e familiar, a distância aliada à pouca David MarƟ ns Morgado
privacidade (nem nos espaços dedicados ao lazer se conseguia 1TEN
Cumprimentos do Comandante do JSE ao Presidente do Chile, SebasƟ án Piñera,
Jantar protocolar a bordo com o CEMA de Espanha e o CEMA do Chile. em Punta Arenas, Chile.
FEVEREIRO 2021 11