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REVISTA DA ARMADA | 560
SAÚDE PARA TODOS 84
DEPRESSÃO
As doenças mentais são um dos maiores problemas das sociedades modernas. Destas, a depressão é quem mais contribui para estes
números elevados. A depressão afeta negaƟ vamente a forma como a pessoa se sente, pensa e atua, infl uenciando de forma conside-
rável a sua capacidade İ sica, social e profi ssional, com redução da qualidade de vida. A depressão requer reconhecimento atempado
e tratamento dirigido já que é uma doença que conduz a um sofrimento intenso e pode levar, em úlƟ ma instância, ao suicídio.
sƟ ma-se que 5% dos Europeus sofram de depressão. Afeta rança; irritabilidade, tensão ou agitação; alterações da concentra-
Etodas as idades, inclusive crianças, contudo é mais habitual ção, memória e raciocínio; cansaço; perda de interesse e prazer
após os 20 anos de idade. É mais frequente em mulheres. nas aƟ vidades diárias; alterações do sono (com insónia ou, pelo
A depressão é uma doença mulƟ fatorial e parece resultar de contrário, aumento da necessidade de dormir) e do desejo sexual;
uma interação complexa entre fatores genéƟ cos, psíquicos, variações do peso; sintomas İ sicos não devidos a outra doença
ambientais e sociais. Parece exisƟ r evidência que doentes com (dores de cabeça, perturbações digesƟ vas, dor crónica, mal-estar
depressão têm valores alterados de alguns neurotransmissores geral); ideias de morte e de suicídio/tentaƟ vas de suicídio.
(substâncias químicas produzidas pelos neurónios). Um episódio de depressão não tratado dura cerca de seis
O risco familiar é grande: familiares em 1º grau de indivíduos meses, mas pode prolongar-se por dois anos ou mais. Os episó-
com depressão grave, mesmo que vivam em ambientes diferen- dios tendem a repeƟ r-se diversas vezes ao longo da vida.
tes, têm um risco 2-4 vezes superior de desenvolver esta per- O diagnósƟ co de depressão é clínico e alguns dos sintomas refe-
turbação, em relação à população geral. O Ɵ po de ridos acima têm de estar presentes há pelo menos 2
personalidade (ex: pessimismo, elevada auto- semanas e causar sofrimento clinicamente signi-
críƟ ca, baixa autoesƟ ma) e a baixa resiliên- fi caƟ vo, ou prejuízo no funcionamento social/
cia (capacidade de lidar com os próprios ocupacional (ou em outras áreas importan-
problemas e superá-los) podem estar, tes da vida) do indivíduo. A depressão é,
também, relacionados com uma maior assim, diferente das fl utuações do humor
predisposição para crises depressivas. reaƟ vas aos desafi os do quoƟ diano -
Acontecimentos de vida traumáƟ cos estas ocorrem num curto período de
(ex: divórcio, falecimento de ente tempo e não afetam a capacidade fun-
querido, desemprego, difi culdades cional da pessoa.
económicas, stress, confl itos laborais, Na consulta podem ser solicitados
doença crónica diagnosƟ cada recen- alguns exames complementares para
temente, internamento por doença excluir outras doenças que tenham
grave), transtornos mentais (ex: esqui- sintomas sobreponíveis. Os mais fre-
zofrenia ou ansiedade), comportamen- quentes são as análises sanguíneas (para
tos adiƟ vos (ex: alcoolismo ou toxicode- DR excluir doenças da Ɵ roide, hormonais ou
pendência), algumas doenças crónicas (ex: por défi ce de vitaminas, bem como toxico-
patologia da glândula Ɵ roideia), toma de cer- dependências ou alcoolismo crónico) e a polis-
tos medicamentos (como os anƟ -hipertensores sonografi a (para diferenciar os distúrbios do sono
e os corƟ coides) também podem causar depressão. da depressão). Também é realizado um exame neuro-
Variações nos níveis de hormonas sexuais, além de poderem cau- lógico para excluir a doença de Parkinson. Se a depressão surge
sar alteração do humor, podem estar envolvidos na depressão apenas em alguns períodos, alternando com fases de euforia,
gravídica e do pós-parto. Também o outono e o inverno, devido autoesƟ ma excessiva e perda da noção da realidade, os doentes
a ter menos horas de sol, podem estar implicados na depressão sofrem de doença bipolar, e não de doença depressiva.
sazonal. Atualmente existe uma panóplia de medidas terapêuƟ cas para
Os sintomas da depressão desenvolvem-se habitualmente de a depressão. Estas permitem, na maioria dos doentes, compen-
forma gradual e variam bastante de pessoa para pessoa. A ơ tulo sar os sintomas durante as crises e, também, ajudar a evitar as
de exemplo, um doente com depressão pode apresentar um recaídas. Dependendo da gravidade do quadro clínico pode ser
comportamento triste e de choro fácil ou, pelo contrário, com- oferecido ao doente tratamento com medicamentos, psicote-
portar-se com irritabilidade e agitação. Em qualquer dos casos, rapia ou técnicas de electroesƟ mulação (esƟ mulação do nervo
é frequente os doentes senƟ rem que o seu mundo parece ter vago, esƟ mulação elétrica transcraneana ou eletroconvulsivote-
menos cor e alegria. É importante salientar que os sintomas rapia). Tornar-se mais aƟ vo, com caminhadas e desporto regu-
apresentados por uma pessoa não são sinal de fraqueza ou infe- lar, pode ajudar, assim como interagir mais com outras pessoas.
rioridade, mas apenas sinal que aquela pessoa está doente e, Integrar grupos de apoio, com parƟ lhas de experiências e sen-
como tal, deve ser apoiada e procurada ajuda médica para tera- Ɵ mentos comuns, são outra boa ajuda. Na depressão sazonal é
pêuƟ ca adequada. recomendada fototerapia.
Segundo o DSM-IV-TR (guia para classifi cação de doenças men-
tais) alguns dos sintomas que as pessoas com depressão podem Ana CrisƟ na Pratas
apresentar são: senƟ mentos de tristeza, aborrecimento, culpa, CTEN MN
autodesvalorização, preocupação, receios infundados e insegu- www.facebook.com/parƟ cipanosaudeparatodos
32 MARÇO 2021