Page 7 - Revista da Armada
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REVISTA DA ARMADA | 575









          é  memória, é  língua,  é  alma, é  sucessos e  fracasso,  heróis,   É o povo português, que tudo isso e muito mais faz, resistindo
          líderes, em monarquia  como  em República, mas  é muito  mais   a pandemias globais, a crises mundiais e nacionais, construindo
          do que isso… é povo! É povo com séculos de raízes! Mais povo   impérios com menos de  um milhão  de  pessoas e  depois de
          que se juntou a nós, anteontem, ontem ou hoje! Povo que vive   acabados esses impérios, deixando pedaços de si, tantas vezes os
          neste arquipélago feito de um retângulo de terra e dois outros   mais corajosos, os mais sonhadores, os mais resistentes em todos
          arquipélagos compostos de ilhas variadas e aos quais devemos   os cantos da Terra.
          ainda mais, esse nosso mar que é muito maior que a nossa terra.  Este povo que tão depressa e bem sonha, que aprendeu a viver
           É o povo, e a ele que devemos tanto, mas tanto, neste ano em   em democracia, apesar de séculos de monarquia absoluta, depois
          que somos centro do mundo dentro de quinze dias, na cimeira dos   de períodos de ditadura, de uma longa ditadura até há tão pouco.
          oceanos, que só é possível em Portugal, porque o mesmo povo   Este povo que ainda há semanas abracei em Timor-Leste, abraçando
          português escolheu o oceano como seu destino.       também  o  povo  timorense.  Este  povo  que  dentro  de  semanas
           São os milhões e milhões de portugueses de carne e osso que   abraçarei no Brasil, no filho e na neta, que como os outros netos
          fizeram Portugal, que fazem Portugal, que farão Portugal. Foi o   estão lá fora e como milhões de pais, irmãos, filhos e netos, de tantos
          povo português, que deu o que tinha e o que era, sempre por   de  vós  e  que  quanto  mais  longe  estão,  mais  portugueses  ficam.
          Portugal.  Foi  o  povo  português  que  cruzou  oceanos  e  fez  dos   Este povo, como minhoto que me fez lembrar o meu avô António
          oceanos a nossa nova terra de futuro. Foi o povo português que   que partiu de Pedraça em 1881. Miúdo, com um irmão, chamando
          viu começar a ser reconhecido, há duzentos anos, em 1822, um   depois os outros irmãos para fugirem da crise nas terras de Basto
          novo papel na vida nacional.                        para essa nova pátria chamada Brasil, um de milhões e milhões e
           Foi o povo português que ajudou a criar “Brasis” ou a restaurar   milhões que arriscaram, quando não havia ainda leis, nem acordos,
          “Timores-Leste”. É o povo português, que aprende e reaprende a   nem estatutos, nem direitos de vote universais e por maioria de
          receber irmãos, vindos das Áfricas, das Américas, das Ásias, do   razão a milhares de quilómetros da Terra Natal.
          Pacífico. Africanos, irmãos na língua, depois brasileiros, depois   É  o  povo  português  a  razão  de  sermos  o  que  somos  e  como
          europeus  de  Leste,  depois  asiáticos  e  africanos  não  falando   somos, de  sermos Portugal.  Viva o povo português! Vivam  os
          português, há  pouco afegãos, agora  de novo ucranianos  ou   portugueses de ontem, de hoje e de sempre, onde quer que façam
          vindos da Ucrânia. É o povo com armas que faz e quer fazer a   Portugal! Viva o nosso querido Portugal!
          paz, em Moçambique, na República Centro-Africana, no Mali, no
          Golfo da Guiné, no Mediterrâneo, na Lituânia, na Roménia.                      Prof. Dr. Marcelo Rebelo de Sousa




































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