Page 202 - Revista da Armada
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o momtor NHuâscar, da Armada peruana.
do em acções de guerra, Querido e respeitado em desta guerra. Enquanto este existiu, o Chile não foi ca-
toda a Armada, com uma veneração que só pode ser paz de invadir o território do Peru, Sozinho fez a guer-
despertada por quem recebeu de Deus o génio do ra no mar, dando tempo ao Peru para se preparar para
mando, sonha com um mundo em paz e uma América resistir à invasão. Este é um feito sem precedentes na
unida. Há um autógrafo que revela o seu pensamen- história das guerras navais do mundo inteiro,
to, propondo que sempre que um pais da América Fiel à sua vocação de herói, assumiu o posto de
seja ameaçado, as forças navais de todos se reúnam maior perigo e de mais alta responsabilidade num
debaixo da mesma bandeira para o defender. momento em que a s ua pátria se encontrava à beira
Sincero cristão, de inclinação conservadora, chefe do abismo. Nunca um chefe naval sentiu sobre os om-
de familia exemplar, com um rancho de filhos que bros, como ele, todo o peso do futuro de uma nação.
chegaria a 10, enamorado das soluções pacificas e da Noutras guerras, noutros combates, se um coman-
unidade americana, o seI). coração bondoso iria ser dante cai morto ou um navio é afundado, outros co-
violentado por um conflito internacional, que tentou mandantes e outros navios estarão prontos a substi-
evitar, por lhe parecer que poderia trazer a ruina ao tui-los e recomeçar a luta. Nesta, se Grau morresse,
seu pais. se o " Huásca!ll perdesse um só combate, o Peru esta-
ria perdido. Mas o almirante está à altura das suas
dramáticas responsabilidades. Durante mais de cinco
Quando a guerra começa (Chile contra o Peru, em meses, manobrando o seu navio com pericia e cora-
1879), Miguel Grau retoma o comando do "Huáscarn gem, converte-se num gigante dos mares. Defende
e, ao despedir-se, rumo à imensidade dos mares, faz superfícies imensas; captura transportes; apresa na-
esta promessa que, como sempre, haveria de cum- vios mercantes; afunda navios de guerra'; corta cabos
prir: Se chegara ocasião, o IIHuáscar» bater-se-á e S8 submarinos; escapa a ciladas; salva náufragos; pro-
algum dia não regressar viton'oso, eu tambem não re- tege e escolta comboios; trava combates com navios
gressarei. que o perseguem ... Faz tudo o que é humanamente
Esta guerra revela ao mundo a formidável perso- possível fazer numa guerra navaL
nalidade do almirante, Se não fosse ele, a derrota do A sua energia não conhece limites. Logo no come-
Peru seria breve, dada a desproporção de forças em ço da luta deu combate aos navios chilenos que blo-
confronto. A ele se deve o que foi chamado o milagre queavam lquique. Ataca o ii Esmeralda» que se bate
de uma guerra naval, prolongada mais de 5 meses, e afunda gloriosamente. e salva os náufragos da tri-
durante os quais, com um pequeno navio, logrou pulação vencida. No dia seguinte apresa o vapor (i Re-
manter em respeito uma esquadra poderosa. cuperado» e horas depois o uGlorindan. No terceiro
A incrível duração desta campanha - disse um dia entra na baía de Antofagasta, trava duelo de arti-
escritor venezuelano - não se explica senão por er- lharia com as baterias de terra e com a corveta iiCova-
ros do contra-almirante chileno e pela inspiração e va- donga» e desaparece incólume no horizonte. No
lentia do comandante do KHuáscarn, génio e herói quarto dia corta o cabo submarino e captura dois na-
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