Page 357 - Revista da Armada
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o mOmmltlllO japonls dt Tal1tgashima dtdica-
do d imroduç6Q da arma dt fogo po,,6Iil. 110sl-
cufo XVI. Com SI/as fardas habiluais. tSlmlan.
ItS daql/tla ilha participam nos fts/tjos da cht-
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Itl1ddria Wakasa.
Um pt/mlio dt arcabll uiros nipónicos (lIo li"ro
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PllflUllltll/fI. TIÍI/II;ol.
xaram traços inapagáveis que ainda hoje estão vivos na DepoiS de outras considerações acrescentava: O gran-
língua e nas tradiçãesdaquele povo do Extremo Oriente. de erro dos ingleses e holandeses, ao longo da SilO história
A seguir o Japão esteve dois séculos fechado para o colonial, foi trazer as sllas mlllheres para o Orienle. Aí co-
exterior, e só em meados do século passado foi de novo meça a barreira e todos os males do racismo.
aberto ao Mundo. Talvez pelo sucesso que tiveram as suas Esse artigo, aqui a propósito, terminava com a seguin-
características gravuras no meio impressionista da pintura te ilação: Como foram mais razodveis ("sensible») os por-
europeia, o Japão entrou então na moda e passou a mere- lIIglleses, a este respeiJo!
cer a atenção de artistas e intelectuais. A nebulosidade Isto parece suficiente para destacar a sabedoria filosó-
que o envolvia foi , porém, afectada pelas narrativas dos fica do título desta nótula e fazer notar que foram os japo-
que tinham o privilégio de o visitar e ter ali relações aci- neses que criaram a lenda de Wakasa, pelo que talvez se
dentais, nomeadamente os marinheiros. Assim se vulga- compreenda que eles gostem da música da ópera «Mada-
rizaram histórias exóticas e românticas que levaram Puc- me Butterny» ... mas não da história que ela conta.
cini a estrear, em 1904, a famosa ópera «Madame Buller- Também, a propósito de dois marinheiros e escritores
fly», que induziu Eduardo Tomé a chamar a atenção para da mesma época - Pierre Lati e Wenceslau de Moraes
o tem~ «outras paixões de diferenteexpoente». - cuja prosa concorreu para formar a lenda da mulher
Aquela ópera, de princípio mal recebida, é hoje uni- japonesa, hoje certamente ultrapassada, afirmámos nesta
versalmente apreciada como uma das mais populares e Revista(") que o primeiro, no livro «Madame Chrysant-
melodiosas partituras do famoso compositor. heme», não gostou do Japão e foi desdenhoso para essa
Todavia, quanto a mim , o libreto dessa ópera é uma mercenária mulher, enquanto o segundo, compl.exo e
mascarada sensual e exótica do Japão do começo do sécu· sensível eremita de Tokushima. deixou uma lenda portu-
lo, cujo epílogo já vi classificar de .. Caca e alguidar" por guesa porque traçou o mais belo dos retratos da mulher
um respeitado musicólogo português. japonesa.
Eu seria capaz de aceitar. niponicamente, que Butter- Concluiremos assim que, quando Portugal deseja e
fly acompanhasse voluntariamente o suicídio do seu precisa de manter boas relações com todos os povos do
amante - o jovem oficial da Marinha americana Pinker- Mundo, não devemos esquecer que, sentimentalmente.
ton - por isso ser então corrente entre os amantes japo- com o Japão, ambos recordamos com interesse os amores
neses. Para mim , porém, com O singular suicídio de But- de Wakasa e de O-Yoné e Ko-Haru, com Mendes Pinto
terfly, os libretistas daquela ópera (1llica e Giacosa) vesti- e com Wenceslau de Moraes.
ram à japonesa uma Ittulhercom sentimentos e preconcei- Que nos contaria hoje a tripulação da «Sagres». de-
tos ocidentais, justificando assim o tema da exposição de pois de regressar de Ósaca?
Eduardo Tomé - «Fernão Mendes Pinto e F. B. Pinker- Constou-me que cinco dos seus marinheiros. depois
ton , duas paixões de diferente expoente". da baixa ao serviço. foram P;1r<1 o Jap;io. Talvez I;i ~c
Eu disse certa vez(') que tinha lido num jornal de Ósa- vcnh;.m a repetir as lendas de Waka~a e de O-Von\!
ca (editado em inglês) um tema dum articulista Blue, tal- c Ko-Haru!
vez embarcadiço inglês, que dizia: Se os marinheiros não
são aquelas almas simples que o mundo imagina ... são
iguais, pois raramente penetram para além daquela franja Virialo Tadeu.
de bares que os grandes porlOS lhes reservam. cap.-frug. EMQ
(') CtnlfO dt Eswdos dt Marinha •• Evocação dt Wtnuslall dt
Morou,. (Mtm6r;as. vol. VII. 1978}. (") N. ~ 1J9/Abril dt8J.
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