Page 381 - Revista da Armada
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constitui  ii glória dos nossos constru-  MluJeira,  possiL1elmel/te  it  volta  tJe   tiu lugar destacado na'históri,1 univer·
         tores navais e marinheiros.        1420.                              sal.
            Desses  navios.  diz  o  veneziano   Verifica-se  assim  que,  passados   Chamamos especialmente a aten-
         Cadall1o.wo  que  bem  os  cOllheceu:   cinco unos sobre o início das expedi-  ç<io  do  leitor  para  dois  pontos  da
         seI/do (IS caravelas lie  Portugal os me-
                                            ções  portuguesas, os  nossos  coman-  maior imporlância:
         lhores I/avios de vela que al/dam sobre
                                            dantes e  pilotos começavam a dar os   -  A  campanha  de  mentalização
         o mar (.,.) julgava impossÍL'el filiO po-  primeiros  passos  para  navegar  por   que teve de razcr para conseguir que
         derem ir fi toda a parle.  Segundo ave-  observações astronómicas. o que per-  as  tripulações dos  navios  se  llventu-
         riguações de Jaime Cortesão as cara-  mitia aperfciçour os métodos e os ins-  rassem  li  ir  mar  fora  para  descobrir
         velas dos Descobrimentos foram cha-  trumentos de expedição.  De tal  for-  novas terras;
         madas, na época, caravelas de deJco-  ma que, em 1481. usando o astrolábio
         brir.                                                                   ~ A exiguidade de  meios fi nan-
                                            náutico.  Diogo de Azambuja atingiu   ceiros  de que  inicialmente  dispunha
            Assim. os portugueses iam j{1  mar
                                            a Mina , como escreveu Manuel Teles   que, mesmo assim.  nào o impediram
         adenlroe, em  14 18,commétodosde   da Silva. marquêsde Alegrete.      de ir para a frente com os planos que
  •      navegação  que  iam  aperfeiçoando,   Todos estes êxitos se devem a esse   concebera.
         chegam já a Porlo Santo!           homem  invulgar que foi o infante  D.
            Dado que a cartografia era ainda   Henrique  de  quem  o  prof.  Damião   Todos sabemos das muitas lendas
         muito  rudimentar,  os  navegadores   Peres diz: Creme, sincero e profundo.   que corriam e ntre as gentes de enti"Lo
         portugueses  iam  tomando  nota  dos   exceleme soldado.  inteligência aberta   sobre os male fícios que cairiam sobre
         pontos notáveis da costa, a fim de po-                               quantos se aventurassem no mar des-
                                            à curiosidade ciemífica. homem práti-
         derem  repelir a  viagem , se  necessá-                              conhecido -  quem for ao Cabo Nâo
                                            co.  mas não mesquinho,  o infame D.
         no.                                flenrique pOSSIIÉI/ em admirável equi-  01/  volrará Ol/não.
            No ano de  1428, o infante  D.  Pe-  líbrio  qlllllidades  que  complelllndo-  Nâo  é  difícil  adivinhar  que,  por
         dro  trouxe  de  Veneza  um  exemplar                                mais aventureiros que fossem, os nos-
                                            -.\:e,  rOl/stimíl'll1/J  lili/a  IJersofllllidade
         do mapa-múndi que linha/ado o /im-  forte; e porque em alto grau teve tam-  sos mareantes n<io se deixassem,  por
         bito da  lerra ... , e que deste padrão se   bém {fllalitlatJes  de organizador, me-  vezes. domin.ar pelo medo ao arrostar
         ajlldou o illfllme D.  Henrique em seus                              com  tempeslades  e  outros  perigos
                                            tótlico e persistel/te,  sabendo ordel/(Ir
         (lescobrimel/tos.  Trouxe-lhe  também                                que punham em dúvida o seu regres-
                                            os problemas e escolher os colabora-
         um  exemplar do livro de Marco Pau-  dores,  D.  Henrique fil/ha o arcaboiço   so.
         lo.                                de um grande estat/is/a - e isso foi-o   A confirmar o que acaba de dizer-
            O dr.  Luís de Albuquerque escre-  gloriosamente.                 -se,  transcrevemos  da  "Cr6nica  dos
         ve: qual/do se estudam, mesmo super-  Muito  embora  saibamos  que  al-  Feitos  Notáveis  Que Se  Passaram  fUI
         ficialmeme  que seja,  os maü antigos   guns  historiadores  ainda  põem  reti-  COI/quiSia De Guiné por Mandado do
         exemplares  da  conhecida cllr/ografia                               Infame D.  Henriqlle»,  algumas passa-
                                            cências  relati'/amente  às  datas  em
         por/uguesa,  nada neles  encontramos   que ocorrer<,;r.1  certos  factos,  pensa-  gens  do  seu  autor  Gomes  Eanes de
         (li não ser a novidade de /lavas costas   mos  pode  elaborar o  Quadro  I  que   Zurara,  mencionando-as  em  ponu-
         apresemadas)  que os tJislillga  da  ClIr-  mostra a sequência dos acontecimen-  guêsactual:
         lografia medirerrállell; ou seja, os seus   tos, tomando como ponto de partida   Como  passaremos o  Cabo  Boja-
         a/llores prolungaram para o A tlâmico   a conquista de Ceuta.        dor -perguntavam os mareallles-se
         a técnica artesallal das carIas de Por/u-                            é aí que o mar acaba, 011 que proveito
         lallO.                                                               pode trazer ao infallte a perdição das
            Parece,  portanto,  em  face  desta   POVOAMENTO.                 nossas almas jumameme com  os cor-
         afirmação,  que  os  portugueses  se   COMÉRCIO,  ETC.               pos.  pois que seremos homicillllS  de
         aproveitaram da cartografia existente                                nós mesmos VislO qlle há doze allos o
         e.  chamando  para  o  seu  serviço  os   Tudo quanto até aqui  referimos.   illfante anda a mal/dar a e!!;.~e Cabo os
         melhores cartógrafos de então,  fize-                                seus I/avios sem IlIl1lca  nenhum o ter
                                            desenrolava-se em simultâneo com a
         ram, baseados em dados colhidos em   acção de povoamento, cristianização.   passado?  E  mais  adiante,  na  versão
         expedições feitas,  nascer uma verda-                                original:  Com grande paciência o in-
                                            comércio,  e tc.  Apontamos  alguns
         deira  cartografia,  como ciência .  Em   exemplos no Quadro II.     fallle  aqueles  que a.uim  enviava por
         1434 o cartógrafo Jaime de  Maiorca                                  capitães de Seus navios, em busca da-
                                              Além  do que consta  neste  mapa
         entrou  para  o  serviço do  infante  D.                             quela  terra não lhes mostrava algum
                                            refere-se  que no  período de  13 anos
         Henrique e em  1459. Frei  Mauro e n-  que vai de 1434 a 1447 foram efectua-  repreendimelllo de sI/a míllgua. antes,
         viou para Portugal um mapa de Áfri-                                  com graciosa  con/inência.  OIIL'ItI seus
                                            das 23 expedições li Guiné envolven-
         ca,  pela  primeira  vez  rodeada  pelo                              lIcon/ecimenlos. fazeI/do-lhes aquelas
                                            do  70  navios  dos seguintes tipos:  63
         mar.                                                                 mercês  que  tinha  cosfllme  fazer  aos
                                            caravelas,  I fusta.  I  barca.  I  barinel
            Outro aspecto  nào menos impor-                                   que o serviam.
                                            e 4 navios não especificados.
         tante  é o  dos  instrumentos  náuticos                                 E, com persistência e com a certe-
         então  utilizados  ~ o  quadrante  e  o                              za  que  tinha  de que ela traria  frutos
         astrolábio.  Segundo  refere  António                                para  bem de  el-rei e  de  Deus, final-
                                            OBRA  DE GIGANTES
         Marques  Esparteiro  as  observações                                 mente,  depois de doze allOs fez  o  il/-
         aSlron6micas do século XV devem ter   Já não restmn dúvidas a ninguém   fame armllr uma barca da qual deu ClI-
         começado com o astrolábio  e o  qua-  que a obra do infante D,  Henrique é   pilaI/ia a um Gil Elllles seu eJwdeiro
         d"mle logo  a  seguir à  descoberta  da   de tal modo grandiosa que lhe gamn-  que  seguindo  a  viagem  dos  outros
                                                                                                            19
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