Page 379 - Revista da Armada
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Que elementos estão ao al-
                cance  de  quem  procure in-
                teirar-se  da  obra  de  um
                Diogo Cão?
             ~ Atende-se  na  dificuldade
                que  existe  em  expurgar  a
                ficção da  realidade, nos re-
                latos de  Marco  Paulo e  de
                Fernão  Mendes  Pinto,  en-
                tre outros,  devido às  teses
                que põem esta em dúvida.

           Por isso, aqui fazemos apelo à Co-
        missão  das Comemorações dos Des-
        cobrimentos  para  que  chame  a  si  a
        publicação da  importantíssima e  nu-
        merosa  documentação  existente  na
        Torre do Tombo,  na  Biblioteca  Na-
        cional, na Casa Cadaval , na Socieda-
        de de Geografia de Lisboa. etc., bem   o infunte D.  Henrique com os seus carlógrafos na Escola de Sagres (figuras tm miniall/ra da alllO-
        como em arquivos estrangeiros, pois   ria  do civil ÁII'aro Geraldo. que foram expostas nus fesl/ls  do Diu da  Ulridadt do Grupo n.~ I dI'
        ela é na quase totalidade desconheci-  Escolas da A rmada-fo/O do cabo FZ E José A reanjo).
        da.
                                           e O vedor da Fazenda Real se planea-  Porto, sua terra natal , a frota que de-
                                           va  secretamente a conquista da cida-  via  recolher  gente  das  comarcas  do
                                           de mourisca de Ceuta, que este acon-  norte, enquanto seu irmão D.  Pedro
        À CONQUISTA DE  CEUTA              selhava, por isso que oferecia oportu-  era incumbido da mesma  missâo nas
                                           nidade  (. .. )  para COI/ferir Ordem de   comarcas do sul.
           Retrocedamos  cinco  séculos  na   Cavalaria  aos  Infantes,  levando  ao   Reunidas as duas frotas no Reste-
        história e imaginemo-nos na Europa   mesmo  tempo a  espada  do  vingador   lo - 242 embarcações, segundo Ma-
        de  quatrocentos,  na  parte  mais  oci-  ao país de seu.~ amigos  conquistado-  teus  Pisa no  ou  212  segundo  Zurita,
        dental  da  qual  existia  um  pequeno   res, e abrindo uma porta ao progresso   levando  embarcados  19000  homens
        país,  pobre de  recursos, mas rico  no   do  Cristianismo.  E/-rei  cedeu  às  ra-  de armas e  1700 de manobra, zarpa-
        valor das suas gçntes. Povo aguerrido   zões  de  seu  ministro  e  ao  desejo  de   ram do Tejo em 23 de Julho, soboco-
        desde  os  alvores  da  nacionalidade,   seus filhos.                mando  do  próprio  rei  D.  João  I.
        pois a tal 'o obrigaram as lutas contra   Esta  versão,  apoiada  pelo  histo-  Eram 63 naus, 27 galés trirremes e 32
        Castela  e contra os Sarracenos, con-  riador Richard H.  Major, é apresen-  birremes  e  120  embarcações  meno-
        quistou palmo a palmo novos territó-  tada de outra forma pelo prof. Verís-  res.
        rios, animado por uma fé  inquebran-  simo Serrão, na sua «História de Por-  Ceuta  foi  conquistada  em  21  de
        tável de  trazer para o reino de  Deus   tugal",:  Desde 1410 que o monarca ti-  Agosto e , no dizer de Francisco Ma-
        os infiéis que neles viviam.       nha  intenção  de  conquistar  Ceuta,   ria Esteves Pereira na sua introdução
           Encurralado  entre  Castela  e  o   pois  segundo  as  suas  próprias  pala-  à «Crónica da  Tomada de Ceuta por
        Atlântico a única possibilidade de ex-  vras Jwuvera cerca de seis anos em este   El-Rei D.  João  I""  de Gomes Eanes
        pansão era  pelo  mar,  ao  tempo  um   trabalho.                    de Zurara, esta é a epopeia da primei-
        desconhecido que  a todos amedron-                                   ra  empresa  dos  portugueses,  além-
        tava. Mascomo?                                                       -mar.  E  Richard  H.  Major escreve:
           Os  meios de navegação eram di-  o PLANO DA  CONQUISTA            Cewa conquistada em um dia,  sendo
        minutos pois ela se praticava somente                                a primeira represália dos cristãos con-
        com terra à vista. Os árabes, os vene-  Foi  apresentado  ao  rei  pelos  in-  tra os mouros é o primeiro passo para
  •     zianos  e os genoveses  afoitavam-se,   fantes  D.  Duarte,  D.  Pedro  e  D.   a exploração de África.
                                           Henrique, a conselho do vedar João
        por vezes, a ir mar afora mas, por fal-
                                                                                Ali  o  infante  D.  Henrique,  que
        Ia  de  meios científicos,  regressavam   Afonso Alenquer. O rei pôs algumas   contava  apenas 21  (II/OS,  foi  armado
        indicando  apenas  que,  rumando  a   objecções à  iniciativa, acabando por   cavaleiro por seu pai,  conjuntamente
        oeste ou  a sul  tinham  avistado terra   afirmar não ter dúvidas que a empre-  com seus irmãos.
        ao longe. Havia já alguma cartografia   sa era serviço de DeliS.
        feita  por  estes  navegadores,  mas  o   Assim,  se  até  aqui  D.  Henrique
        maior contra, e grande, era o desenho   estivera alheio ao que se congemina-  O INFANTE SONHA
        das embarcações existentes, que não   va, sabe-se que, tanto ele como os ir-  OS  DESCOBRIMENTOS
        eram de molde a suportar mar  tem-  mãos, se entusiasmaram com a gran-
        pestuosoe ventos fortes.          deza  do  empreendimento  no  qual    Zurara refere ainda um  ponto da
           De acordo com as crónicas parece   passou  a  colaborar com  afinco.  Em   maior  imporlância  quando  escreve:
        que, desde 1409 segundo uns, ou 141 1   1412, tinha apenas 18 anos, foi encar-  depois  da  tomada  de  Ceuta,  sempre
        segundo outros, entre o rei  D. João I   regado  de  organizar  na  cidade  do   trouxe,  continuadamente  navios  ar-

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