Page 378 - Revista da Armada
P. 378
NOS 500 ANOS DAS DESCOBERTAS
o Infante D. Henrique
e os Descobrimentos Portugueses
aulor deste artigo é /ilho de Mário Sam- Os quartos solitários na ponte dos navios em
payo Ribeiro, que foi durante muitos que embarcou levaram-no a pensar muito nos
O anos funcionário da 6." Repartição da nossos navegadores, na sua coragem, na sua
Direc~'ão-Geral da Contabilidade Pública, que força anímica, no seu espírito de ayentura ...
funciollBl'ajunto do Ministério da Marinha. E, encarnando todas essas qualidades no inf:mte
Desde criança, pela mão de seu pai, frequen- D. Henrique, começou a coleccionar tudo que lhe
tou as instalações da Armada, começando, como aparecia e a ele dizia respeito. Hoje possui valio-
ele pr6prio diz, a admirar a corporação e a inte- sa biblioteca e confessa-se cada vez maior admi-
ressar-se por tudo que lhe dizia respeito. rador dessa notável personalidade da nossa his-
Depois fez o curso de piloto na Escola Náuti- tória.
ca, ao tempo integrada na Marinha de Guerra, Constatando que entre nÓS não é suficiente-
andou embarcado, navegou muito, t, além da mente conhecido, propôs-nos a publicação do ar-
Marinha nasceu nele outra paixão, que foi a do tigo que se segue, o que fazemos com muito gosto.
mar e dos navios. Mais tarde tirou o curso de
engenheiro de máquinas, veio trabalhar para
***
terra, mas trouxe no coração essas paixões.
RECOLHA DE ELEMENTOS modesta, de escritores porlllgueses, sos encontram-se militas vezes provas
mormente daqueles que deixaram 1,,- 011 indicias reveladores de diçõis, for-
gar assinalado '/(/ Iiteratllra nacional, ma.s de flexâo ou cOflJtmçõis, qlle tive-
Está, infelizmente, fora de causa é um problema de UlI maneira esca- ram CInJO na lingua, algumas das
que a grande maioria dos portugueses broso e dificil, que raros sam os que o quais já emão eram arcaicas, e mio
desconhece ou não meditou sobre o chegam a resolver, sem dispenderem chegaram vivas até nós; encontram-se
que foi a epopeia dos Descobrimen- lIisso quanúosas somas. As primeira.ç variames liialetais, partiwlaridades
tos portugueses, pela qual é inteira- edições das obras clássicas sam em ex- de promwc;açào lendências foné/i-
mente responsável o infante D. Hen- tremo raras, e as edições posteriores cas, etc., elc.
rique. sam pela maior parte deploráveis. Tais considerações, nos tempos
Para mais facilmente nos aperce- Tem-se procedülo com os motlw"etl- que atravessamos em que muitos do-
bermos da grandiosidade do empre- lOS literários com rama irreverência cumentos histÓricos respeitantes a in-
endimento a que meteu ombros e como com as velhas pinturas, que formações quatrocentistas e quinhen-
para termos a noção dos feitos que mão enexperiellle se mete a restaurar. tistas (crónicas, cartas, relatos de via-
sob a sua orientação se praticaram. a A ortografia modifica-se. remoça-se a gens, elc.) não se encontram à venda
história dá-nos conta que os portu- capricho, e depois lia or/Ografia chega ou desapareceram dos nossos arqui-
gueses daquele tempo forneceram a vez à morfologia, ao lexico e à sin- vos (embora haja notícia da sua exis·
lamos conhecimelllos à Humanidade, rasse. Quem é que pode assim respon- téncia em bibliotecas estrangeiras)
que a civilização de emão, nalgumas der pela veraciliade do texlo? E mais torna mais que imperioso que se fa-
décadas. deu um sallo de vários séCII- adiante acentua: t erro crassissimo çam novas edições, revistas e comen-
los. admitir que as grafias allligas eram tadas por historiadores de reconheci-
No prefácio da obra ",Crónica do menos legilimas qlle as de hoje, e em da competência e a preço acessível a
Prfl/cipe D. João», de Damião de portamo estamos {lutorizados a emen- todos os estudiosos. E isto porque, li
Góis, o dr. A. J. Gonçalves Guima- dá-Ias e a reformá-Ias a IIOSSO bello cada passo, deparamos com autênti-
rães. tece uma série de considerações prazer. Pelo contrário, o estudo des· cas barreiras, por vezes intransponí-
que pela sua actualidade merecem re- sas grafias, e até dalgl/tls lápsos, que veis, relativas a factos relevantes da
ferência especial. Diz ele a determi- involUllfáriamellle escaparam ao es- nossa história sobre os quais desceu
nada altura: critor 0 11 ao revisor, é interessantissi- um silêncio sepulcral. Citamos. como
Adquirir uma biblio/eca, embora mo e dos mais inslrlllivos. Nestes lap- exemplos os seguintes:
16