Page 231 - Revista da Armada
P. 231

as  fustas  redobraram  os  seus  ataques  tinham começado os seus ataques, dois   séculos  e  despindo-a  dos  aspectos  de
          enehendo-a  de  pelouros  e  de  flechas.   dos  navios  de  aho  bordo  dos  turcos   ordem  emocionaJ  relacionados  com  a
             Os Outros navios portugueses que já  fizeram-se à vela e foram em seguimento   morte de D.  Lourenço,  somos levados
          cslavam  do  lado  de  fora  da  barra,   da nossa armada. (É de presumir que os   a pensar que esta batalha deverá antes ser
          encontrando-se a sotavenlo e na força da  outros  três  o  não  tenham  podido  fazer   considerada como um combate indeciso
          vazante  não  tinham  a  menor  possibili-  por terem as enxárcias  muito danifica-  sob o ponto de vista táctico e uma vitó-
          dade de ir em auxilio de D.  Lourenço.   das pelo fogo da nossa artilharia). Depois   ria dos Portugueses sob o ponto de vista
          As próprias galés, com os remadores já  de tomada a nau de D.  Lourenço, aqueles   estratégico. Na verdade, a nossa annada
          exaustos.  não  conseguiram  vencer  a   dois  navios  safram  a  barra  e  fizeram   conseguiu  levar a  salvamento  as  vinte
          corrente nas tentativas que fizeram para   menção de perseguir os nossos.   naus  de  Cochim que  tinha  por missão
          chegar jumo da capitiinia.           Vendo isso.  Pero Barreto, que fora   comboiar: surpreendida por um inimigo
             Vendo que não havia salvação pos-  o  último  a  suspender.  apesar  de  se   muito mais poderoso numa posição fran-
          sível, os fidalgos insistiram com D. Lou-  encontrar acompanhado apenas por uma   camente  desfavorável ,  conseguiu
          renço de Almeida para que aproveitasse   galé,  mandou  colher as  velas e  ficou  à   escapar· lhe  apenas  com  a  perda  duma
          o  batel  que o  mestre tinha  preparado e   espera dos inimigos, disposto a dar-lhes   nau e mesmo esta, devida a circunstiin·
          se  passase  para  o  outro  navio  donde   combate. Mas a salda para o mar dos tur-  cias  fortuitas:  infligiu  tais  perdas  ao
          pudesse continuar a  dirigir o  combate.   cos não passava duma bravata. Quando   inimigo que o obrigou a regressar à base
          Mas  D.  Lourenço  recusou  terminante-  viram  a  disposição  de  Pero  Barreto,   e  a  desistir dos  objectivos estratégicos
          mente abandonar o  seu  navio e os seus   fundearam à distância e deixaram-no ir   que se  propusera alcançar.
          companheiros  e  continuou  a  animá-los   em  paz.                     Mas.  acima  de  tudo,  o  que  nos
          com o seu exemplo e a sua palavra, até   Pero  Barreto  conseguiu  aJcançar   parece mais importante rea.1çar a respeito
          que  um  pelouro  lhe  levou  parte duma   aJguns  dos  navios  e,  depois  de  ter   da batalha de Chaul é que, depois dela,
          coxa. A esvair-se em sangue, sentou-se   admoestado os seus capitães pela forma   só ficou uma dúvida nos espíritos de Mir-
          junto ao mastro, continuando a incitar os   pouco airosa como tinham abandonado   -Hocem  e  de  Meliqueaz:  QUANDO é
          seus.  Por  fim,  um  pelouro  acertou-lhe   o locaJ da batalha, reorganizou a armada   que seriam  aniquilados!
          em cheio no peito acabando de o matar.   e  seguiu  para Cochim dando protecção
          Lançado ao mar, o seu corpo desapare-  às  naus  dessa  cidade  que  conseguiu
          ceu  para  sempre.                arrebanhar.
             Apesar da morte do seu capitão,  os   Por  alturas  de  Oabul,  juntou-se  à
          fidalgos e soldados continuaram a bater-  armada de Pero Barreto mais uma cara-
          -se  com  o  mesmo  ardor.  Por  quatro   vela  redonda  que  o  vice-rei  mandara
          vezes os homens de Meliqueaz entraram   tardiamente  em  reforço  da  frota  de
          na nau e por quatro vezes foram  repeli-  D.  Lourenço.  Nas  proximidades  do
          dos li lança e li espada. Dos cem homens   Monte Deli juntaram-se-Ihe ainda as três
          da sua guarnição oitenta já tinham sido   naus  dos  capitães  de  Afonso  de
          mortos.  Os  restantes  vinte.  todos  eles   Albuquerque que  haviam  desertado de
          feridos, depois duma resistência deses-  Ormuz. Desejosos de grangear a simpa-
          perada.  renderam-se.  Reza  a  tradição   tia do vice-rei, esses capitães propuseram
          que um  grumete natural  do Porto.  que   a  Pero Barreto voltar a  Chaul  para dar
          tinha  o  seu  posto de combate  num  dos   novo combate  aos  rumes.  Mas  aquele,
          cestos de gávea, aí se conservou durante   sensatamente,  recusou  e.  todos juntos.
          mais um  dia e  meio, depois dos outros   continuaram a  viagem  para  Cochim.
          se  terem  rendido.  atirando  de  vez  em   Na batalha de Chaul, os  portugueses
          quando pedradas cá para  baixo!   perderam  uma  nau  e  tiveram cerca de
             Quando compreenderam o que tinha   cento e cinquenta mortos e outros tantos
          acontecido a D.  Lourenço e à sua guar-  feridos,  aJém  de  lerem  deixado  vinte
          nição.  alguns  dos  capitães  dos  nossos   cativos nas mãos de Meliqueaz que, de
          navios  que  estavam  fundeados  fora  da   resto, os tratou muito bem, recusando-se
          barra entraram em pânico,  com  receio   categoricamente  a  entregá-los  a  Mir-   Satumino Monteiro.
         que os inimigos fossem em sua persegui-  -Hocem. Os inimigos ficaram com mui-                 c .. p.-m.·, .
         ção, e,  picando as  amarras puseram-se   tos dos seus navios gravemente avariados
          vergonhosamente em fuga. Outros. mais   e  tiveram cerca de setecentos mortos e
         animosos,  suspenderam e, independen-  um  número  indeterminado  de  feridos.
         temente.  rumaram  a  sul.         Em resultado do estado em que ficaram   Bibliosrar,..; .~mo e Conqui511t  doi
                                                                              Indu  pdOl  PoITU.tu- de  FemJo  /...opu  de
            Na precipitação da fuga, ou da reti-  as  suas  armadas.  Mir-Hocem  e  Meli-  ~:  o~ de João de &nos: .crd-
         rada,  os capitães que  levavam a  galé e   queaz  decidiram  regressar  a  Diu,  rue:. do Fe/icl5$imo Rd D. M/IlJuel. de DamiIo de
         as duas galeotas turcas a  reboque man-  abandonando  o  grandioso  projecto  de  Gdis: oiJ!ndtu d.a India. de GlISparCorrea:-C'rd-
         daram pôr-lhes fogo e abandonaram-nas.   expulsar os Portugueses  da índia.   nic .. do Descobrimefl/o e Primeif1l5 COnqui5fo15 doi
         Mas tudo isso foi tão mal feito que algu-  A batalha de  Chaul  foi  considerada   IOOia pelos Porru~. de an&úmo; .Pi/ex Charrs
                                                                              of lhe Indian  Ckcin  -  1941- do  Hydro,raphic
         mas  fustas  que  acorreram  não  tiveram   pelos contemporâneos como uma derrota
                                                                              OITiCf!  US  N,vy:  .Calendário  Perpétuo- de
         quaJquer dificuldade em apagar os incên-  dos Portugueses  por nela se terem per-  Fonloora  di CO$fI.
         dios  e  levá-Ias  para  dentro  do  porto.   dido a capitânia e o capitão-mor da nossa
            Logo  que  as  fustas  de  Meliqueaz   armada. Vista l  distiincia de quase cinco   ••••••••••••••••

                                                                                                            13
   226   227   228   229   230   231   232   233   234   235   236