Page 267 - Revista da Armada
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A  Torre de Be16m:  gr8vtU8  do século XVIII existente no Museu Nacional de Arte Antig8.



          A Torre  de Belém






                m dos maiores feitos da nossa história, e até da   existentes no País e  o que, pela sua localização, tem
                humanidade, foi, sem dúvida nenhuma, a des-   dado, desde sempre, as boas-vindas a  quantos a  ela
          U coberta  do  caminho  marítimo  para  a  india,   chegam por mar.
          levada a cabo, em 1498, pelo Grande Almirante Vasco    Conçebida por D. João II, veio a ser construída no
          da Gama. Foi a  consagração do esforço do povo por-  reinado do Rei Venturoso, D. Manuel I, sob a orienta-
          tuguês no mar,  durante mais de um século.          ção do arquitecto Francisco de Arruda, que pertencia
             No dia 8 de Julho de 1497, junto à  praia do Res-  a  uma família de artistas, oriunda de Évora.
          tela,  balançavam as  4  naus  da Armada aparelhada    Começou por trabalhar em obras de arquiteetura
          para a grande aventura. Em terra, muita gente, vinda   militar, no Alentejo, é autor da charola (nicho do altar-
          da cidade e  arredores, apinhava-se na margem para   -mar) do Covento dos Templários, em Tomar,  e  veio
          diz.er  adeus aos  marinheiros, que ninguém sabia se   depois para Lisboa dirigir as  obras do Paço Real da
          voltariam ou não ... Choros e  lágrimas, misturavam-se   Ribeira,  onde esteve 3  anos.  Partiu em 1512 para o
          com as preces de familiares e amigos dos que partiam   norte de África, de onde regressou em 1514 para se
          e,  no meio da multidão, o monarca português D. Ma-  entregar à  construção da sua obra prima, a  Torre de
          nuel I, com voz.  forte e  comovida, despediu-se deles   Balém,  que concluiu em cerca  de  4  anos.  Em  1519
          nestes termos:                                      regressou  a  Évora  onde  viria  a  falecer,  em  1547.
             Ide para o triunfo, amigos meus, e meus heróicos    Em 1521, D. Manuel assinou a nomeação daquele
          marinheiros! Deus e  Pátria sejam sempre o  lema da   que  viria  a  ser  o  primeiro governador  da  Torre  de
          bandeira,  que há-de cedo  tremular pelas plagas  do   Belém, o cavaleiro Gaspar de Paiva, a quem o convento
          Oriente.  Convosco vai a minha alma, e comigo fica a   dos Jerónimos aforou umas terras vizinhas da Torre,
          eterna recordação  do vosso  grande  valor e  modelar   para que ali edificasse um palácio para si e  para os
          heroismo.  (1)                                      governadores que lhe sucedessem. Esse palácio ainda
             E a  Armada zarpou rumo à barra e ao mar, nave-  hoje existe, embora passe despercebida para a  maio-
          gando a todo o pano com vento bonançoso. Para trás   ria das pessoas, na esquina da Rua de Pedrouços com
          ficava a Pátria, a familia, os amigos ... a saudade; para   o  Largo da Princesa.
          a  frente, o  desconhecido,  os temporais,  o  perigo, as   É  curioso  que,  nesse  mesmo  ano  de  1521,  com
          doenças ...  e  a  esperança!                       espanto de toda a gente, as bocas de fogo da fortaleza
             Nesta mesma  praia,  dezoito  anos depois,  sobre   salvaram pela  primeira  vez  no momento em que a
          uma  ilhota  ribeirinha,  foi  construído  o  Baluarte  de   Infanta  D.  Beatriz  embarcou  a  bordo  da  nau  que,
          S. Vicente, vulgannente conhecido por Torre de Belém,   fazendo  parte de  uma  Armada,  a  conduziu  a  Itália
          em memória dos Descobrimentos. Verdadeiro ex-libris   onde se casou com o  Duque de Sabóia.
          da cidade de Lisboa, é um dos mais belos monumentos    No reinado de Filipe  II  a  Torre de Belém esteve

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