Page 299 - Revista da Armada

AO

Pelo v/alm . Silva Braga

XIV-Homem ao mar

(. . .) o gentil e esperançoso vo- . Salta ali no escaler de estibor- deu a vida na flor dos anos, que nin-
luntário Francisco José Carlos, do, marinheiros, larga as fundas, guém lhe levou em conta, deixando
comandando o quarto de alva a desamarra a palamenta, arria as saudosas recordações aos camara·
bordo da charrua «Maia e Cardoso/!, talhas com cuidado, - etc .. das que o estimavam. Se acabasse
estava em cima de uma capoeira no Deram-se as provi dtmcias os seus dias em terra, não em con·
tombadilho para não molhar os pés usuais, porém tardias pela atrapa- sequência de combate, mas apenas
à baldeação. Como é costume, lhação e confusão que reinava, e por moléstia, haveria amigo ofi-
tinham-se levantado os cabos e era de esperar no acto da baldea- cioso que lhe escrevesse a biogra-
dependurado em aduchas nas ção, onde nenhum cabo está safo, fia ou gravasse epitáfio; mas aca-
malaguetas do corrimão da borda e nem no seu lugar, e não tendo bou no mar, não houve uma alma
o braço grande ficara colhido em havido oficial que desse as ordens que lhe comemorasse o préstimo, e
Cima das capoeiras à amurada de oportunas para acudir ao sinistro. só passados trinta e seis anos apa-
barlavento. Veio uma rajada mais O comandante, que mandara arriar receu camarada da arma sabedor
fresca, a volta do braço não estava o escaler e atravessar o navio, man- do facto, que lhe dedicou esta triste
bem socada no punh o. a verga dou tamMm subir gente à gávea da e saudosa lembrança ...
porta pelo cabo, este recorre ou 58 gata para ver se descobriam o
desencapeIa, puxa pelo pandeiro voluntário, a fim de fazer navegar *
de cima da capoeira onde estava o o escaler nessa direcção; mas não
voluntário, faz-lhe perder o equilJ- se descobriu nada pela popa nem (. . .) A IIPrincesa Realll deman-
brio e precipita-o da borda abaixo: pelo través; mandou subir aos vaus dava, pois, os ilhéus Queimados
- Homem ao mar! - gritam os e houve a mesma infelicidade, para tomar Goa, seguindo·se para
marinheiros que baldeavam o tom· tendo então de içar-se o escaler, isso as indicações de Pimentel, por
badilho. sem proveito do pobre voluntário, ser antes da lua de S. Francisco e
-Homem ao mar! - gritam todos que talvez esmorecesse vendo-se porque o tempo ameaçava de cair
os da tolda e do convés. longe do navio, ou foi presa de duro, quando pelO ponto se espe-
Porém, como não havia outro tubarão ou jamanta, ficando 05 rava ter a terra em vista mais hora
oficial de quarto que mandasse marinheiros que saltaram àquele menos hora. Todos os gajeiros e
orçar ou atravessar, o ((Maia e Car- bastante escalavrados e contusos moços das gáveas andavam dos
doso» foi seguindo empavezado pela rapidez com que se arriou e vaus para as encapeladuras dos joa-
com a refrega e o pobre Francisco caiu no mar. Mas o caso foi que o netes, e mesmo para os galopes, à
José Carlos Já ficou pela popa voluntário, rapaz bem gentil e de espreita, a ver qual seria o primeiro
nadando à espera que o fossem sal- muitas esperanças, pois coman- a gritar: - Terra!
var. O comandante Morais, que era dava quarto a bordo de um grande Dos rapazes da gávea de proa,
activo e estava alerta, correu ao jar- barco, como era o IIMaia e Cardosoll, 05 mais ligeiros e folgazões, que
dim a ver o que era e reconheceu benquisto de todos pela sua con- tinham vindo para o cabrestante
o voluntário, corre à tolda, diz ao duta e muita aplicação, estando de ouvir as práticas dos observadores
homem do leme que orce, e mano perfeita saúde e talvez bem alegre da latitude sobre a proximidade de
dou atravessar a gávea; mas de deixar o navio limpo e bem terra, dois amigos e parceiros, gal-
tinham decorrido quatro ou cinco amantilhado e mareado a quem o gam pela enxárcia do traquete
minutos e o voluntário perdera-se rendesse às oito horas, pouco antes acima para subirem aos vaus; por
de vista. de elas tocarem caiu ao mar e per- brinquedo, o que não galgara pri-
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