Page 304 - Revista da Armada
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deslinava-se  a  bloquear  Dabul  cujas
            fustas continuavam a atacar sistematica-
            mente os navios portugueses e dos nossos
            aJiados que passavam ao largo da cidade.                             DABUL-1518
            Para capitào-m6r dessa armada foi esco-
            lhido um fidalgo chamado Cristovão de
            Sousa.
               Navegando  esta  armada  para  a sua
            zona  de  operações,  desgarrou-se  dela
            uma  das  caravelas,  de  que era capitão
            Rui Gomes, que, por ser mais zorreira,
            foi  ficando  para trás.
               À  passagem  pelo  rio  de  Ceitapor,
            demorou-se Cristovão de Sousa cerca de
            dois  dias  para  capturar  uma  "nau  de
            Meca" que  nele se encontrava  a carre-
            gar e que  levou  consigo.
               Ora aconteceu que, em resultado do
            atraso daí resultante e de ter feito cami-
            nho mais pelo largo, onde apanhou vento
            mais forte, a caravela de Rui Gomes che-
            gou primeiro a Dabul  onde  foi  imedia-  ,
            tamente atacada  por grande número de    ,
            fustas daquela cidade.  Prepararam-se os
            nossos para'se dofender usando a anilha-
            ria mas, com tanta infelicidade o fizeram
            que,  ao  ser disparada a primeira salva,
            pegou-se  fogo  à  pólvora  e  a  caravela
            incendiou-se sem remédio e foi ao fundo,
            morrendo toda a sua guarnição, à excep-     'e
            ção duma mulher portuguesa que ia nela        ,
            e que  os  "mouros- calivaram.       ..
               Pouco depois, chegou a Dabul Cris-
            tovão de Sousa. Tendo as  fustas já reti-
            rado para dentro do rio e havendo sobre
            a  barra  deste  um  baluarte  fortemente
            artilhado  que  tornava  a entrada  muito         ; :.
                                                                ,
            arriscada,  nada  mais  pôde fazer do que           ,
            conservar-se diante da cidade  intercep-     ,       ,
                                                                  ,
                                                                  ,
            tando as suas comunicações marítimas.        ••  ,   "
            Porém, ao fim  de  uma semana, sobre-          ,
            veio um violento temporal que o obrigou
                                                           \  ,
            a  abandonar  o  bloqueio  e  a  procurar
                                                            \
            abrigo  numa  enseada  situada  a sul.
               Aconteceu  então que.  durante  uma
            das noites em que ali esteve, passou por
            ele. sem ser vista. uma nau de Cananor,   vela  de Rui  Gomes  e da  nau  de  Cana-  TaJ como acontecia em Marrocos e
            onde ia o escrivão da nossa feitoria com   nor,  mandou  substituir  Cristovão  de   noutros lugares. o dOITÚnio do mar que,
             muita fazenda destinada a Cambaia. Ao  Sousa e deu-lhe ordem para regressar a   incontestavelmente.  exercíamos  no
             largo de Dabul, tendo o lempojá melho-  Cochim.  No entanto, depois de o ouvir   Oceano  Índico,  não  impedia  que  os
             rado,  foi  esta  nau  atacada  pelas  fuSlas   de viva voz, acabou por reconhecer que   navios ligeiros dos nossos inimigos afun-
            daquela cidade que a meteram no fundo   não lhe cabiam culpas  pelo sucedido e   dassem ou  capturassem. de quando em
            com a artilharia. morrendo todos os seus  apresentou-lhe desculpas.   quando,  alguns  navios  de  comércio
             rripulames e perdendo-se toda a fazenda   A verdade é que as fustas de Dabul   nossos ou  dos  nossos aJiados e se atre-
             que levava.  Mais uma vez, ao chegar à  estavam-se tomando numa séria ameaça   vessem  mesmo  a  atacar  os  navios  de
             sua  posição de bloqueio,  Cristovão de  para  os  nossos  interesses  políticos  e   patrulha quando os apanhavam isolados.
             Sousa teve notfcia dum desastre que nada  comerciais na costa  Norte.  E não s6 as
                                                                                                 Saturnino  Monteiro,
             pudera  fazer  para  evitar  e  que  nem  fustas de Dabul.  A partir de  1519, tam-          cap.-m.-g.
             sequer linha possibilidade de vingar, uma  bém as fUSlas de Diu. apesar da paz que   Bibliografia:
                                                                                 . 1fistória elo Descobrimento e Conquisro ela/ndia
             vez que não dispunha de armada capaz  oficialmente exislia entre os portugueses
                                                                                 pelos POrfUglU!ses» de FemlJo Lopes ele ÚJSlwlheda
             de forçar  a emrada  de  Dabul.   e Meliqueaz, atacavam com  frequência
                                                                                 . Décadas_ de Jodo de Barros .. Lendas da /ndia»
                Logo que Diogo Lopes de Sequeira  navios nossos ou dos reis nossos vassalos   de Gaspar Correia  .Crónica do Felicfssiltll)  Rei
            teve conhecimento das  perdas  da cara-  que iam comerciar ao Golfo de Cambaia.   D.  Manuel» de  Dcltllil1Q  de Gois.
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