Page 302 - Revista da Armada
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Batalhas e combates





           da Marinha portuguesa (XXIX)







           MALACA  (Verão/Outono  de  1518)   supor que não se tenham chegado a cons-  Por  tudo  isso,  raramente  havia  em
                                             truir  mais  do  que  duas  galés  e  duas   Malaca.  para  guarnecer a  fortaleza e  a
            Q    uando  Afonso de  Albuquerque.   galeotas ou bergantins. A partir da mor·   armada,  cem  portugueses  válidos!  E
                                             te  de  Albuquerque,  os  portugueses  de
                 em princípios de  1512, regressou
                                                                                mesmo esses,  regra  geral,  sentindo-se
                 à  India.  dej",ou  em  Malaca   Malaca passaram a servir-se, principal-  perdidos no fim do mundo, vivendo uma
           trezentos homens para guarnecer a  for-  mente, de lancharas e calaluzes da terra   vida de ociosidade,  de jogo e  de  luxú-
           taleza  que  acabara  de  construir  e  uma   reforçados,  quando  necessário,  pelos  Iria, andavam constantemente envolvidos
           armada de oito navios com mais duzen-  bateis  das  naus  que  por  ali  passavam.   em disputas e rixas pessoais, descurando
           tos. deslinada a assegurar o domínio do   Mas  o  principal  ponto  fraco  de   completamente  as suas obrigações  nili-
           mar naquela  região.  Além  disso,  levou   Malaca, sob o ponto de vista militar, não   tares.
           consigo um ceno número de carpimeiros   era a falta de navios mas sim a falta de
           malaios para aprenderem em Goa a cons-  gente.  Para isso contribuiam, sobretudo,   Conhecedor desta situação, o rei de
           truir navios à nossa maneira, pois era sua   as doenças endémicas da  região (malá-  Bintão,  em  finais  de  1517,  regressou
           intenção  mandar  fazer  em  Malaca  seis   ria, febre amarela, cólera, etc.) que, alia-  com a sua armada e o seu exército ao rio
           galés,  que  considerava  os  navios  mais   das  ao  clima  excessivamente  quente  e   de  Muar,  construindo  uma  tranqueira
           apropriados para as condições de mar e   húmido e a uma alimentação deficiente,   artilhada  junto  à  foz  e  fortificando  o
           vento ali reinantes. É certo que esses car-  provocavam grande número de mortos.   lugar  de Pago,  situado  algumas  léguas
           pinteiros desapareceram com o junco que   Por  outro  lado,  as  naus  e  juncos  que   mais acima. A partir de então, principiou
           levava em sua companhia e que lhe fugiu   constantemente largavam de Malaca com   a atacar com as suas lancharas e calalu-
           durante a viagem. Mas, com a sua costu-  destino às Molucas, China,  Sião,  Pegú   zes os pescadores e a navegação de Ma-
           mada  pertinácia,  nem  por  isso desistiu   e Bengala, eram um sorvedouro insaciá-  laca que logo começou a ressentir-se da
           do  projecto  e,  logo que teve oportuni-  vel  de fidalgos, soldados e marinheiros   falta de abastecimento. Ao mesmo tem-
           dade, enviou para Malaca um grupo de   que neles se embarcavam na miragem de   po,  fazia, de vez em quando,  incursões
           carpinteiros  de  Goa.  No entanto,  é  de   enriquecer depressa.    contra  a cidade pelo  lado de terra com



                                                              MALACA - 1518


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                                                MALAIA
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