Page 368 - Revista da Armada
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Antologia do Mar
e dos Marinheiros
Carlos Drummond de Andrade
Pelo ctlp.-frag. Crist6 .. õo Moreira .
.,Traz. para os versos do povo esse poeta genial,.
(Do canto do. Mangueira, no desfile do Cama·
\'aI do Rio de Janeiro de /987, em que afamosa
Escola de Samba dedicou seu enredo a Carlos
Drummond de Andrade. poeta jovem de 85 anos).
arlos Orummond de Andrade. Nasceu em ltabira do
MaiO Dentro, Minas Gerais, a 31 de Outubro de
C 1902...
Do homem, disse Gustavo Capanema .que tem uma dig-
nidade interior profunda e irredutfvel, que nas relações com
o mundo, nos afazeres habituais e att nos mínimos actos da
vida quotidiana, é sempre o contrário e oposto a tudo que é
mesquinho e interesseiro, a tudo que pode dar baixeza e
vergonha,..
Do escritor, falou Tristão de Alhayde que .. tanto é mestre o
o
no verso como na prosa,., que «seu poder verbal é incompa-
ráve!>.; e disseram outros muitas coisas assim, de eXlremos
e louvores.
Do homem e do escritor, do Orummond maior poeta con-
temporâneo do Brasil, esqueçamos por nosso lado o detalhe
das notas biográficas e obras publicadas, sigamos antes a pre-
venção de Rachel Queiroz, nessas palavras suas, a abrir um I
dos tantos livros editados sobre o poeta, e dos mais interes-
santes "'(Drummond - A estilística da repetição", de Gilbeno
Mendonça Teles): .. Em vão nos contam que ele nasceu em lta-
bira, já neste leviano começo de século. Que foi integrante
do movimento modernista, que, transladado para o Rio,
dedicou-se ao serviço público, no qual se aposentou como in-
tegrante da equipa de Rodrigo, no Património Histórico. Que,
jornalista profissional, escreve crónicas desde 1945, primei-
ro no Correio da Manhd. agora no Jornal do Brasil.
Que é ou foi sócio de várias associações profissionais de es- Drummond. ~m Oulubroik 1984. por QCaJ/(JQ d~ uma tlllrnUlll lJO .OOrio
dt NO/(das_ (/010 do Stniço d~ Documtlllllç&J do _Didrio d~ NO/(dos_).
critores; que não sente pendores académicos, antes arraiga-
dos despendores; que está traduzido e publicado em quase comum, de calça e paletó. que andam em vefculos públicos
todos os pafses civilizados do Velho e do Novo Mundo. Tudo e podem até comer em restaurantes, e se entregar a vários Mo-
isso contam dele, mas é prudente não acreditar só no que nos mentos Levianos na companhia de amigos; mas num instante
contam. A parte que nos contam são somente as aparências, dado não conseguem conter a pressão do Mistério que tem
e há imensas coisas por trás dessas aparências, muitos misté- a força de uma maré. e deixam que se escapem fragmentos.
rios e arcanos, dos quais os factos aludidos são simples ale- sob a forma de Poemas, mas que na verdade são Amostras
gorias. daquela grande força encoberta pelo Mistério."
Principalmente se oculta por trás do nevoeiro dos factos Carlos Orummond de Andrade e o Mistério Poético que
aquela presença condensada de forças que por comodidade cha- através dele se continua na língua portuguesa. Mesmo apesar
maremos o Mistério Poético. As Entidades Raras que vivem daqueles que julgam a Poesia como coisa passada. Recordo
entre os humanos encarnados e que têm às suas ordens o Mis- o final de uma entrevista que Orummond concedeu à revista
tério Poético, tal um génio familiar, nem sempre confessam .. Manchete,.. eslava o Poeta chegando aos oitenta anos.
os seus Poderes de Mágica. Antes se disfarçam em homem - Você acredita que a poesia morreu, como dizem por ai?
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