Page 370 - Revista da Armada
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s~ todavia  nl10  a  ~nCOfltrar~m   Nada de insil1UilÇlJes quanto d moça casta  De  ,CADEIRA  DE  BALANÇO.
               n~m por isso  d~ixem de  procurar   e que rn'Jo  tinha,  nlJo tinha  namorado.   (crónicas)
               com  obstinaç40  e  confiança  qu~ D~us   Algo de utraordindrio terá  acont~cido.
                              sempre  r~cof1l/H1IS(J   lerremblo.  ch~gada de rei,
               ~ talvez  encontr~m.              as ruas  mudaram  de  runw,     A  DESCOBERTA  DO MAR
               Mae,  viúva  pobr~, nLlo perde  a   para  qu~ demore tamo,  I  noite.
                                    esperança.   Mas  há de  voltar,  espontlJnea   Os alunos  daquela  escola  de  subúrbio
               Úlúa ia  pouco d  eidod~          ou trazida por miJo  ~nigna.    nunca tinham visto o mar.  Solram em ucur-
               e aqui na bairro I onde ~/hor pod~ ser   o olhar desviado e  terno,   silo, de átu·bus. pediram OIJ motorista que des-
                                    pesquisada   conçl1o
                                                                                 se uma volta pela Zona Sul. Viram,ficaram
               Sua  m~lhor  amiga,  depois  da  mIJ~                             deslumbrados.
                                      ~nferma,                                      • Dá  outra  volta! Pára um pouquinho!
               I  Rita  Santana,  costureira,  moça   A  qualqu~r hora do dia ou da  noite   Ndo me contaram onde I a escola; sente-
                                  desimpedida,   quem  a  encontrar avise  a  Rua  SantOS   -se quefica longe, sem esperança. num des-
               a qual rn'Jo  d6  norieia nenhuma,                         Ól~os.   ses inúmeros cafundás do  Rio que rn70  sc20
               limitando-se a  responder:  Nilo  sei.   Naa  tem  lelefone.      o Rio,  e que a gente mal percebe de aviao,
               O qu~ lIi10  d~ixa de ser esquisito.   Tem  uma empregada  velha  que apanha   ponto cill:lento ou pardo na pele da  cidade.
                                                                        o  recado   Ou  quem sabe se a trinta minutos da praia,
               Somem tantas pessoas anualm~nte   e tomará pro~"dências.          porque nlJo I a distlJnda nem a má conse,..u
               numa  eidod~ como  o  Rio  d~ Janeiro                             das estradas que rn'Jo permite a uma parte da
               que  talvez Úlfsa Pano jamais seja   Mos                          popu!açlJ.O  tomar  conheci~nto de  nossas
                                   ~ncontrada.   se acharem que a sane dos pallOS I mais   amenidodes: I a pobrtzlJ.  O custo da COMU-
               Uma  Vtl. ,  em  1898                                   importante   çlJo e do farnel if1l/Hde dfamnia de seis pes-
               ou 9.                             e que nl10  devemos atentar nas dores   soas.  residente no  Rio.  realkar a aventura
               sumiu  o próprio chefe da  po/(cia                     individuais,   deliciosa de passar o domingo no Rio,  sim-
               que safra d  tarde para  uma  volta no   se fecharem  ouvidos a  este apelo de   plesmente saindo de  casa pela monM e re-
                                 largo do Rocio                       campainha,   gressando d  noitinha.
               ~ 011 hoj~.                       nlJo faz.  mal.  insultem  a miJe de  fAlsa,   Quando se fala em /lirismo na Guanaba-
               A  miJe  de Úlfsa.  entlJo jov~m.   virem  a pdgina:              ra, dá IIOntade de propor um turismo paro-
               leu  no Diário Mercamil.          Deus terd  compaixl1o da  ahandofUlda e   quiaI. dominical, para meninos e meninas que
               ficou pasma.                                           da  ausente,   crescem ignorantes da cidade, sonhtuukJ com
               O jornal embrulhado na  memária.   erguerd  a enferma,  e os membros   o mar impossfvel.  NIJo ganhariamos um dá-
               Mal sabia ela que o casamento cuno, a                    perclusos   lar com isso. mas eles voltariam menos p0-
                                       \'iu\'tl.,   já se desatam em forma de busca.   bres  Q  seus  subúrbios  áridos,  e  o  Rio  se
               a  pobrtzlJ,  a paralisia,  o  qu~ix~   Deus lhe dirá:             tomaria um pouco mais humano, com a po-
               seriam.  na  vida,  seu  lote      Vai.                            pulaçilo vinculada ao ~m comum da paisa-
               e que sua única filha,  afável posta que   procura tua filha.  ~ija-a efecha-a para   gem.  Que custa nos tomarmos condáminos
                                     ~strábica,              sempre em  teu  coraçlJo.   do az.ul  e da oruJo?
               s~ diluira um uplicaçlJo.                                            "Pára um pouquinho!. O ónibus precisa
                                                  Ou  talvez  nLlo  seja  preciso  esse fallOr   ~'Oltar. a professora que acompanha os ga-
                                                                          divino.   rOIas sente pena deles. porlm o /n(Ir nLlo se
                                                 A  miJe  de  fAlsa  (somos pecadores)
                Pela última  vez  e em  nome d~ Deus                              carrega no bolso. há que carregá-lo na lem-
                todo-poderoso e cheio de  mis~ricórdia   sabe-se indigna de tamanha graça.   brança.  É como se os garotos,  de  repente,
                procurem a moça, procurem         E resta a espera, que sempre I  um dom.   virassem gregos de  Xenofonte,  gritando:
                essa  que se chama  fAfsa  Pano   Sim,  os extra~"ados um  dia  regressam
                                                  ou  nunca,  ou pode ser,  ou ontem.
                e  I  sem  fUlmorado.                                             «7Jwlassa! 11wlassa!. 00 fim de longa cami-
                                                 E de pensar realizamos.
                Esqueçam a  luta politica.                                        nJuuJa.  Primeiro encontro do menino com o
                ponham d~ lado preocupaçDes   ..   Quer apenas sua filhinha       mar. do mar com o  menino - e nem se c0-
                                     comt'rc,als,   que  numa tarde  remoIa de  Cachoeiro   nheceram de um banhar-se no OUIro, ninguim
                                                 acabou  de nascer e cheira a  leite,
                percam um pouco de  tempo iruJagando                              trouxe calçlJb.  O ~njno apenas esticou o pi
                inquirindo,  r~mexendo.           a  cálica.  a  ldgrima.         na areia húmida, sentiu o arrepio do contac-
                Nilo  se arrep~nderlJo. Nao       Já  nLlo  interessa a  descriç(J.o  do corpo   to. menos qu~ isso; ti espuma tocou no bico
                há grarificaçl10 maior do  que o sorriso   nem eSla.  pert1tNm, fotografia.   do SQ{XJlo, espalhou-se tU leve, o menina em-
                de  mIJ~ ~m f~sla                 disfarces de  realidade mais intensa   palideceu,  coraçlJo  batendo de  conhecer o
                e a paz Intima                    e  que anúncio algum  proverá.   mar, súbita iluminaçl10 entre sua biboca tnste
                consequent~ ds  boas  e  desinteressadas   Cessem pesquisas.  rddios.  calai-vos.   e o marulho tocáve/.
                                        acçtieS.   Calma de flores abrindo           Nt10 fantasio sensaç()es.  Quem nasceu ao
                                                  no canteiro az.ul
                puro orvalho da  alma.                                            pi do mar talvez. Ilda perceba essas coisas.
                                                  onde desabrocham seios e uma fOmIIJ de   O ma, I seu inndo, e ele costuma passar in-
                                                                          virgem   diferente ao longo da praia, como faz.em  ir-
                                                  intacta nos tempos.             mIJos de tanto se luJbituarem d convivência.
                                                  E de sentir compreendemos.
               Nao  me venham  dizer que Lufsa                                    Quantas pessoas vila diariamente do Leblon
                                    suicidou-s~.   Já nlJo  cuJianta procurar     ao centro,  sem olJwr,  e como o urbanismo
               O santo  lume da fI                minha querida filha  Lulsa      vai atemmdo a bafa com método. codd vez
               ardeu sempre em  sua alma          que  enquanto  vagueio  pelas  cinzas  de   reparamos ~nos no que sobrou ou nos lem-
               que penence a  Deus  e a  Teresinha do                     mundo   bramos do que acabou.  Mas  quem  veio do
                                  Menino Jesus.   com inúteis pés pados, enquanto sofro   sertiJQ ou da mara. quem vive lU) subúrbio on-
                Ela nlJo  s~ matou.               e sofrendo me solto e  me  recomponho   de o trem q/a passa ao enlardecer ou de ma-
                Procurem-na.                      e torno a  vi\'er e ando.       drugada  ronvida d  viagem  que ItUllca  será
                Tampouco foi  vftima  de  desaslr~   está  inerte                 feita,  este sobe o que I desejo. operite de mor.
                que a polfcia  ignora             cravada  no  centro da  estrela  invisfvel   Os garotos mitigaram  - por alguns mo-
                e os jornais  nLlo  deram.        Amor.                           mentos - esse desejo.
                Está viva para consolo de uma entrevada                           Fi~~ram a descoberta,  agora slJo  homell:lj·
                e triUl/fo geral do amor mat~mo                (em  "Novos Poemas.;   nhos nostálgicos e  importantes.  que podem
               filial                                                             dizer aos companheiros.  "O mar? É aquela
                e do próximo.                                ***                  coisa infinita. azul.  verd~-arroxeada, que sol-

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