Page 373 - Revista da Armada
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Pelo v/sIm. Silva Braga
XVI-Homem ao Mar
( ... ) Quando vigorava ainda, nes-
tepais, o antigo regime po1Jtico. um
dia, li bordo de uma das nossas cor·
vetas navegando no alto mar, um
bom marinheiro dos que usavam
argolinha na orelha, • a medalha na·
quela época da carreira da fnelis , o
distintivo llonorifico das viagens
além do Cabo, • cometeu uma [alta
digna de correcção. ainda que nilo
demasiadamente grave ...
(. . .) O tempo estava belo, o céu
azuJ ornado de alguns pequenos al-
godões marítimos, e o mar de vaga
curta brandamente agitada por
uma brisa bonançosa de Lesnordes-
te. A corveta navegava de bOlinE
folgada, com gáveas. papa·figos e
joanetes, deitando cinco milhas por
hora. No gozo desta perspectiva
emocionante, prometendo uma via-
gem regular e tranquila, o preso
veio para a tolda e esperou junto ao
cabrestante. Em seguida foi-lhe ar·
denado que despisse li camisola; o
corneteiro apalpou-lhe as costas
apenas cobertas com a camisa; e
feito pelo comandante o relatón'o
sumário do crime, justificando o
castigo, começou este no meio de
um profundo sil~ncio,
O acto de um castigo corporal
era sempre de uma grande tristeza
e sensação a bordo, ainda quandO
aplicado a um malvado e incorrigl·
veI convicto, Agora, porém, o réu
era geralmente estimado, e nesta dolorosas, todos tinham instintiva- mesmo juiz e da mesma lei, antev~
disposição sentimental dos camara· mente a cabeça baixa e os olhos no e espera resjgnadamente a mesma
das pouco ávidos daquelas cenas chão, como quem, sob o império do sorte! Todas as praças da guarnição
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