Page 383 - Revista da Armada
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grandes, com um ou quatro motores, de flutuadores quentes avarias nas máquinas e, sobretudo nos equi-
ou de rodas! pamentos, o que aliás sucedia a todos os seus pares.
Tanto nos navios como nos aviões, fazia manobras Mas como El-Rei mandava marchar ... lá iam safando a
arriscad1ssimas das quais se safa sempre bem, graças rascada, sabe Deus à custa de quantos sacrillcios das
à sua habilidade e ... à muita sorte também! guarnições I
Um dia, com vento forte e mareta dentro do por- E, como refere o comandante Sousa Mendes, na
to, teve uma manobra de amarrar de popa e proa a obra citada, entre 22 de Setembro e 3 de Outubro de
bóias muito complicada, tendo estado o navio em sé- 1955, dando cumprimento ao programa de treino con-
rio risco de encalhar ou bater em pedras. Como de cos- junto das Marinhas dos pafses Nato, tomou parte no
tume, e graças ao empenhamento de toda a guarnição, exercido «CENTERBOARDJI, ao largo da nossa costa,
tudo acabou e sem haver lenha, como nós dizemos em Mar Cantábrico e Mar do Norte, juntamente com o
gíria marinheira. «Vouga» e unidades navais inglesas, francesas e ame-
Depois do toque de volta à faina, o comandante ricanas.
desceu da ponte e, encontrando-se com o imediato que A escolta era de 21 navios e o comboio era repre-
vinha do castelo da proa. donde tinha visto o caso mal sentado por um petroleiro francês. Navegava-se no
parado, disse-lhe já de semblante completamente de- Mar Cantábrico debaixo de forte temporal no dia 30
sanuviado: de Setembro, em ocultação de luzes, quando se ava-
-Então, imediato ... desta vez fama-nos ... tramando! riaram o radar e a girobússula ( ... ).
E o imediato, a gaguejar, não pelo mau bocado vi- Nada mais consta e será apenas isto que passará
vido, mas porque normalmente, e às vezes gaguejava à história na obra q75 Anos no Mar!!. Mas, eu digo o
mesmo, retorquiu de pronto: resto ...
-I. .. i ... amos nãO .. .i .. .ia-se o senhor! A certa altura recebemos ordem do chefe para se-
(comandante, cap.-ten. Paulo Viana; imediato, guir nas águas de uma fragata inglesa, sem nos dize-
1.°-ten. Fernando Soares Branco-1944/46). rem para onde nem para quêl Víamo-nos aflitos para
a ver apenas pelo vulto porque a noite era escura co-
* mo breu. Ainda por cima a fragata ia cheia de pressa,
por razões que nós ignorávamos ... 20 nÓs ... 25 ... 0 qTe-
Agora o comandante do «Tejoll era outro e de esti-
}ali tremia todo dando a impressão que se ia desfazeI!
lo diferente. Muito calmo, verdadeiro gentleman, cos-
Claro, estava-se mesmo a ver. Soaram campainhas
tumava andar sempre de luvas a navegar e, por isso,
de alarme e a máquina parou, desaparecendo a fraga-
os marinheiros, peritos em pôr alcunhas a toda a gen-
te, lhe chamavam o luvas. ta nas trevas.
Só quem andou metido naquelas barafundas que Dez minutos depois, reparada a avaria, recomeçá-
mos a correria a ver se a caçávamos e, enquanto isso,
eram os exerc1cios NATO de escoltas a comboios, com
os galgos já a cair de podres, pode compreender coi- ouvimo-la comunicar a todos os outros navios que ti-
sas que se passavam a bordo, como esta ... nha sido afundada por um submarino. O sinal combi-
Sinais em fonia, ordens em código (tudo em inglês), nado para o efeito, além da comunicação por fonta, era
acender a iluminação exterior do navio.
mudanças de rumo e de cobertura, ocultação de luzes,
E agora, que havemos nós de fazer?
silêncios rádio, aviões, submarinos ... tudo aos tombos
A solução deu-a o próprio comandante mandando
com o balanço ...
acender todas as luzes e comunicando também tinha-
A certa altura o !!Tejo», tresmalhou-se, por avarias
mos ido ao fundo ...
do radar e na girobússula, e andava de um lado para
E assim largámos a escolta, safando airosamente
o outro à procura do seu lugar na escolta.
a rascada, embora sem nenhum submarino nos ter tor-
Era de noite e os outros navios observavam os seus
pedeadol
movimentos, pelo radar, sem os compreenderem. O co-
(comandante, cap.-frag. Virgilio F. Ribeiro -
mandante da escolta, um comodoro inglês, intrigad1s-
1954/56)
simo com o que se estava a passar, mandou fazer para
o «Tejo» o seguinte sinal:
- Não compreendo os seus movimentos. Que ten-
ciona fazer agora?
Rompiam já os primeiros alvores e o comandante,
farto de barafundas e esbodegado e cheio de sono por
ter passado a noite em branco, mandou a seguinte
resposta:
- Também eu nAo. Para já, vou tomar o pequeno
almoço!
Assim humor inglês, foi pago com humor por-
tuguês ...
(comandante, cap.-ten. Duarte Abel Rodrigues
1951154)
M.do Vale,
* clalm.
E como mio há duas sem três ...
O «TejoJl, já com 20 anos bem puxados, tinha fre- **************
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