Page 81 - Revista da Armada
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Antologia do Mar



                                 e dos Marinheiros










         Teixeira de Sousa  Pelo  cap.-l rag.  Cristóvão Moreira
               razemos hoje à nossa galeria,  pela primeira  vez,  um
               escritor  cabo-verdiano,  que  transmite  à  sua  obra  a
         T presença omnipoteme do mar que rodeia essas ilhas,
         agora tomadas país, entre elas a ilha do Fogo, onde Henrique
         Teixeira de Sousa  nasceu  a 6 de  Setembro  de  1919.
            Esrudou em Lisboa, onde se licenciou em Medicina no ano
         de 1945, frequentando depois os cursos do Instituto de Medi-
         cina  Tropical  e  de  Medicina  Sanitária da  Universidade  do
         Porto.  Ingressado nos quadros de saúde do então Ministério
         do Ultramar, é colocado em Timor, sendo depois transferido
         para Cabo Verde: ali exerceu as funções de delegado de saúde
         na  sua  ilha  natal  do  Fogo,  onde  criou  um  hospital  e  uma
         maternidade.
            Em  1955-56, Teixeira de Sousa frequenta  em  Marselha                            (FolO  do  Serviço
         o  2. o  curso de  fannação  de  médicos  nutricionistas  para a                     de  Documenwçllo
                                                                                              do  «Diário
         África ao sul do Sara, estagiando no Hospital Bichat e no Ins-                       de  Notfcios»)
         tituto de Higiene de Paris, tornando-se um especialista reco-
         nhecido  internacionalmente  como  médico  nutricionista,
                                                                   na folha  do papel
         presidindo à Comissão de Nutrição do seu arquipélago e sendo
                                                                   como se fosse
         membro titular da Societé Scientifique d'Hygiene Alimentaire
                                                                   outro poemil  também,
         de Paris, além de continuar a exercer a  medicina  no campo
                                                                   o  tnais nostálgico de  todos ...
         da  sua especialidade.
            Uma  tão  dedicada  e  complexa  actividade  profissional,
                                                                   Pequeno navio que nunca partiu
         apesar  de assim  intensa,  não  foi  impeditiva  da  vocação  de
                                                                   que nunca partirá!
         Teixeira de Sousa  para as  letras.  onde se  revelou em Maio
         de  1978,  com a  publicação de  "Ilhéu  da Comenda_,  depois
                                                                Outros  navios  partem,  contra  mar  e  vemo,  como  nas
         de se ter iniciado em colaborações com revistas caba-verdianas
                                                             páginas desse livro que Teixeira de Sousa dedicou à memória
         que foram decisivas no movimento literário do arquipélago,
                                                             de seu pai,  «à  memória do capitão John,  capitão que  foi  de
         como «Vértice_,  "Claridade..  e  "Certeza_.  No  mesmo  ano,
                                                             veleiro e sabia protestar contra mar e  vento,  e comra quem
         Teixeira de Sousa pública -Contra Mar e Vento_, colectânea
                                                             de direito  for  e  pertencer possa_o
         de contos que abre com o delicioso poema «Navio_,  de Jorge
                                                                De  um  autor  para  quem  a.  temática  do  mar  tem  sido  a
         Barbosa, um dos pioneiros da modema poesia cabo-verdiana:
                                                             obcessão e  fascínio, comum a toda a sua obra de ficcionista,
               Nas longas nomes da  ilha                     a dificuldade de encontrar um trecho adequado para a nossa
               quando  escrevo  os meus  versos              antologia  estava  apenas  na  escolha  -  que  foi  cair  numa
               e  sinto o  rumor do milr                     passagem de «Capitão-de-mar-e-terra_, cuja personagem prin-
               e  do  mundo ao longe,                        cipal é um velho capitão de longo curso que luta, não só contra
               desenho entdo irresistivelmente               a  força  bravia  do  oceano,  mas  também  contra a  passagem
               um pequeno navio                              inexorável  do tempo.

         De «CAPITÃO-DE-MAR-E-TERRA»

           Alfredo de Araújo entrou no Monte Cara   ao capillJozeco, saudou a tripulaçao com um   calada,  olhando para a  gravidade de NM
         com a dignidade que o cargo exigia.  Entrou   "bom dia- muito breve. Nao era preciso mais.   Alfredo Araújo:
         para substituir o fedelho do Mano, que cer-  Apenas aquilo era o suficiente para a todos   - EnU10  vamos para a ponte, Nh 'Alfre-
         lamente iria ocupar agora o  lugar de capi-  Jazer sentir que MO se tratava dum mestre   do? - convidou  Mano.
         MO  em  terra.  rutava  mais  do  que  claro ..   de ilhas e costa,  mas dum  oficial graduado   - Vamos - respondeu secamente o velJw
         Entrou de  cara  amarrada,  estendeu a mIJo   da  mo.rinha  mercante.  Ficou  toda  a  gente   capitao.
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