Page 82 - Revista da Armada
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Mano p{js-s~ alfds d~ ,tlfr~do Araujo, nal'ios precisal'Om de terra p<Jra lastro, nas - Sim, ajuda do mar. E depois. quando
insistindo: liagens de retorno. Pela extensiJo dos cortes chegarmos lá ~m baixo, apanhamos a pro-
- Vamos para a pont~, Nh 'Alfredo. Faz se podia fazer UII10 ideia dos milhlíes de teq"lJo de terra, liramos de bordo e é um ins-
favar, faz faw)r. toneladas acarretadas nos portJes dos lugres, tantinho para a bafa do Tarrafal.
A Ifredo Araújo fico« prontado no meio do galeras. p<Jtachos ao longo de mais d~ meio _ Valha-nos Deus, isto MO é nenhum
con~'Is, como se nada oUl'ira do mestre século. A seguir, era a cidade. a Salina, a navio à l'tla. Para qui tanta volta e relira-
Mano. Capitania dos Portos, a Praia dos Botes. os Imta para ir dum pontO para outro? E nem
- Vamos largar jd - ad"trtiu Mano. quintaltJes de can'iJo. os trilhos das l'Ugone- todos os nal'ios à v~la precisariam dessa
Ao que n"postou o capitlJo de longo curso: tos. a Alfândega, as casas dos ingleses na manobra. Um veleiro bolinador f01. isto a
- Quem del'e ir à frente é l'Oel, que encosta do Fortim. sen 'indo de bordadura, brincar com qualquer l'ento. Homem, um
ainda é o dono da casa. ~ o casario perdendo-se em profundidade até barco com máquinll 000 tem necessidade de
- Ah, nl10 faz mal, Nh 'Alfredo, nl10 Monte Sossego, Ribeira Bote. MarleiraWnJw. andar a bordejar para ir de SiJo Vicente ao
\'Umos agora fazer cerimónia. aos a/tos e baixos. Como essa baralhada de Tarrafal.
- Isto nl10 Ifazer cerimónia. nem sem- instalaçiJes. ediftcios, casas ~ casebres. - A gente es/d acostwnada a fazer assim.
-cerimQnia. Em qualquer navio. quem entra encostas e l'Qles, lhe parecia bela quando - Mal acostumada.
stgue atrós de quem recebe. Isto I uma dos regressal'U de longas viagens. E Francelina - Quando o senhor tomar o comando,
mais elementares regras de etiqueta nóutica. esperando por ele, bonitona, alegre, sabol1O! fará como elllender - disse Mano algo cha-
- Ah. Nh 'Alfredo, nós aqui nl10 l'Qmos Cachorra de niJo sei que diga! teado com a adl'ertência de Nh 'Alfredo.
complicar as coisas. - Nh 'Alfredo. quer um cafezinho? O farol ficara para trás, desfizera-se a
- Nem simplificar demasiado. -NiJo, obrigado, tomei em caso - agra- concavidade da bala, todo o casario se eSli-
- Está bem. está bem, niJo nos I'amos deceu, nllo.sem reparar na fa/hlha mansa (/e rara numa fiada apenas de paredes e telha-
zangar por causa disso. Mono. Essa geme era mesmo assim. PMa nos dos, esfulllaçallos pela distância. Do mO/lle
Mano tomou a diameira. e só entiJo o respeitar, precisam de nos I'er com caro",!. Cara s6se via agora o mali/e, ,mulo morrido
capitllo Alfredo se desellgrudou do convés. Ferro l'irado, começaI/ o Monte Cara a a cara. E a barcaça às cabeçadas com a \'{Jga
Ellquamo ,'iravam o ferro, o \'elho capi- estremecer com o I'ail'ém dos imbolos. Mal/O larga, enquanto rolos de fumo negro subiam
tllo passau a l'ista pelo h~midcfo da mara~'i pegou no megafone e grilOI/ por uma das em diagonal tia chaminé. Os marinheiros
lhoro bafa, desde o MOrTO Branco até à ponta janelinhas: sentaram·se a descansar. Só o timoneiro e
de JoIJo RilNiro, sem omitir o ilhéu dos Pás- - Meia força à I'ante. o homem das máquinas cominuariam ocupa-
saros. prol'idendalmeme colocado à boqui- - Como. O tellgrafo niJo funciol1O? - dos e atentos.
nha do pono para bas~ do farol. Raras bafas perguntOu o capitiJo Alfredo. Há um par de 0I10S que niJo fazia UlI10
conheceu tiJo seguras e bem dimensionadas - Dias há, Nh 'Alfredo. I'iagem, pensou Alfredo Araújo. Outrora,
como a de SiJo Vicente. Pena só que 11120 - Mas a mim ninguém me comI/nicou andal'O Il10is tempo na mar do que tm terra.
~s/il'esse melhor aprol'eitada. Além de w!lei- nada. Depois que se casou com Francelina. fazia
ros, rebocadores, lanchas de can'<'Jo. gaso- - N(1()? Mas eu comuniquei nll guincia, o passIvei e o imposslvel para encurtar as
linas. hal'ia quatro l'Qpor~s ancorados para dias há. ausbrcias. Ela foi muilo desleal. Por pouco
os lados da Galé, zona de grandes fundos. - A mim é que voei dedo ler comu, a surpreendia debaixo do anlOme, do estupor
Eram dois Granges mais outros dois barcos, nicado. lá do &nco, a quem desejal'Q se enchesse de
um nomeguis e um grego, pelos pal'ilhlíes - Eu comuniquei à gerincia p<Jra comu· soma de clJo pelo resto da l'ida. O coffIpadre
que ostentavam. Um dos Granges descarre- nicar ao senhor. Miguel costumava censurá-lo por esse casa-
gal'Q can"lJo. Os Ifis restames recebiam fue\. A/jredoAraújo parou com o assunto. Jd 1111'/110 tiJo al'emuroso. Mas o culpado disso
DaI a alguns anas, deropareceriam os nal'ios nao mlia a pena. Um dia daria a usposta tudo fora ela, Francelil1O, e mais ninguém.
de can'l1o. NiJo era preciso ser bnao para conveniente a tudo isso. Soube lilulamente deitar-lhe o anzol. Ia mui/a
prel'er isso. Mais à esquerda, junto à COl'a O \'Qporinho de água iniciou I'agarosa- \'n.. espairecer-se para o café do Sr. José.
da Inglesa, Id esta\'am os dt'slfQÇos dos bar- mente a marcha para o Tarrafal. O próximo Frallcelilla ajudal'a o pai a servir os clien-
cos brasileiros torpedeados por um subma- comandante colocou a loisla na silhueta do tes. Vai dai, ela começou a engraçar com o
rinoolemllo ell1 1917. Parece que do alto do monte Cara. Sempre se entretel'e, à sarda do imediato do Douro, homel1l.arriJo //loreno
Fortim d 'EI-Rei teriam lobrigado o subma- portO, a l'tr transfomlOr-se o perfil do monte (preto) de farda impecál'el. Sentia-se na ple-
rino atral'és da transparinda da água. com o afastamento do barco. Diziam uns que lIitude da vida, quarenta alias de idade bem
Porém, os artilheiros condurram que se tra- o recorte rochoso se parecia com o presideme lemperados pelo sol do mar. Ela ~'icejal'Q na
tal'Q duma sarda gigome. Ficaram pasmados Washington, outros que lIiJO, que era 101 qual sua \'igé.sima pn·ma~'era. UII10 tarde, 110 seu
a olhar para o bicharoco até que dois estron- a ejfgie de Napoleao BOllaparte. O Monte camarote, de beijo em beijo, aconteceu o
dos soaram no meio do bafa. Os dois brasi- Cara nal"lo foi-s~ assim desembaraçam/o das reslo.
leiros. mascados de café até às escotilhas, embarcaç{Jes ancoradas a esmo, enquanto se Sem graruJu pressas, a barcaça desliUJI'a
foram atingidos em cheio. Nessa altura é que transfigural'a o rosto do presidente americano por ali abauo, aproada para o sul da pomo
resoll'eram abrir fogo no Fortim d 'EI-Rei. ou do imperador froncis, o pomo-de-<JdiJO do Tarrafal, como quis o mestu Mano. com
O submarino raspou-se num santo e amém. aproximando-se da saliênda do queixo. este a corrente e briso defeiçiJo. é certo. Um car-
enquanto os l'Qpores começaram a adornar do nllril., ~s/e último da fronte, até tudo .se dume de peixes nxuious surgiu aos saltos por
sobre um dos bordos. Poro que ao menos a reduzir num só pico, o nlll'io já fora do cimo das \'agas, perseguidos ta/I't!l. por algum
precioso carga niJo se perdesse, os capitiJes meridiano do ilhéu dos Pássoros. /ubariJo. Depois, um cortejo de ,oninhas a
pediram reboque para \'Orar OS cargueiros na - ti \'Qnte toda a força - ~'oltou Mano galope passou a caminho de dguas mais fres-
praia. Assim de fn... 56 que se escolheu mal a gritar p~lo megafone. cas. Toninhas à ~úta é sinal de boas chUIYJJI.
o l'Qradouro. Foi-se para a COI'a da Inglesa - Esta porcaria tem de ser arranjada. Deus queira.
~m \'n.. de, por exemplo. para as areias da Assim. 000. Numa emergincia, é muilO *
Font~ do &rrif. No Com da Inglesa os perigoso ter o ttlégrafo a\'Oriado. Vocljd deu
cascos danificaram-se rapidamente sobre os cama do tempo que a sua 1'01. de comando A meio do canal fe"ou uma chuI'Q que
furuJos rochosos. Recordal'Q-se ainda a chega à casa das m4quinas? logo tomou im"Í$(I'('/ a ilha de SiJo Vicente.
célebre móia de café, passados I'inte anos. - Nao, o que é isso, Nh 'Alfredo? Para allm dum raio de cem metros, nem o
Dizia-se que o Sr. Soml,el Belldlll'id guarda\'O O navio é pequenino, nlJo é nenhum paquete. mar se emergal'Q. Eram bátegas que deban-
airuJa desse café nos seus anl1Ozéns. Aquilo - Pois eu, é a primeira coisa a arranjar gal'(~m sobre o conl'és como se no céu til'esse
foi tirar cafl do fululo do barco sem descanso. quaruJo para cá ller. Até lhe digo mais, ames rebell/otJo algum reserl'Otório de água. Até
Gente de /(X/as as idades IliJO param de mesmo de vir para cd. roncava, aquela chuI'ada calda assim de
Il10lIhiJ à noite. Foi aI que Fula se tomou Longe do morro Bronco, Mano ell/regou repeli/e, sem a cerimónia de costume. Vinha
conhedtlo pelo .seu folego e temeridade. o leme a um marinheiro. ordenando-lhe: ainda muito a tempo. emboTO Agosto eSlivesse
Ao lado dos destrQÇos dos barcos brasi- - Oés-sudoeste. a1;',,/ar. Além disso, era uma chul'a mansa,
leiros. por trás das instalaçlíes tIa Wilson - TanlO para o sul? sem vento, que havia de peneIrar fundo na
&: SOIlS e t/e Miller's &: Cory's, viam-se os - Assim, aproveitamos a ajuda do mar. terra. E, como al'ançara de sudoeste, devia
cortes feitos na falésia. ao tempo em que os - Ajuda do mar? Ora essa! estar a beneficiar lodo o arquipélago. incluin-
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