Page 11 - Revista da Armada
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duas grandes lancharas com as proas e
popas pintadas de dow:ado de que o rei
se servia nas suas deslocações. Tinha-
-lhes o inimigo poslO fogo antes de reti- PACÉM
rar, mas os portugueses conseguiram
apagá-lo a tempo e levaram-nas para 1520
Malaca como troféus.
Seguiu-se o regresso triunfal àquela
cidade com os navios carregados de
valioso despojo, as bombardas e outras 'EGO
armas capluradas, tanto na estacada
como na vila, e um certo número de
cativos.
Depois da derrota sofrida em Pago,
o rei de Bintão viu fugir-lhe muita gente,
cansada e desiludida da guerra, incluindo -~ ..... ,,,y' I
alguns capitães, e não teve outra alter- \~. I sIÃo
nativa senão regressar novamente à ilha \ Bengali I
de Bintão, abandonandp de vez o rio de , I
Muar. , I
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A partir de então, Malaca p de res-
pirar lranquila. O que não quer dizer que \ I INDOCHINA
a guerra com aquele rei tivesse acabado. \
PACÉM (Outono de 1520) \
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Pa~m era um pequeno reino situado I
I
no extremo norte da ilha de Samatra.
A sua importância, na época, derivava I
do facto de nele se produzir pimenta de .... ~,'
muito boa quali- dade e a baixo preço que . "'" ,
era particularmente desejada em Ben- ,
gala, no Pegú, no Sião e na China. Dar ,
que a maior parte dos navios que iam
I
comerciar para essas regiões fossem pri- ,
I
meiro a Pacém carregar pimenta que, ,
depois, utilizavam como moeda para ,
adquirir as mercadorias que nelas se pro-
I
duziam.
I
Cientes da importância económica de
Pa~m. os Portugueses tinham estabele-
cido relações amigáveis com o seu rei
desde o tempo da viagem de Diogo ..... """'" ·1
Lopes de Sequeira a Malaca (1509).
Tinham uma feiloria na cidade e os seus
navios iam lá com frequência. de 1520, enviou Manuel Pacheco com timo o principal factor que permitiu aos
Porém, por volta de 1517, o rei uma nau para o extremo norte da ilha de Portugueses, com os escassos recursos
legítimo de Pacém foi destronado por um Samarra com ordem de bloquear o reino de que dispunham, dominar todo o
aventureiro que, sendo contrário à nossa de Pacém e também o de Achém. que Oriente.
presença ali. mandou matar os vinte e ficava próximo, e cujo rei, sempre hostil Dia após dia, a nau de Manuel Pa-
quatro portugueses que estavam na fei- aos Portugueses, havia caplurado, pouco checo passeava vagarosamente ao largo
lOna e apoderou-se de toda a fazenda que tempo antes, os tripulantes duma nau de Pacém e de Achém impedindo a saída
nela havia. Aliou-se, seguidamente, ao nossa que ali tinha naufragado. ou entrada de qualquer navio nos seus
rei de Bimão e ajudou-o na guerra contra Em relação às cidades que viviam portos. Não tendo possibilidade de com
nós. Encontrando-se Malaca, por essa principalmente do comércio marítimo, as suas lancharas, guarnecidas apenas
altura, em sérias dificuldades. os Portu- como era o caso de Pacém e de Achém, com frecheiros. expulsar a nossa nau,
gueses nada puderam fazer para castigar o bloqueio marítimo era a arma ideal fonemenlc anilhada, os reis daquelas
a traição do novo senhor de Pa~m . Mas. pois que, sem sacrifícios e com pouca duas cidades começaram a sentir os
depois da vilória alcançada em Pago con- despesa, as obrigava a submeterem-se à inconvenientes de ter os Portugueses por
tra o rei de Bintão, a situação modificou- nossa von- tade, sob pena de se arruina- inimigos.
-se. Encontrando-se Malaca próspera e rem não o fazendo. De reSIO, foi a arma Certo dia, tornando-se necessário
segura. Garcia de Sá, em fins de Agosto silenciosa mas eficaz do bloqueio marí- fazer aguada. Manuel Pacheco mandou
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