Page 369 - Revista da Armada
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Batalhas e combates





            da Marinha portuguesa (XLII)





            PORTO DE  PÃO
            (Junho a  Setembro de  1523)

               É costume dizer-se que uma desgra-                              PORTO  DE  PÃO
            ça nunca vem só.  De faclo. assim acon-
            teceu  em  Malaca.  no  ano  de  1523.            ~                         1523
                                                               •
               O rei  do Achém.  inimigo declarado            '.
            dos  ponugueses  desde  o  seu  apareci-
            mento no  Sueste  Asiático.  sabedor das
            dificuldades em que se encontrava aquela
            cidade por causa da  guerra que o rei de
            8intiio  lhe  movia.  decidiu  aproveitar  a
            ocasião para se apoderar da fortaleza que
            tínhamos  construído  cm  Pacém.  em
            1521 . No ano de  1522. pôs-lhe um pri-
            meiro cerco que a sua guarnição conse·
            guiu  repelir com a ajuda da armada de
            Manim Afonso de  Melo Coutinho que
            rcfress3v3 da  China.  Em  fins  de Abril
            do  ano  seguinte  (1523).  voltou  com
            forças mais numerosas e cercou de novo
            a nossa fonaleza. Mas os defensores con-
            seguiram. mais uma vez, rechaçar as ten-
            tativas  de  assalto  levadas  a  cabo  pelos                                              ,
            sitiantes.  Apesar disso. quando em fins                                                 .' ,
            de Maio passou por ali a aonada de Bas-
            tião  de  Sousa.  que  ia  a  caminho  das
            Molucas e que ajudou a suster o úllimo
            assalto dos achéns, o capitão da fortaleza
            D.  André  Henriques.  depois de ouvida
            a opinião dos principais fidalgos presen-
            te~, decidiu abandoná-Ia com o pretexto
            de  que  a  sua  eonservação  se  lornava
            muito dispendiosa e que pouca utilidade
            tinha.  É possível que para esta decisão
            tenha  concorrido  a  notícia  levada  pela
            armada  de  Bastião  de  Sousa  de  que
            D.  Manuel  linha  falecido  e  que  o  seu                                                       ,
            sucessor, D. João lU, estava interessado
            em  reduzir ao mínimo as  fonalezas  da
            índia.
               Seja como for,  o  que é certo é  que
            a  saída da  fortaleza  se  fez  duma foona
            precipitada.  deixando-a  praticamente
            intacta,  por  não  terem  rebentado  as
            minas destinadas à sua demolição, e com
            a maior parte da artilharia. que não pôde
            ser transportada paro a armada por causa   Malaea  sob  o  ponto  de  vista  político-  crescer.  ia-se  tomando cada  vez  mais
            do seu peso e por a retirada ter sido feita   -militar.  uma  vez que o  rei  do  Achém   ambicioso, alimentando  a esperança de
            sob  pressão do  inimigo.         animado pela sarda dos portugueses, se   um  dia vir a ser rei  de toda a ilha e po-
               O abandono da  fortaleza  de  Parém.   apoderou  imediatamente  dos  reinos  de   der conquistar Malaca. A partir daí.  fi-
            embora. possivelmente, justificável por   Pedir. de Pacém e de OUlros, IOmando-se   cou eSla cidade entalada entre a guerra
            razõcs de ordem económica,  veio a ler,   senhor de  toda a parte  Norte da ilha  de   que lhe  fazia,  oSlensiva ou encapotada-
            a longo prazo. graves consequéncias para   Samatra. E. à medida que via o seu poder   mente, o rei do Aehém a partir do Nor-

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