Page 370 - Revista da Armada
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te e a guerra permanente e declarada que   maravilhas com  as suas espadas e  lan-  coberto  de  nuvens  de  flechas  que  as
         lhe fazia o rei de Bintão a panir do Sul.   ças matando e ferindo grande número de   lancharas  que  estavam  mais  afastadas
            Este, pela sua pane, não se limitava   inimigos.                  lançavam contra os portugueses, as guar-
         a combater  os  ponugueses com  meios   Porém, como estes eram muitos, logo   nições das que tinham aferrado começa-
         militares.  Recorrendo  à  diplomacia, já   que um caía ou retirava ferido. era ime-  ram  a subir por todos os lados.  Defen-
         conseguira  que  fossem  expulsos  da   diatemente substitufdo por outro. E nesta   diam-se  furiosamente  os ponugueses à
         China.  E,  pelu  mesma  via ,  ia  conse-  luta  sem  fim  foram  os  nossos  consu-  lança  e  à  espada,  procurando  impedir
         guindo paulatinamente atrair para o seu   mindo as suas forças, tombando um após   que os inimigos pusessem pé no convés.
         campo a  maior pane dos  reis da penín-  outro.  até  que  só  restou  um  irmão  de   Mas. como estes eram muitos. quando
         sula Malaia, do que resultavam dificul-  André de Brito.  moço de pone  atlético   uns eram obrigados a retirar. logo outros
         dades  crescentes para  o  abastecimento   que jogando um  pesado montante a am-  os substituíam.  Porfiando sempre. sem
         regular de  Malaca.                bas as mãos conseguiu, por duas vezes.   desfalecer, diversos grupos de soldados
            Em princfpios de 1523, foram os reis   sozinho, limpar a nau de inimigos! Por   de Bintão e de Pão conseguiram fixar-se
         de  Patane e de Pão que se aliaram com   fim,  faltaram-lhe  as forças e, para  não   no  convés  do  galeão.  começando  os
         o rei de Bimão na guerra COntra os por-  ser capturado. atirou-se ao mar armado   ponugueses a  ficar em riscos de serem
         tugueses, O segundo daqueles depois de   como estava,  morrendo afogado,   envolvidos.  Vendo isso. D. Sancho Hen-
         ler casado com  uma filha  deste último.   A terceira vítima do traiçoeiro rei de   riques deu ordem de retirar para o cas-
            Mas  o  casamento  foi  mantido  em   Pào foi  o próprio capitão-mor do mar de   telo da  popa onde treze  dos nossos que
         segredo para que os nossos  n~vios con-  Malaca,  D.  Sancho  Henriques.  Depois   lá conseguiram chegar se continuaram a
         tinuassem, como antigamente. a frequen-  da  chegada àquela cidade da guarnição   defender com redobrada energia. As per-
         tar  o  pono de  Pão  e  pudessem  ser ar   evacuada da  fortaleza  de Pacém. Jorge   das entre os atacantes eram terríveis. O
         capturados. confonne efectivamente veio   de Albuquerque, sentindo-se mais seguro   mar estava coberto de sangue; pelo con-
         a  acontecer.                      e desejoso de castigar o rei de Patane por   vés do galeão, os monos eram aos mon-
            Possivelmente em Junho ou Julho de   se  ter aliado  ao  rei  de  Bintão,  mandou   tões;  numerosos  feridos  e  estropiados
          1523.  regressava  António  de  Pina  a   D. Sancho blCKJucar aquela ckiade duran-  davam gritos lancinantes.  Mas, mesmo
         Malaca com mais três portugueses, num   te  alguns  meses.  Levou  este  consigo,   assim, os "mouros_ não desistiam. Ven-
         junco com que tinham ido mercadejar a   além do seu galeão, onde iriam embar-  do que lhes seria muito difícil dominar
         Java, quando. devido ao mau tempo. foi   cados trinta portugueses, o junco armado   à armu branca os ponugueses entrinchei-
         forçado a arribar ao pono de Pão. Como   de Ambrósio do Rego com outros tantos.   rados  no  castelo da  popa,  mudaram de
         habitualmente  acontecia  com  todos  os   De  regresso  desta  missão.  foi  a   táctica e começaram a alvejá-los com fle-
         navios ponugueses que lá iam. foi mui!O   armada de  D. Sancho Henriques assal-  chas  lançadas  a cuna  distância.
         bem  acolhido.  prontificando-se o  rei  a   tada por um fone temporal que separou   Por fim.  estando já todos eles muito
         fornecer-lhe lUdo quanto precisasse para   os  dois  navios.  Ambrósio  do  Rego.   feridos  e  incapazes  de  se  defender.
         prosseguir viagem.  Porém. nessa mesma   seguindo avante.  foi-se  abrigar  na  ilha   deram os  ~mouros" um último assalto e
         noite. enquanto os portugueses donniam   de Singapura;  D. Sancho refugiou-se no   mataram-nos  a  todos.  em  desforço  da
         confiados.  mandou  sete  lancharas  bem   porto de Pão. Ar chegado. repetiram-se   grande quantidade  de  baixas  que' lhes
         guarnecidas contra  o junco que o  afer-  as demonstrações de amizade do rei que,   tjnham causado.
         raram de  improviso ao  romper do dia.   logo que soube da chegada do capitão-  Na verdade. esta vitória de Laquexi-
         Embora apanhados completamente des-  -mar  português,  o  mandou  obsequiar   mena  foi  uma  vitória  *à  Pirro" já  que
         prevenidos,  defenderam-se  os  quatro   com  um  presente  constiturdo  por  algu-  para tomar um galeão tinha perdido mais
         portugueses valentemente contra a mul-  mas  vacas e  outros  mantimentos.   de  uma  dezena  de  lancharas  e.  sobre-
         tidão de inimigos que os envolvia  mas,   Por azar, para D. Sancho Henriques,   tudo, porque para malar trinta ponugue-
         como seria de esperar. ao fim  de pouco   no dia anterior  tinha chegado ao  portO   ses, ele e o seu aliado de Pão pcrderam
         tempo foram desarmados e feitos prisio-  de Pão  Laqueximena com  uma armada   para  cima de  quinhentos  homens.  Por
         neiros. Apressou-se o rei de Pão a enviá-  de trinta  lancharas.  Porém. como estas   isso.  depois de  ter ret irado a  anilharia
         -los ao rei de Bintão que, depois de ter   estavam metidas bem para dentro do rio.   do galeão português. Laqueximena man-
         tentado  sem  sucesso  convertê-los  ao   D.  Sancho  não deu  pela  sua  presença.   dou  lançar-lhe  fogo  e.  seguidamente.
         islamismo. OS mandou amarrar à boca de   Durante a noite juntaram-se as trinta   recolheu com a  sua armada destroçada
         bombardas  c  despedaçar  a  tiro.   lancharas de  Laqueximena  com  outras   a Bintão onde, apesar disso, é natural que
            Em  Julho  ou  Agosto,  foi  a  vez  de   tantas do rei de Pão e cercaram por com-  tenhu  sido muito  festejado pelo  rei.
         arribar  ao  porto  de  Pão.  para  fazer   pleto o galeão ponuguês.  Ao outrO dia   Só depois da  chegada de  Ambrósio
         aguada e  meter mantimentos. André de   de  manhã.  mal  começou  a  clarear.  a   do  Rego  a  Malaca.  possivelmente  em
         Brito  que  regressava  do  Sião  numa   allTUlda inimiga investiu em massa contra   Outubro de  1523, é que naquela cidade
         pequena  nfiU  com  doze  ponugueses.   ele.  disparando a anilharia,  tocando os   se veio a saber du aliança do rei de Pão
         Mais uma vez foi recebido com grandes   seus  instrumentos  bélicos  e  fazendo.   com o de Bintão e do que acontecera aos
         demonstruções  de  amizade  pelo  rei  de   como  de  costume.  enorme  algazarra.   navios  de  António  de  Pina.  André de
         Pão  mas.  tal  como  acontecera  com   Surpreendidos por tão inesperado ataque.   Brito e D.  Sancho Henriques.  Perdido o
         António  de  Pina,  ao  romper  do  dia   correram  os portugueses às  bombardas   galeão.  que  era  o  principal  navio  da
         seguinte, viu-se subitamente aferrado por   e,  com  us  poucas  salvas  que  puderam   annada de Malaca. e vendo-se ameaçado
         vinte lancharas. começando os "mouros"   disparar. ainda conseguiram afundar ou   pclo rei do Achém a norte e pelo rei de
         fi subir à nnu como formigas.  Mais uma   destroçar completamente doze a quinze   Bintão a sul , cujas forças e ousadia cres-
         vez teve lugar um combate desesperado   lancharas. antes que as restantes pudes-  ciam de dia para dia, Jorge de Albuquer-
         em  que  os  doze  ponugueses  fizeram   sem chegar  junto  do  galeão.  Emão,  a   que,  logo que começou a  "monção" da

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